Que tal fazer uma viagem na históra das principais figuras da arte e intelectualidade afro-brasileira? Tradicionalmente em nosso país, muitos dos intelectuais e artistas negros que tiveram papel relevante na cena artística e ativista não chegaram ao conhecimento do grande público por conta do apagamento. Hoje, algumas iniciativas surgem com a intenção de apresentar a memória do nosso povo por meio de exposições na capital paulista.
Em 2019, o projeto Negrestudo realizou um mapeamento do mercado de galerias de artes: dos 619 nomes de expositores coletados, em 24 galerias do estado, apenas 46 não eram brancos e, destes, 27 eram negros e um, indígena.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
“Fazer uma exposição sempre foi uma vontade que eu lia como imatura. Porque elas existiam no campo das ideias, mas eu não via formas de concretizar. Só os textos que era mais o meu habitat e que eu tinha expectativa deles serem expostos em obras literárias. Mas, ainda assim, tudo o que eu pintei e escrevi não tinham como destino uma exposição, que sempre foram relacionados ao meu íntimo”, conta a Giulia Modupe Ebohon, autora da exposição “Todos os silêncios ao meu pai”.
Neste ano, São Paulo conseguiu reunir uma série de exposições espalhadas pela cidade, além de mostras virtuais de cinema negro, teatro e audiovisuais. Confira a lista destas mostras que evidenciam produções de artistas e as trajetórias de intelectuais negros:
Todos os silêncios ao meu pai – Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá
A exposição “Todos os silêncios ao meu pai”, que está em cartaz desde o dia 11 de setembro, com entrada gratuita, no Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá, zona sul de São Paulo, é um conjunto de obras da artista multidisciplinar Giulia Modupe Ebohon, formada em Comunicação Visual com ênfase jornalismo, pela faculdade Cásper Líbero.
“O nome ‘Todos os silêncios ao meu pai’ veio de uma reflexão que eu tive após uma conversa com a minha mãe sobre meu pai, que era nigeriano. Ele faleceu quando eu era muito nova. Mas minha mãe sempre falou que me pareço com ele, que era arquiteto, e escrevia cartas de amor. No silêncio a memória dele se fazia presente em mim. E a ele eu dedico esse silêncio, a minha ancestralidade. E esse legado que eu tenho que se conecta a Nigéria”, conta Giulia.
O conjunto de pinturas e poesias criadas pela artista partem de sua perspectiva de ancestralidade. A exposição tem por objetivo revelar memórias silenciosas e proporcionar ao público um exercício de resgate daquilo que se imprime da identidade preta.
Ocupação Sueli Carneiro – Itaú Cultural
Intelectual e ativista do movimento negro, Sueli Carneiro, aos 71 anos, ganha uma exposição sobre sua obra e trajetória, que teve início em 28 de agosto e poderá ser conferida pelo público até o dia 31 de outubro, no espaço Itaú Cultural, com entrada gratuita.
Sueli Carneiro é doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e um dos grandes nomes do feminismo negro brasileiro, marcado por seu pensamento filosófico e acadêmico. A celebração de sua biografia é contada na 52ª exposição da série “Ocupação”, do programa permanente do Itaú Cultural que estimula diálogos entre gerações de criadores e intelectuais brasileiros. A mostra conta com cerca de 140 peças, entre fotografias, vídeos, livros, artigos e objetos pessoais da intelectual.
“Todos os textos da Sueli Carneiro tem um propósito. Ela tem uma agenda a defender, um tema a pautar e uma briga a comprar”, relata Bianca Santana, biógrafa e curadora da exposição, no teaser da Ocupação Sueli Carneiro.
Enciclopédia Negra – Pinacoteca
Em cartaz, a mostra “Enciclopédia Negra” está disponível até novembro, na Pinacoteca de São Paulo, com entrada gratuita. Recentemente ganhou um tour virtual, que o público confere no site do museu. A visita online, segundo a curadoria, é uma resposta aos protocolos da pandemia da Covid-19, mas também uma forma de expandir a programação nacionalmente e para fora do país.
Presencialmente, o público confere a exposição que é fruto do livro “Enciclopédia Negra”de Flávio dos Santos Gomes, Lilia M. Schwarcz e Jaime Lauriano, publicado em março deste ano pela Companhia das Letras. O livro retrata personalidades negras que são pouco conhecidas ou totalmente desconhecidas, e que foram retratadas por 36 artistas contemporâneos – esses originais compõem a exposição e foram doados ao museu.
Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros – Instituto Moreira Salles
A exposição “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiro” terá abertura em 25 de setembro, no Instituto Moreira Salles, e apresenta a vida, obra e legado da escritora negra.
A mostra é resultado de uma pesquisa de mais de dois anos e reúne um material de cerca de 300 itens, entre eles manuscritos, fotografias, materiais da imprensa, vídeos e outros documentos. Além disso, haverá obras de outros artistas que dialogam com a autora de ‘Quarto de despejo’.
Expo da Consciência Negra – Sambódromo do Anhembi
A mostra pretende recuperar a trajetória afro-brasileira a partir de uma narrativa em que a população negra seja a protagonista e que tenha foco nas suas lutas por emancipação e equidade. A abertura acontece em 19 de novembro para convidados, 20 e 21 para o público, e dia 22 para visitações escolares, no Pavilhão 10 do Sambódromo do Anhembi.
A exposição organizada pela Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo com execução da SPTuris, faz parte do projeto São Paulo Farol de Combate ao Racismo Estrutural, da Secretaria Municipal de Educação, que visa combater o racismo a partir da primeira infância.
Leia também: Mostra ‘Viva Palavra’ inaugura novo espaço para exposições do Museu da Língua Portuguesa