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Festa Literária das Periferias completa 10 anos com programação híbrida

Evento acontece até dia 8 de novembro e possui diversas atividades no formato presencial e virtual; em sua 10° edição, a Flup homenageia Esperança Garcia, mulher negra escravizada considerada a primeira advogada do Piauí

Texto: Fernanda Rosário | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Marcelle Tauchen/ Flup

Apresentação de Slam na Festa Literária das Periferias.

2 de novembro de 2021

A Festa Literária das Periferias (Flup) começou no último sábado (30) e segue até o dia 8 de novembro. O evento é internacional e tem como principal característica acontecer em territórios fora dos grandes centros da cidade do Rio de Janeiro e em lugares tradicionalmente excluídos de programas literários. Com 10 anos de existência, a Flup deste ano traz uma programação híbrida, com atividades presenciais e virtuais.

Em sua 10° edição, a Festa homenageia a poesia falada e a Esperança Garcia, mulher negra escravizada considerada a primeira advogada do Piauí. Além disso, o feminismo negro e a formação de novos autores são outros pontos prestigiados pela Flup e propostos para os diálogos deste ano.

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O curador e um dos idealizadores da Flup, Julio Ludemir, explica que Esperança Garcia foi escolhida como homenageada deste ano por sua contribuição como porta-voz das mulheres que, ao escrever uma carta em 1770, uma das primeiras de direito da história, denunciou a violência do meio em que vivia.

“Esse é o primeiro texto escrito por uma mulher negra de que se tem registro na história do Brasil, de uma mulher que o tempo inteiro falava de direitos coletivos. Nessa celebração dos 10 anos, nós estamos nos voltando para aquilo que consideramos nosso grande legado e nossa grande conquista e, qualquer que seja o nome que a gente venha a utilizar para traduzir isso, passa pelo feminismo negro. Dialogar com o feminismo negro tem a ver com a nossa história”, explica o curador.

Programação

Até o dia 8 de novembro estará disponível, gratuitamente e virtualmente, 11 debates inéditos gravados e distribuídos nas Tendas Virtuais Diálogos Transatlânticos e Palavra Falada. Nomes como Boaventura de Sousa Santos, Djamila Ribeiro, Emicida, Kaê Guajajara e Roberta Estrela D’Alva são alguns dos participantes das mesas de discussão.

Três slams, competições de poesias faladas, também foram programados para esta edição e estão sendo transmitidas virtualmente. O Slam Coalkan, o primeiro slam indígena do mundo, aconteceu no último sábado (30) e domingo (31), no Morro da Babilônia no Rio de Janeiro, e pode ser assistido no Youtube da Flup.

Entre os dias 5, 6 e 7 de novembro, acontece, também no Morro da Babilônia, o Slam Abya Yala, termo que significa ‘Terra madura’ na língua do povo Kuna e hoje é utilizado como contraponto à América. Com alguns ingressos disponíveis para o evento presencial, o Slam Abya Yala reúne poetas campeões de batalhas realizadas em países das Américas para a disputa das cinco vagas do continente para o slam mundial em 2022 na Bélgica.

“O Brasil tende a olhar sempre para o lado de fora, sempre para o que está do outro lado do oceano, quando eu estou muito mais perto do Chile, da Argentina, da Guatemala, da Colômbia. A gente está propondo um diálogo com essa América, com esse Abya Yala”, explica Ludemir.

Já o Slam Esperança, fruto de um processo formativo com jovens do ensino médio de escolas públicas de setes estados do Brasil, será no dia 8 de novembro na Exposição Enciclopédia Negra, na Pinacoteca em São Paulo.

“A palavra falada é a grande potência das periferias. O slam, o samba, o rap, a conversa das mulheres na cozinha de casa. São essas narrativas, essa oralidade que permite que toda essa cultura de resistência e resiliência seja passada de uma geração a outra”, pontua o curador.

Além dessas atividades, a Festa conta com Ocupações Poéticas que acontecem também no Morro da Babilônia.

Criação da Flup

A Festa Literária das Periferias foi idealizada pelo poeta carioca Ecio Salles e pelo escritor pernambucano Julio Ludemir em 2012, como contraponto a eventos literários feitos nos grandes centros e sem a presença de pessoas negras e também das periferias e favelas. Na trajetória de 10 anos, conquistou prêmios como o Retratos da Leitura de 2016 e o Prêmio Jabuti 2020 na categoria Fomento à Leitura.

A Flup tem como diferencial a proposta de oferecer formação contínua ao longo do ano, estimulando a formação de novos leitores e autores nas periferias das grandes cidades brasileiras. Os processos de formação também geram a publicação de livros. Até hoje, a iniciativa já foi responsável pela publicação de 22 obras, como ‘Carolinas: a nova geração de escritoras negras brasileiras’, que reuniu textos de 180 mulheres negras. Também estão sendo preparados mais outros dois. Um apenas com poetas indígenas e outro chamado ‘Cartas para Esperança’, dedicado à Esperança Garcia e que reunirá cartas de mulheres negras para outras mulheres negras que a inspiraram.

“Quando a gente dá formação, a gente está sempre pensando em ter um produto. Não basta saber escrever, você tem que publicar, tem que ter um produto. Tudo que a gente faz tem um produto. Esses livros tem que ser publicados e serem apresentados à mídia”, explica Ludemir.

Serviço

A Flup é apresentada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e pela Secretaria Municipal de Cultura. Para saber mais sobre as atividades e a programação do evento, acompanhe a Festa Literária das Periferias em seu site e em suas redes sociais.

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