O 2º Encontro de Estudantes Negras e Negros da União Estadual dos Estudantes (UEE) ocorreu em Araras, interior de São Paulo. A luta por moradia e comida dignas também foram assuntos abordados nos três dias de encontro
Texto / Thalyta Martins
Imagem / Thalyta Martins
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O 2º Encontro de Estudantes Negras e Negros da União Estadual dos Estudantes (UEE) ocorreu no Sítio Quilombo Anastácia, que está dentro de um assentamento conhecido como Araras 3, localizado na cidade do mesmo nome no interior de São Paulo. O evento foi organizado pela Diretoria de Combate ao Racismo da UEE-SP e pelo Ilê Axé de Iansã e contou com a participação de mais de 125 estudantes secundaristas e universitários que estiveram presentes do dia 18 ao dia 20 de maio.
Os estudantes compartilharam em mesas, debates, almoços, cafés da manhã e jantares as suas lutas em comum, suas conquistas e expectativas para tornar o cenário político, econômico e a academia melhores a longo prazo para os nossos.
“A construção coletiva do encontro, o local em que este fora realizado e as atividades culturais criaram um importante clima de reconexão e de reconstrução dos símbolos e narrativas da nossas histórias nessas terras.”, diz o documento final do encontro.
Sexta-feira
O Quilombo começou a receber os estudantes que vinham em caravanas nos ônibus, nas vans e nos carros. Estudantes de Campinas, Sorocaba, Osasco, Santa Bárbara d’Oeste, São Paulo, Araçatuba, Rio Claro, Marília, entre outros municípios foram recebidos com boas vindas que incluía sorrisos, axé e comida.
Sábado
O dia começou com a ida dos estudantes para o local armado que aconteceriam as mesas, as reuniões e o samba.
Antes da abertura oficial, um vento movimentou as barracas que estavam a céu aberto. Teve chuva em seguida. “É Iansã balançando a saia!”, explicou o Pai da casa, Tata Kejessy, que nos recebeu oficialmente com a Mãe Doné Rosa de Oyá, que fez uma oração na abertura do encontro logo depois de tudo organizado no Barracão.
A primeira mesa foi ‘Negras e Negros na Construção do Projeto de Brasil’, contando com a participação do Pejigan Rafael Pinto e Danilo Morais, representante regional da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).
Eles falaram sobre política e sobre o povo negro intensificar as ações para representar a maioria que somos no país.
“Temos que contestar formulações dominantes, inclusive dentro da esquerda!”, disse Danilo.
O Pejigan Rafael apontou avanços: “Na minha época, éramos tendência nos Movimentos Estudantis. Hoje vocês têm coletivos. Veja o que vocês estão fazendo! Na minha época estudantes negros cabiam em uma kombi”, disse emocionado. Ele também ressaltou a importância do encontro estar acontecendo no que ele chamou de “nossa casa”.
Durante a tarde tiveram painéis simultâneos com diversos convidados. Os temas foram: Cultura, Comunicação e Resistência Negra, com o DJ, ator-MC e pesquisador da cultura afro-diaspórica, Eugênio Lima e com a jornalista e ativista dos direitos humanos com foco em raça e gênero, Juliana Gonçalves; Desafios para acesso e permanência no Ensino Superior com a doutora Priscila Elisabete da Uniararas e Flávio Franco da Associação Nacional de Pós Graduandos (ANPG); Racismo Religioso com o fotógrafo Roger Cipó e o Pejigan Rafael Pinto, com mediação da artista visual Andrea Mendes, do Instituto Baobá de Cultura e Arte (IBAÔ).
O debate sobre mulheres negras aconteceu com a presença da coordenadora de juventude da União Brasileira de Mulheres (UBM) na União da Juventude Socialista (UJS) e diretora de Jovens Feministas da UJS, Maria das Neves, e Priscila Santos, graduada em história e psicologia, também especialista em problemas do desenvolvimento da infância e Adolescência e membro do Laboratório Psicanálise e Sociedade do Departamento da Psicologia Clínica do IP-USP, entre outras funções.
Outra discussão foi “Negrxs LGBT’s” que contou com a presença de Leonardo Lima, estudante de Direito e Secretario Geral da União Nacional LGBT. Lazaro Souza da Associação Brasileira das Estudantes de Psicologia (Abep) e Aline Paixão conversaram com os estudantes na mesa sobre saúde da população negra. E o Tata Kejessy e Mateus Nunes discutiram sobre trabalho e as relações raciais com os presentes.
Em seguida o professor de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Federal de São Paulo, Deivison Nkosi, deu uma palestra sobre a ação e o perfil político do autor de obras clássicas como “Peles Negras, Máscaras Brancas” e “Os Condenados da Terra”, e lançou o seu livro “Frantz Fanon – Um Revolucionário Particularmente Negro”, pela editora Ciclo Contínuo.
O encerramento do dia foi feito pelo grupo Samba do Pé Vermêio e pelo Terreirão do Samba.
Domingo
O último dia teve uma roda de conversa e apresentação de cada um dos presentes no encontro. Em seguida, depois do almoço, a deputada estadual Leci Brandão fez um discurso sobre cotas, ocupação dos espaços públicos de poder e o fim do racismo para os jovens.
“Nós temos aqui uma juventude cheia de coragem, força e esperança que vai fazer a verdadeira reparação”, afirmou.
Marcos Paulo, diretor de combate ao racismo da UEE SP, leu o documento final do encontro, que fez um apanhado do que aconteceu e apontou os próximos passos possíveis, entre eles organizar uma rede estadual de estudantes negros e grupos de estudos, mapear as iniciativas de pretos e pretas ao redor do Estado de São Paulo, coletar os dados de evasão de negras e negros em nossas universidades, construir coletivos, combater trotes racistas e estar presente nos meios e grupos de pesquisa.
Para encerrar o encontro teve apresentação cultural com a poeta Kimani e a cantora Bia Ferreira. Leci Brandão fechou oficialmente cantando seus sucessos.