O diálogo com a oralidade e os cânticos para Exu ao som enérgico do atabaque trazem para o centro da cena a ancestralidade. O espetáculo “Quilombo MemORÍa”, com últimas apresentações neste fim de semana, conta o reencontro entre uma avó, que sofre de Alzheimer, e o neto, que decide tirá-la do isolamento durante a pandemia de Covid-19 e a leva para morar com ele para resgatar suas memórias.
O projeto, contemplado pela 16ª Edição do Prêmio Zé Renato, da Secretaria Municipal de Cultura, no ano passado, conta com texto do ator e dramaturgo André Santos, que também faz parte do elenco ao lado da também atriz, cantora e roteirista Miriam Limma. A direção fica por conta do premiado ator Eduardo Silva.
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As últimas apresentações da segunda temporada da peça ocorrem no Teatro Arthur Azevedo, na Sala Multiuso, localizado à Avenida Paes de Barros, n° 955, no bairro Alto da Mooca, na Zona Leste de São Paulo, na sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h. A apresentação com recurso de acessibilidade ocorre no dia 27, nesta sexta-feira. Os ingressos são gratuitos com retirada uma hora antes do início do espetáculo na bilheteria.
“Cada ancião é uma biblioteca […] toda existência é para ser lembrada, tudo o que me afeta é memoriar”, dizem os atores em cena. A arte dramática trata essencialmente da ancestralidade a partir da oralidade, um dos pilares da cultura africana, instrumento usado por milhares de anos pelos povos do continente africano para transmissão de saberes.
O ator e dramaturgo André Santos, de 44 anos, afirma que acredita no poder da ancestralidade, não com o olhar preso no passado, mas no sentido de resgatar os ensinamentos de seus antepassados.
“Como ator é um desafio. Quando você escreve, você tem muitas ideias. Como eu entreguei o texto na mão do Eduardo Silva, o qual é o maior ator brasileiro, o mais premiado ator brasileiro, que está dirigindo o espetáculo. Para ele dirigir, o desafio é você fazer a peça que ele está criando, não a que você escreveu”, pondera.
Preservação da cultura e memória
No contexto da diáspora africana, a oralidade assumiu um papel ainda mais fundamental na preservação da memória e da cultura. Em “Quilombo MemORÍa”, a oralidade é utilizada para contar a história de um grupo de quilombolas que vivem em um futuro distópico.
O quilombo é um espaço no qual a memória segue mantida viva por meio de histórias, canções e danças. No espetáculo, ela ganha representação de uma entidade ancestral que aparece aos quilombolas em sonhos e visões. A entidade os guia em uma jornada para resgatar a memória do quilombo e de seus ancestrais.
A dramaturgia é escrita, dirigida e interpretada por atores negros com o intuito de criar uma narrativa fantástica com elementos do movimento afrofuturista. O projeto também conta com a participação de artistas negros em outras funções criativas.
O espetáculo revisita a importância da ancestralidade e da oralidade na cultura afro-brasileira. Por meio de uma narrativa fantástica, o espetáculo resgata a memória de um povo, que foi silenciado e oprimido ao longo da história.
O projeto ainda conta com a codireção de Ananza Macedo, cenografia de Flávio Serafin, figurinos e acessórios de Érica Ribeiro, iluminação de Ricardo Bueno, direção musical de Stela Nesrine, trilha sonora e composições de Stela Nesrine.
Além disso, assina a coreografia de Betho Pacheco, com fotografia de João Caldas Filho, projeto gráfico de Alexandre Ignácio Alves e Ronaldo Lemos, direção de produção de Sonia Kavantan, produção executiva de Tiago Barizon e a assistência de produção de Conrado Sardinha.
Serviço
Espetáculo: Quilombo MemORÍa
Local: Teatro Arthur Azevedo, na Sala Multiuso, localizado à Avenida Paes de Barros, n 955, no bairro Alto da Mooca, São Paulo – SP
Dias: 27, 28 e 29 de outubro
Sexta e sábado, às 20h, e domingo às 18h
Apresentação com intérprete de LIBRAS no dia 27
Ingressos: Entrada gratuita, retirada do ingresso na bilheteria uma hora antes da peça; estacionamento sujeito a lotação