Promovido pela Rede Jornalistas das Periferias, evento acontece no dia 16 de setembro e debate jornalismo do ponto de vista das periferias; inscrições gratuitas podem ser feitas pela internet até o fim de agosto
Texto e imagem / Divulgação
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Quais as saídas para a questão da população em situação de rua? Movimentos por moradia fazem invasão ou ocupação? É melhor abrir mais corredores de ônibus e ciclovias ou “acelerar” a velocidade nas marginais? O direito à cidade está em pauta cotidianamente nos meios de comunicação. Mas a forma como esses veículos cobrem a cidade contribuem para a transformação e resolução desses problemas?
Essas e outras questões serão abordadas na primeira edição da Virada Comunicação, que tem como objetivo debater, refletir e apontar caminhos para a abordagem de temáticas do cotidiano de quem mora nas bordas da metrópole. Promovido pela Rede Jornalistas das Periferias, o encontro é voltado a estudantes e profissionais da comunicação, ativistas e movimentos sociais, moradoras e moradores das periferias da Grande São Paulo. Com mais de 10 horas de atividades, a Virada Comunicação acontece dia 16 de setembro no Centro Cultural Grajaú (Extremo Sul de São Paulo) e mescla oficinas de comunicação, intervenções culturais e mesas com a participação de 34 convidadas e convidados. As inscrições são gratuitas (saiba mais no link ao final do texto).
Assegurado pela Constituição de 1988 e referendado pelo Estatuto da Cidade, o direito à cidade garante a todo indivíduo que possa usufruir da estrutura e dos espaços urbanos de sua localidade de forma igualitária. Em junho de 2013, quando o Movimento Passe Livre (MPL) saiu às ruas contra o aumento das passagens de ônibus e pela tarifa zero no transporte público, o pano de fundo da reivindicação principal o acesso a tudo que a cidade pode oferecer. “Não é só por 0,20 centavos”, bradavam manifestantes.
A Virada Comunicação acontece em uma região que simboliza os diferentes aspectos dessa discussão. Localizado em área de mananciais e preservação ambiental, o Grajaú passou a ser ocupado desde os anos 1960 e viu a população triplicar entre 1980 e 2010. De 23ª maior população da cidade em 1980 (com 117 mil moradores) para o primeiro lugar em 2010 (com 360 mil).
Em 2014, São Paulo somava 1.668 favelas. Brasilândia (94 favelas), Capão Redondo e Cidade Ademar (86 cada), Jardim Angela (84), Jardim São Luís (75) e Grajaú (74) abrigam o maior número absoluto de aglomerados subnormais, segundo Listagem de Favelas do Município de São Paulo da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab).
A mesa de debates “Moradia e Meio Ambiente” receberá pessoas que discutem as duas questões para apontar caminhos para a cobertura desses temas, que são complementares mas geralmente tratados de forma isolada pela mídia. “Em geral os meio de comunicação não conseguem traduzir de forma clara e direta informações sobre as conexões entre os dois temas. Os veículos precisam estudar para pautar de forma responsável a falta de moradia que incide em degradação ambiental, principalmente nas margens da cidade”, explica Mariana Belmont, jornalista e integrante do coletivo Imargem, que faz parte da Rede Jornalistas das Periferias.
Entre 1974 e 1977, de um total de 130,2 km2 de crescimento da mancha urbana metropolitana de São Paulo, 34 km2 se deram em áreas de mananciais, correspondendo a 26% do crescimento total. Essa participação ultrapassa a metade no período de 1985 a 1990, alcançando 51%, ou 73,6 km2 em áreas de manancial, de um total de 145,4 km2 da região metropolitana.
À medida em que o crescimento populacional se estabiliza na cidade, as margens continuam se expandindo. Mais ao Sul do Grajaú e com maior parte do território sob proteção ambiental, o distrito de Parelheiros registra um avanço populacional ainda mais acentuado que o Grajaú. De 1980, quando o distrito possuía 31.711 habitantes, chegou a 131.183 habitantes em 2010. As projeções demográficas do próprio IBGE e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) preveem que, no período de 2010 a 2040, a população do município de São Paulo deve aumentar 13,3% e atingir 12.757.203 habitantes, enquanto Parelheiros deve manter a média histórica da última década e registrar um incremento demográfico de 75%, totalizando 230.104 habitantes ao término do período.
“O nosso papel é fazer a conexão entre o déficit habitacional na cidade, o risco de moradias em áreas de risco geológicos, que causam impacto em um número alto de famílias e a degradação ambiental, responsável pela produção de água e ar para a cidade”, aponta Mariana. A jornalista chama atenção para o componente ambiental que existente na exclusão social, ocasionado pela falta de investimento público que implica em saneamento deficiente, drenagem inexistente, dificuldade de abastecimento doméstico, difícil acesso aos serviços de saúde, entre outros pontos.
Um dos reflexos gritantes desse descompasso é o transporte público precário. Diariamente, são registradas em média 13,5 milhões de viagens pelos ônibus, trens e metrô na Grande São Paulo. Os Em 2016, segundo pesquisa do Ibope, os paulistanos gastavam em média 2h01 em deslocamentos (ida e volta) para realizar suas atividades principais (como trabalhar ou estudar, por exemplo).
Por isso, a mesa de debates “Transporte e Desenvolvimento Local” vai relacionar as intersecções entre o sistema de mobilidade urbana com o acesso a bens e serviços pelas periferias. Para o articulador e educador Alex Barcellos, da Agência Solano Trindade, esse índice poderia ser menor se as pessoas pudessem fazer essas atividades no mesmo bairro onde moram. Iniciativa de moradores do Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, a Agência Solano Trindade potencializa empreendimentos sociais e culturais periféricos na lógica da economia solidária.
“O jornalismo e comunicação audiovisual para a periferia são muito importantes para potencializar nossas ações territoriais, porque temos uma dificuldade para conversar até com nosso vizinho”, aponta Barcellos. “A partir do momento em que a gente consegue mudar essa narrativa, a gente começa a dar sentido político para essas discussões, sobre o porquê dos investimentos públicos não chegarem até aqui”.
Sobre a Rede de Jornalistas das Periferias
Formada por comunicadoras, comunicadores e coletivos que atuam a partir das bordas da Grande São Paulo, a Rede Jornalistas das Periferias tem como objetivo promover e disseminar a informação produzida pelas e para as quebradas. Enquanto movimento, acredita na potência e importância de que essas vozes sejam protagonistas também no conteúdo jornalístico sobre essas regiões da cidade, constituídas historicamente em condições sociais de desigualdade de raça, classe e gênero que se reproduzem, inclusive, no ambiente profissional da comunicação.
Sobre a Virada Comunicação 2017
A Virada Comunicação é realizada com apoio das instituições Ford Foundation, Fundação Tide Setúbal e Instituto Alana, e idealizada e organizada por 13 coletivos integrantes da Rede: Alma Preta, Capão News, Casa no Meio do Mundo, Desenrola E Não Me Enrola, DiCampana Foto Coletivo, DoLadoDeCá, Historiorama: Conteúdo & Experiência, Imargem, Mural – Agência de Jornalismo das Periferias, Nós, Mulheres da Periferia, Periferia em Movimento, Periferia Invisível e TV Grajaú.
Serviço
Virada Comunicação
Quando? Sábado, 16 de setembro de 2017, das 09h às 22h
Onde? No Centro Cultural do Grajaú – Rua Professor Oscar Barreto Filho, 252 – Grajaú – Extremo Sul de São Paulo
Para quem? Estudantes, pesquisadores e profissionais da comunicação; ativistas e movimentos sociais; moradoras e moradores das periferias de São Paulo
Como participar? Limite de 500 vagas com critérios de participação. Inscrições gratuitas clicando aqui.
Acesse o evento no Facebook aqui.