Em 2022, a cada 24 horas, quatro pessoas foram mortas pela polícia na Bahia, tendo os jovens negros como maiores vítimas dessa estatística. É o que revela os dados do boletim “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, da Rede de Observatórios, lançado nesta quinta-feira (16).
De acordo com os dados, o total de mortos pela letalidade policial no estado chegou a 1.465, sendo que 94,76% das vítimas eram negras – grupo composto por pretos e pardos, conforme critério estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um recorte por idade, 74,21% das vítimas tinham entre 18 a 29 anos.
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Só nos últimos cinco anos, a letalidade policial na Bahia cresceu 300%, sendo o estado que possui a polícia estadual mais letal dentre as monitoradas pela Rede, que são: Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
Segundo a articuladora nacional da Rede de Observatórios e pesquisadora, Bruna Sotero, um dos fatores associados ao aumento expressivo da violência na Bahia está vinculado a uma agenda racista sem perspectiva de mudança nesse tipo de atuação por parte da segurança pública do Estado.
“Essas mortes não causam prejuízo apenas à população, mas também aos próprios agentes que incitam cada vez mais a violência no Estado. É urgente pensar em ações que garantam segurança para toda a população”, destaca Bruna em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
A cada quatro horas, uma pessoa negra morta
Ainda conforme o boletim “Pele Alvo”, elaborado com dados obtidos junto às secretarias estaduais de segurança pública através da Lei de Acesso à Informação (LAI), a cada quatro horas uma pessoa negra foi morta pela polícia em 2022.
Considerando os dados oficiais disponíveis, 87,35% dos mortos pela polícia em 2022 eram pessoas negras. No ano passado, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro no número de casos registrados nos estados incluídos no estudo. Juntos, os dois estados foram responsáveis por 66,23% do total dos óbitos.
Bruna Sotero ressalta que os números podem ser maiores devido à subnotificação dos casos pelo Estado e pela falta de registro de dados sobre cor e raça das vítimas.
Pará tem mais mortos do que São Paulo
Na nova edição, o levantamento apresenta, pela primeira vez, estatísticas da segurança pública no estado do Pará. Ao todo, foram contabilizadas 631 mortes pela letalidade policial, dado maior do que o registrado em São Paulo, que possui uma população quase cinco vezes maior do que o Pará.
Em relação à raça/cor das vítimas, essa informação não consta em 66,24% dos casos. Quando há essa informação, 93,90% das vítimas eram pessoas negras e jovens, já que 66,87% tinham entre 18 e 29 anos.
O Pará é o primeiro estado da região Norte a fazer parte da Rede de Observatórios e já se encontra como o terceiro estado com maior número de mortos pela polícia. A articuladora nacional da Rede explica que o alto número de mortes no estado tem como principal motivação a cultura de retaliação, ou seja, o cometimento de mortes por vingança.
“Uma das explicações para esse alto número de mortes é a vingança, uma dinâmica conhecida no campo da segurança pública: quando um agente é vitimado, as forças de segurança locais dão respostas quase que imediatas, em geral com ações de extrema violência”, afirma Bruna.
Escassez de dados sobre raça/cor
A falta de informações sobre a raça/cor das vítimas também é um dos pontos críticos abordados no boletim. Pelo terceiro ano consecutivo, o Maranhão não forneceu os dados.
De acordo com a pesquisa, o estado não faz a coleta sobre raça/cor e apesar das tentativas de ocultação por parte da secretaria de segurança, as informações monitoradas nos meios de comunicação revelam que a faixa etária dos mortos pela letalidade da polícia no Maranhão é, em sua maioria, jovens de 18 a 29 anos (59,78%).
Do total de casos monitorados (92), 12 não tinham informações de idade e a maioria das vítimas eram homens.
À reportagem, Bruna Sotero destaca ainda que a ausência de dados dificulta a análise dos grupos que são vítimas da letalidade policial nos territórios. Para ela, uma das soluções possíveis para reverter esse cenário é a adoção de transparência por parte do Estado.
“O que vemos ano após ano é que os números seguem crescendo, mas não acompanhamos um refinamento dos dados fornecidos pelo Estado, mesmo assim, sabemos que quem continua morrendo têm o mesmo perfil: corpos de jovens negros continuam sendo matáveis em todo país”, completa.