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A cada 24 horas, quatro pessoas são mortas pela polícia na Bahia

Dados de boletim da Rede de Observatórios revelam que em 2022 a Bahia liderou o número de pessoas negras vítimas da letalidade policial; levantamento indica ainda que Pará tem mais mortos do que São Paulo
Imagem mostra parte da farde de PMs ao lado de viatura da Polícia do Estado da Bahia.

Polícia da Bahia matou 831 pessoas somente no primeiro semestre

— Rafaela Araújo

17 de novembro de 2023

Em 2022, a cada 24 horas, quatro pessoas foram mortas pela polícia na Bahia, tendo os jovens negros como maiores vítimas dessa estatística. É o que revela os dados do boletim “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, da Rede de Observatórios, lançado nesta quinta-feira (16).

De acordo com os dados, o total de mortos pela letalidade policial no estado chegou a 1.465, sendo que 94,76% das vítimas eram negras – grupo composto por pretos e pardos, conforme critério estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um recorte por idade, 74,21% das vítimas tinham entre 18 a 29 anos.

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Só nos últimos cinco anos, a letalidade policial na Bahia cresceu 300%, sendo o estado que possui a polícia estadual mais letal dentre as monitoradas pela Rede, que são: Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.

Segundo a articuladora nacional da Rede de Observatórios e pesquisadora, Bruna Sotero, um dos fatores associados ao aumento expressivo da violência na Bahia está vinculado a uma agenda racista sem perspectiva de mudança nesse tipo de atuação por parte da segurança pública do Estado.

“Essas mortes não causam prejuízo apenas à população, mas também aos próprios agentes que incitam cada vez mais a violência no Estado. É urgente pensar em ações que garantam segurança para toda a população”, destaca Bruna em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

A cada quatro horas, uma pessoa negra morta

Ainda conforme o boletim “Pele Alvo”, elaborado com dados obtidos junto às secretarias estaduais de segurança pública através da Lei de Acesso à Informação (LAI), a cada quatro horas uma pessoa negra foi morta pela polícia em 2022.

Considerando os dados oficiais disponíveis, 87,35% dos mortos pela polícia em 2022 eram pessoas negras. No ano passado, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro no número de casos registrados nos estados incluídos no estudo. Juntos, os dois estados foram responsáveis por 66,23% do total dos óbitos.

Bruna Sotero ressalta que os números podem ser maiores devido à subnotificação dos casos pelo Estado e pela falta de registro de dados sobre cor e raça das vítimas.

Imagem mostra a silhueta de um corpo desenhada no chão
Segundo boletim, 87,35% dos mortos pela polícia em 2022 eram pessoas negras. Foto: Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil

Pará tem mais mortos do que São Paulo

Na nova edição, o levantamento apresenta, pela primeira vez, estatísticas da segurança pública no estado do Pará. Ao todo, foram contabilizadas 631 mortes pela letalidade policial, dado maior do que o registrado em São Paulo, que possui uma população quase cinco vezes maior do que o Pará.

Em relação à raça/cor das vítimas, essa informação não consta em 66,24% dos casos. Quando há essa informação, 93,90% das vítimas eram pessoas negras e jovens, já que 66,87% tinham entre 18 e 29 anos.

O Pará é o primeiro estado da região Norte a fazer parte da Rede de Observatórios e já se encontra como o terceiro estado com maior número de mortos pela polícia. A articuladora nacional da Rede explica que o alto número de mortes no estado tem como principal motivação a cultura de retaliação, ou seja, o cometimento de mortes por vingança.

“Uma das explicações para esse alto número de mortes é a vingança, uma dinâmica conhecida no campo da segurança pública: quando um agente é vitimado, as forças de segurança locais dão respostas quase que imediatas, em geral com ações de extrema violência”, afirma Bruna.

Escassez de dados sobre raça/cor

A falta de informações sobre a raça/cor das vítimas também é um dos pontos críticos abordados no boletim. Pelo terceiro ano consecutivo, o Maranhão não forneceu os dados.

De acordo com a pesquisa, o estado não faz a coleta sobre raça/cor e apesar das tentativas de ocultação por parte da secretaria de segurança, as informações monitoradas nos meios de comunicação revelam que a faixa etária dos mortos pela letalidade da polícia no Maranhão é, em sua maioria, jovens de 18 a 29 anos (59,78%).

Do total de casos monitorados (92), 12 não tinham informações de idade e a maioria das vítimas eram homens.

À reportagem, Bruna Sotero destaca ainda que a ausência de dados dificulta a análise dos grupos que são vítimas da letalidade policial nos territórios. Para ela, uma das soluções possíveis para reverter esse cenário é a adoção de transparência por parte do Estado.

“O que vemos ano após ano é que os números seguem crescendo, mas não acompanhamos um refinamento dos dados fornecidos pelo Estado, mesmo assim, sabemos que quem continua morrendo têm o mesmo perfil: corpos de jovens negros continuam sendo matáveis em todo país”, completa.

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  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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