Vender meias no inverno foi a solução que o haitiano Willio Paul, 36 anos, encontrou para conseguir dinheiro e pagar o aluguel. Ele vive no Brasil desde de 2014. No final da tarde de quarta-feira (14), ele estava com a sua mercadoria no calçadão da rua Rua Batista de Azevedo, no centro de Osasco, quando foi espancado por agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana).
O aluguel da casa do ambulante vencia nesta quinta-feira (15) e todo o dinheiro que tinha estava investido nas meias que tentava vender. Os GCMs foram apreender a mercadoria, pois o haitiano não tinha autorização para fazer comércio de rua.
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“Ele falou para não levarem a mercadoria porque tinha que pagar o aluguel e tentou evitar que tirassem dele as meias. Foi então que começaram a bater violentamente nele. Um homem negro, trabalhador que estava tentando levar o sustento para casa. Além da agressão ao Willio, houve excessos dos guardas, que jogaram gás de pimenta na população em volta”, conta o vereador Emerson Osasco, da Rede, que foi em todas as delegacias do centro da cidade até localizar o haitiano e oferecer ajuda.
Em imagens gravadas, é possível ver até quatro GCMs agredindo Willio com cassetetes. Em seguida, ele é jogado no chão e um dos guardas aplica um mata-leão nele. “Essa manobra de estrangulamento foi proibida no Estado de São Paulo desde o ano passado”, lembra o vereador.
Em nota, a Prefeitura de Osasco informou que os agentes foram afastados até que o caso seja investigado por uma sindicância. O comunicado da prefeitura diz que Willio “empurrou um dos guardas contra uma placa de anúncio e ambos entraram em luta corporal”. E ainda, durante o atrito, o ambulante tentou pegar a arma do agente.
O haitiano nega essa versão e sustenta que apenas tentou impedir que tomassem sua mercadoria. Na delegacia, foi identificado que seu celular era furtado e ele foi acusado de interceptação.
“É uma manobra de tentar criminalizar a vítima de racismo ou justificar uma ação de brutalidade policial. Ele comprou o celular de boa-fé e pagou o valor justo pelo produto. A vítima do furto disse que não saberia identificar o autor e o crime ocorreu até em outra cidade”, pontua Emerson Osasco.
A Alma Preta entrou em contato com o secretário de segurança e controle urbano de Osasco, José Virgolino de Oliveira, para saber como será a investigação do caso. Em resposta, ele afirmou que seguirá o rito processual e que os agentes “não têm nenhum antecedente de agressões ou qualquer outra ação de violência. Os erros ou excessos serão devidamente apurado”.
O haitiano Willio Paul foi autuado por resistência e receptação culposa (não intencional) e liberado para aguardar a decisão judicial em liberdade.