Na terça-feira (23), o ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, esteve em Bauru, no interior paulista, para acompanhar aos recentes casos de violência envolvendo agentes da Polícia Militar e do 13º Batalhão de Ações Especiais da PM (BAEP).
As ocorrências na cidade ganharam destaque nacional após policiais militares invadirem um velório e agredirem familiares enlutados na última sexta-feira (18). A cerimônia velava um dos jovens mortos pela BAEP no dia anterior. Guilherme Alves, de 18 anos, e Luis Silvestre, de 21, foram alvos de 27 tiros de fuzil pelos agentes do batalhão especial, que alega confronto.
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Em coletiva de imprensa, na qual a Alma Preta esteve presente, o chefe do órgão de controle externo destacou que cerca de 95% das denúncias de violência policial no município envolvem a atuação do BAEP nas periferias. Silva ainda informou que nenhuma localidade do estado reúne tantas queixas sobre o batalhão quanto Bauru.
“A nossa percepção do diálogo com os familiares, com a polícia e com os movimentos sociais, é de que tem um caos instalado nas periferias de Bauru. E esse caos está sendo gestado e promovido pelos policiais do BAEP. […] Há um nível de crescimento das mortes em decorrência de intervenção policial muito grave que precisa ser investigado e freado”, declarou o ouvidor para a imprensa.
O ouvidor informou que o de Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (GAESP) do Ministério Público de SP (MPSP) e a Corregedoria da corporação serão acionados para que sejam feitas as devidas investigações.
“É relevante dizer que essas questões só chegam na periferia, os bairros nobres, bairros onde vivem a burguesia da cidade, não há reclamações em relação ao batalhão. […] A gente vai tomar as providências em relação à atuação do BAEP em Bauru. Se necessário for, inclusive, acionando cortes internacionais”, completa.
Segundo Claudio Silva, outras denúncias surgiram relacionada as mortes ocorridas na última quinta (17). Familiares, entidades e ativistas dos direitos humanos relatam que a SAMU teria sido impedida de prestar socorros às vítimas.
Número de negros mortos pelas polícias cresce 83% em SP
De acordo com um levantamento do Instituto Sou da Paz, a taxa de pessoas negras mortas pelas polícias Civil e Militar do Estado de São Paulo teve uma alta de 83% entre janeiro e agosto deste ano. A proporção de mortes também aumentou entre as vítimas brancas, com um crescimento de 59%.
O estudo, baseado em dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), registrou 441 pessoas mortas por policiais em serviço no intervalo analisado. O número representa um salto de 78% em relação ao mesmo período de 2023.
As cidades de Santos e São Paulo se reúnem a maioria dos casos, liderando os aumentos no número de mortes por intervenção policial. A capital paulista passou de 76 para 118 óbitos. A região do Deinter 6, que compreende cerca de 22 municípios da baixada santista, obteve um aumento de 54 para 109 mortes. A área foi palco das operações Escudo e Verão, deflagradas pela PMSP no início deste ano.