DJ Saskia é uma das pessoas que foram presas na região de Pinheiros, em São Paulo, no domingo (7); a manifestante filmava o encerramento do ato que reuniu mais de 10 mil pessoas contra o racismo
Texto: Juca Guimarães | Edição: Nataly Simões | Imagem: Pedro Borges
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“O PM me pegou sentada, ofegante, numa rua segurando a minha câmera e apontou a arma para a minha cara e disse ‘Você tá presa’.”, conta a DJ Saskia, em vídeo publicado em uma rede social na madrugada desta segunda-feira (8). A jovem passou quase cinco horas detida na 14ª Delegacia de Polícia, na cidade de São Paulo, após uma abordagem policial no final do ato “Vidas Negras Importam”, em Pinheiros, Zona Oeste, no domingo (7).
De acordo com as pessoas que estavam no final do ato, policiais militares dispararam diversas bombas para dispersar manifestantes que tentavam marchar pacificamente até a avenida Paulista. No vídeo, a DJ afirma que “gravar o ato é uma forma de fazer arte e é um registro histórico”. Foi a sua primeira participação em uma manifestação e também a primeira vez, na vida, que a jovem esteve na mira de uma arma da polícia.
“Não aprovo a incitação de ódio. Não aprovo que ataquem a polícia, apesar de que nessa manifestação a polícia foi a primeira a atacar. A gente estava longe, vendo para onde ia e eles começaram a atirar com bombas e com fuzil.. Não importa se você está lá para registrar e está lá pacificamente. Às vezes você é só a pessoa na hora errada e com a cor errada”, diz a DJ no vídeo.
A jovem relata ainda que na delegacia não houve nenhuma acusação e foi liberada. Durante o período que esteve detida, com outros manifestantes, Saskia recebeu ajuda e apoio de pessoas solidárias com a causa antirracista que foram até a delegacia, inclusive levando água e comida para os manifestantes presos.
“Não sou contra a polícia, acho que a polícia é feita de seres humanos também. Muitas vezes, eles precisam ‘levar algo para casa’ depois de uma manifestação para dizer que que fizeram algo. Isso está errado. Enquadrar uma pessoa por portar uma câmera tá errado”, afirma.
O Alma Preta questionou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) sobre qual a irregularidade de filmar pacificamente um ato público e a ação da polícia. Até a publicação deste texto, o órgão não respondeu.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) fez um plantão jurídico para acompanhar os atos do domingo (7) e verificar casos de violação de direitos dos manifestantes. O advogado Arnobio Rocha foi um dos observadores da comissão e acompanhou a prisão dos manifestantes do protesto antirracista na delegacia de Pinheiros até 1h30 da manhã.
“Foram detidas 18 pessoas de diferentes idades, entre eles uma garota e um rapaz menores de idade. Um homem que trabalha com dedetização foi preso e estava com um material químico que usa no trabalho. No caso dele, o registro da ocorrência demorou mais porque foi feita a perícia no material. No geral, os manifestantes foram acusados por dano contra patrimônio e todos foram liberados”, afirma o advogado, que considerou o ato tranquilo e pacífico.
Rocha conta que viu uma pessoa jogar uma pedra em uma agência bancária. “Não sei se era ou não um infiltrado, mas na hora dois homens negros que estavam no protesto tomaram a frente, acalmaram a situação e impediram que o tumulto se espalhasse”, recorda.
Além da DJ, a Polícia Militar também prendeu um advogado que filmava com o celular uma das abordagens policiais.
Balanço da SSP
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulgou, no final da noite de domingo (7) uma nota com o balanço das operações durante os atos de rua. No Largo da Batata, onde aconteceu o protesto antirracista, e na avenida Paulista, onde se reuniram apoiadores do governo do presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com a nota, foram registradas seis ocorrências e 32 pessoas foram conduzidas aos distritos policiais (4º, 78º e 14º DPs). Na região da Avenida Paulista, duas pessoas foram detidas com gasolina, óleo e demais materiais utilizados na elaboração de coquetéis molotov. Um artefato já pronto também foi apreendido com os suspeitos.
Sobre o protesto antirracista, a nota da SSP diz que “os atos caminhavam para o encerramento, quando o grupo que estava no Largo da Batata, descumprindo o acordo com as forças de segurança, deixou o local e seguiu pela Avenida Faria Lima. A Polícia atuou rapidamente com o auxílio dos mediadores e conteve a marcha”.
Ainda segundo o comunicado, “um grupo de vândalos, no entanto, passou a hostilizar os policiais e depredou duas agências bancárias na região. Uma viatura da PM também foi atingida por uma pedrada e teve o vidro lateral traseiro quebrado. Neste momento, foi preciso o uso de táticas de controle de multidões para cessar o dano ao patrimônio e restabelecer a ordem pública”.