Quase 200 pessoas foram assassinadas em Porto Príncipe, capital do Haiti, em um ataque ocorrido no último fim de semana, segundo informações divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira (9). O massacre foi liderado por um chefe de gangue que acreditava que a doença de seu filho havia sido causada por praticantes de vodu, religião tradicional haitiana.
De acordo com o Comitê para Paz e Desenvolvimento (CPD), organização civil local, o líder ordenou que os “soldados” de sua gangue identificassem seguidores de vodu e idosos em suas casas para levá-los ao quartel-general do grupo, onde eram executados. “Ele decidiu punir cruelmente todos que, em sua imaginação, poderiam ter lançado um feitiço sobre seu filho”, afirmou a entidade em comunicado.
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O ataque, que ocorreu na região costeira de Cité Soleil, em Porto Príncipe, resultou na mutilação e queima dos corpos de muitas vítimas nas ruas, conforme relatos da comunidade local. A maioria das vítimas tinha mais de 60 anos, mas jovens que tentaram resgatar familiares também foram mortos.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, confirmou que “pelo menos 184 pessoas foram assassinadas nesse ataque”, elevando o número de mortos no Haiti em 2024 para cerca de 5 mil. A violência no país tem crescido desde fevereiro, quando gangues lançaram ataques coordenados para tentar derrubar o então primeiro-ministro Ariel Henry. Atualmente, gangues controlam 80% de Porto Príncipe.
A situação de segurança no Haiti permanece instável, mesmo com o apoio de uma missão policial liderada pelo Quênia e respaldada pelos EUA e pela ONU. Mais de 700 mil haitianos estão deslocados internamente, sendo metade crianças, de acordo com a Organização Internacional para Migração da ONU (OIM).
O vodu, trazido ao Haiti por africanos escravizados, é parte essencial da cultura haitiana. Embora tenha sido proibido durante o período colonial francês, a religião foi reconhecida oficialmente pelo governo haitiano em 2003. Ainda assim, os praticantes continuam a enfrentar discriminação e ataques, muitas vezes incitados por líderes de outras crenças religiosas.