Levantamento foi divulgado nesta quarta-feira (6) e analisa o banco de dados do Ministério da Saúde relativos a 2017
Texto / Simone Freire | Imagem / Alex Rodrigues / Agência Brasil | Edição / Pedro Borges
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Números sobre a violência continuam a apresentar a diferença entre negros e brancos no Brasil. Segundo a edição do Atlas da Violência de 2019, divulgado nesta quarta-feira (6), 75,5% das vítimas de assassinato em 2017 eram indivíduos negros.
A taxa de homicídios de negros (pretos e pardos) por grupo de 100 mil habitantes foi de 43,1, ao passo que a de não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, para cada indivíduo não negro que sofreu homicídio em 2017, aproximadamente, 2,7 negros foram mortos.
Os dados mostram uma piora da situação uma vez que, em 2016, 71,5% dos assassinados no Brasil eram negros.
“É uma realidade que a gente já conhece. É um dado estarrecedor, que mostra como somos uma nação que convive com o racismo e que não consegue tirar da vulnerabilidade metade da sua população, que é negra”, critica Samira Bueno, uma das pesquisadoras do Atlas da Violência e diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O levantamento foi realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS) de 2017.
Linha histórica
O Atlas também aponta que, no período de uma década (2007 a 2017), a taxa de letalidade de negros cresceu 33,1%, enquanto a de não negros apresentou um aumento de 3,3%. Analisando apenas a variação no último ano, enquanto o índice de mortes de não negros demonstrou relativa estabilidade, com redução de 0,3%, o de negros cresceu 7,2%.
Os cinco estados com maiores médias de homicídios de negros estão localizados na região Nordeste. Em 2017, o Rio Grande do Norte apresentou o índice mais alto, com 87 mortos a cada 100 mil habitantes negros, mais do que o dobro do indicador nacional. O estado foi seguido na liderança por Ceará (75,6), Pernambuco (73,2), Sergipe (68,8) e Alagoas (67,9).
“É como se negros e não negros vivessem em dois países diferentes”, afirma Samira Bueno, diante da disparidade estatística dos grupos raciais analisados.
Já os estados que possuem menores taxas de homicídio de negros foram São Paulo, com 12,6 negros a cada 100 mil habitantes deste segmento, Paraná (19) e Piauí (21,5). No recorte histórico, ou seja, na comparação entre 2007 e 2017, o levantamento aponta que oito estados tiveram redução neste número: São Paulo (-40,7%), Distrito Federal (-40,4%), Espírito Santo (-18,1%), Rio de Janeiro (-12,9%), Paraná (-11,9%), Mato Grosso do Sul (-11,4%), Minas Gerais (-4,9%) e Pernambuco (-0,9%). O Paraná continua sendo o único estado a observar média de homicídio de não negros superior à de negros: 26,5 contra 19,0.
Assassinatos de jovens bate recorde nos últimos 10 anos
Ao todo, o Brasil registrou 65.602 homicídios em 2017, o que equivale a uma taxa de aproximadamente 31,6 mortes para cada cem mil habitantes. Segundo os pesquisadores do Atlas, este número configura-se no maior nível histórico de letalidade violenta intencional no país.
A situação entre os jovens continua sendo preocupante. No mesmo ano, 35.783 jovens foram assassinados no Brasil, número que representa um índice de 69,9 homicídios para cada 100 mil jovens.
Entre 2016 e 2017, o Brasil experimentou aumento de 6,7% na média de homicídios de jovens. Na última década, esse número passou de 50,8 pessoas entre 15 e 29 anos executadas por grupo de 100 mil jovens em 2007, para 69,9 em 2017, aumento de 37,5%. O avanço é um recorde histórico.
Em 2017, 15 estados apresentaram taxas de homicídios de jovens acima da média nacional de 69,9 por 100 mil. Os estados com os menores índices de homicídios entre jovens foram São Paulo (18,5), Santa Catarina (30,2) e Piauí (38,9). Já as três marcas mais elevadas foram as dos estados do Rio Grande do Norte (152,3), Ceará (140,2) e Pernambuco (133,0).