Nos últimos sete meses, a Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga o desaparecimento de três meninos de Belford Roxo, em 27 de dezembro de 2020. Na última semana o caso teve novos desdobramentos, quando a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) recebeu uma denúncia e encontrou uma ossada em uma região próxima a uma ponte do município, local em que teriam sido deixados sacos com corpos que poderiam ser das crianças. No entanto, a perícia informou nesta segunda-feira (2) que o material encontrado é de origem animal, logo, não pertence aos menores. O laudo oficial ainda será divulgado.
A defensora pública do núcleo de direitos humanos, Gislaine Kepe, relatou em entrevista ao G1 que as famílias dos meninos não acreditavam que os ossos e fibras capilares, enviados à perícia, eram de Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, 11, e Fernando Henrique, 12 anos, e que os menores ainda podem estar vivos. De acordo com informações da defensoria, os familiares dos meninos de Belford Roxo não quiseram acompanhar o trabalho de buscas no local na semana passada.
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Todo material foi enviado para o setor de antropologia do Instituto Médico Legal que, desde o início, não descartou a hipótese de que os ossos eram de animais, devido ao estado avançado de decomposição.
Investigação
A denúncia de que as ossadas estavam próximas à ponte de Belford Roxo veio de um homem, que se apresentou à Polícia Civil na última semana, e afirmou que seu próprio irmão realizou a ocultação dos corpos. A partir desta informação, uma ação conjunta entre bombeiros do quartel de Belford Roxo e o Grupamento de Buscas e Salvamento da corporação iniciou as buscas.
A suposta testemunha se dirigiu ao 39º BPM (Belford Roxo) e declarou ainda que as crianças teriam sido espancadas e mortas a mando de José Carlos dos Prazeres Silva, conhecido como “Piranha”. Depois da denúncia, o irmão acusado também se apresentou à delegacia e negou todas as acusações e alegou que a denúncia foi motivada por uma rixa com o irmão.
Antes dessas últimas atualizações, os agentes da polícia já haviam levantado diversas hipóteses sobre o desaparecimento dos menores, inclusive uma que suspeitava que as crianças foram vítimas de traficantes de drogas. Outra suspeita dos policiais é que os meninos tenham sido assassinados após um deles ter roubado uma gaiola de passarinho de um parente de um dos traficantes do Castelar, região em que as crianças moram.
Os três meninos foram vistos pela última vez em uma feira no bairro da Areia Branca, e os familiares entraram em contato com a corporação um dia depois do desaparecimento das crianças.
Andamento das buscas
Após a notificação do sumiço dos meninos de Belford Roxo, a polícia passou a buscar imagens das câmeras de segurança localizadas próximo à região em que as crianças foram vistas pela última vez. Além disso, as primeiras testemunhas ouvidas só prestaram depoimento uma semana depois do comunicado do desaparecimento à polícia.
Os investigadores fizeram ainda operações na região para tentar achar alguma pista das crianças, mas nada foi encontrado. Durante as buscas, a Delegacia de Homicídios de Belford Roxo coletou material genético dos parentes próximos dos meninos para armazenamento em banco de dados e, posteriormente, análise de DNA.
Em março deste ano, os promotores do Ministério Público, por sua vez, analisaram o material recolhido pela polícia e encontraram imagens de câmeras de segurança que mostravam os meninos passando na Rua Malopia, perto da feira de Areia Branca. A filmagem já tinha sido apreendida pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense durante as investigações.
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A Polícia Civil também relata o alto número de trotes com pistas falsas sobre os meninos de Belford Roxo. A corporação afirma que essas ligações atrapalham muito as investigações. Os familiares, no entanto, relatam demora da Polícia Civil no início das buscas e reclamam da falta de pistas sobre o caso.
Prisões e suspeitos
Em 20 de julho deste ano, a Polícia Militar do Rio de Janeiro levou preso um suspeito que teria envolvimento no sumiço das crianças. “Rabicó”, como é conhecido na região, teve o celular apreendido e enviado à análise. Apesar do nome do suspeito não constar nas investigações ligadas aos meninos, a Polícia Civil não descarta que a prisão possa ajudar, já que ele é ligado ao tráfico.
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Desde março, a Polícia Civil criou uma força-tarefa para as investigações, com agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, da Subsecretaria de Inteligência e da Delegacia de Descoberta de Paradeiros. Contudo, até o momento não existem informações concretas sobre o paradeiro dos menores, apenas suspeitas.
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