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Mapa identifica ao menos 160 benzedeiras em São Paulo

Projeto da escola de samba Camisa Verde e Branco quer preservar e valorizar as práticas ancestrais de cura, fé e espiritualidade; pesquisa ainda está em desenvolvimento e benzedeiras serão entrevistadas

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Documentário “Fé e Cura”

Benzedeiras estão sendo mapeadas em SP

9 de setembro de 2021

Quem são e onde vivem as mulheres que preservam a secular tradição das benzedeiras e do sincretismo da fé em São Paulo? A resposta para essa pergunta virá do trabalho feito desde julho pela Escola de Samba Camisa Verde e Branco, da Barra Funda, na zona Oeste da capital paulista. Até o momento, foram mapeadas 160 benzedeiras.

“A grande maioria das benzedeiras são idosas, e nem sempre o ato de benzer é passado para os mais jovens por diversos motivos. Então, às vezes, acabamos ficando apenas com os relatos ‘de boca’ de pessoas. O nosso principal objetivo é ter um documento que registre de maneira mais formal essa prática e que torne o acesso a elas mais fácil também”, diz Jéssika Barbosa, diretora do Departamento Cultural da Camisa Verde e Branco.

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O mapeamento de benzedeiras, curandeiros e rezadeiras tem o objetivo de reconhecer a importância do ofício que une conhecimentos, práticas e espiritualidades de várias religiões e tradições ancestrais.

Segundo Jéssika, entre os dados que já constam no mapa, estão cerca de 30 benzedeiras na capital, 60 na região metropolitana e as demais estão no litoral, na Baixada Santista e em algumas cidades do interior.

Neste início do projeto, o cadastro é feito por pesquisa, adesão espontânea e indicações. A conclusão está prevista para o começo do ano que vem. O formulário online para participar da pesquisa está no perfil da escola no Instagram.

“Por enquanto estamos iniciando o contato com elas e tentaremos um incentivo público para visitas e entrevistas presenciais com pelo menos 20% das benzedeiras localizadas. Além do mapa, temos o intuito de promover uma exposição, com apresentação do grupo de teatro do projeto Mulheres e Saberes, sessões de benzimento e integração com o enredo da escola”, explica a diretora. 

Para 2022, o tema do samba enredo da escola são as rezadeiras. O carnavalesco Renan Ribeiro está desenvolvendo todos os detalhes do desfile.

“A essência do enredo é sobre as bênçãos e sobre os caminhos confluentes dessas bênçãos. De onde elas vêm e a quem elas são direcionadas. Eu falo sobre a invocação desses encantados, deuses e forças que circulam em volta das benzedeiras. Sobre as referências de sabedoria e espiritualidade delas. E, depois, falamos do caminho das pessoas necessitadas desse poder de cura do corpo e espírito”, comenta o carnavalesco.

A escola procura apoio para ampliar o projeto. “Estamos buscando parcerias para criar um site ou um aplicativo. Obviamente que não são todas que vão querer ser divulgadas e haverá um cuidado com a identidade e localização exata de cada uma, mas o objetivo é que as pessoas saibam a qual lugar recorrer para buscar essa informação quando precisarem”, enfatiza Jéssika.

A benzedeira Tia Eliza de Categeró, 64 anos, nasceu no Rio de Janeiro e está há 25 anos em São Paulo. Ela começou benzendo, ainda menina, as bonecas com as quais brincava na infância. Hoje, mesmo em tempos de pandemia, ela atende entre quatro e oito pessoas por dia, além de animais de estimação, na Capela Santo Antônio de Categeró, na região central da capital.

“Minha vida é fazer o bem sem olhar a quem. Fui na quadra do Camisa e senti um clima muito leve lá. Sempre fiz campanha para ajudar o próximo. Para essas coisas não precisa fazer curso. Deus me deu esse dom. Essa missão é uma missão que tenho com Deus. Minha mãe era da umbanda, eu sou católica e abraço todas as religiões sem preconceito. Aqui vem judeu, vem evangélico. Abraço todo mundo e todo mundo gosta de mim”, conta Tia Eliza, que vai desfilar ano que vem na escola da Barra Funda.

Segundo Ribeiro, o enredo da escola e a pesquisa em curso estão muito conectadas com os dias atuais e a necessidade das pessoas.

“O Brasil necessita de mais paz espiritual e fé. Não é se prender a dogmas, se prender a regras das religiões, mas buscar a prática do amor, da reza, da fé, da esperança, da cura e do acalento da alma. A prática do bem e do amor ao próximo é comum a todas as religiões. Este é o diálogo que precisa ser feito com o mundo atual. Passar o bem para frente”, aconselha o carnavalesco.

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