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‘Bill Gates Pantaneiro’, réu em operação da PF, é incluído na ‘Lista Suja’ do trabalho escravo

João Roberto Baird é alvo de operações que investigam corrupção e lavagem de dinheiro; em 2023, cinco trabalhadores foram resgatados da fazenda do empresário em condições análogas à escravidão.
Gerson Walber

Foto: Gerson Walber

18 de dezembro de 2024

O empresário do ramo da tecnologia no Mato Grosso do Sul João Roberto Baird, cujo apelido na mídia local é “Bill Gates Pantaneiro”, foi incluído na “Lista Suja’ do trabalho escravo.

Segundo o documento, atualizado em outubro deste ano, uma ação de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) flagrou cinco trabalhadores em condições análogas à escravidão em uma fazenda de Baird.

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A propriedade fica localizada na região pantaneira de Paiaguás, no município de Corumbá (MS).

O empresário recebeu o apelido de “Bill Gates Pantaneiro” pela mídia local por ter enriquecido com empresas de informática no Mato Grosso do Sul.

Baird é dono das empresas PSG Tecnologia Aplicada Informática e Mil Tec Informática, além da extinta Itel.

O resgate dos trabalhadores

O resgate aconteceu em março de 2023, em uma região isolada de mata. Os trabalhadores estavam em barracos improvisados com lonas e madeiras.

Segundo relatório do MTE disponibilizado via Lei de Acesso à Informação, o trabalho dessas pessoas seria o de construir cercas na Fazenda Bandeira, onde se cria bovinos de corte.

No local, não havia equipamento de proteção individual (EPI) aos trabalhadores. Notou-se também a exposição das pessoas ao mau tempo e dormitórios insalubres.

Eles tinham de fazer suas necessidades fisiológicas em região de mata, sem fornecimento de materiais de higiene pessoal.

Durante a fiscalização, o grupo informou que não tinha acesso a água potável nem local para banho. Notou-se ainda que a água disponível para consumo tinha gosto de ferrugem.

Além disso, os alimentos dos trabalhadores estavam guardados em sacolas, e as carnes para consumo ficavam expostas.

Por causa da dificuldade de acesso ao local, foram necessários um helicóptero e barco para resgatar os trabalhadores. Ambos foram cedidos pela Casa Militar do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e pela Polícia Federal.

Processo administrativo

Segundo relatório do MTE, o empresário assinou um Termo de Ajuste de Conduta com o Ministério Público do Trabalho para pagamento de R$ 41.980,83 em verbas rescisórias. Ele também precisou pagar por danos morais individuais para os cinco trabalhadores, o que lhe custou pouco mais de R$ 240 mil.

Ao todo, foram lavrados 18 autos de infração por causa do descumprimento das leis trabalhistas.

A “Lista Suja”, do MTE, reúne mais de 700 empregadores que mantêm pessoas em condições análogas à escravidão.

Dados parciais até julho de 2024 apontam 1.142 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão. O valor pago de verbas trabalhistas e rescisórias já supera os R$ 3,5 milhões.

Doação para candidato em Figueirão

Em cruzamento de dados da “Lista Suja” com a lista de doadores nas Eleições 2024, a reportagem identificou que Bill Gates Pantaneiro foi o maior doador da campanha do vereador Denivan Barbosa (PSB). 

Ele foi reeleito para ocupar a Câmara Municipal da cidade natal de Baird, Figueirão (MS), de 3.539 habitantes.

Barbosa recebeu 98 votos e se manteve em uma das nove cadeiras do legislativo municipal. 

Segundo o portal DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bill Gates Pantaneiro foi responsável por 51,28% das doações para o então candidato, que recebeu R$ 2.210 do empresário.

Nas eleições de 2020, Baird também financiou Denivan Barbosa, mas o valor foi bem mais alto. Ele doou R$ 15 mil, o equivalente a 83,31% das doações do candidato. 

Naquele ano, Barbosa era filiado ao PSDB e foi eleito com 165 votos. 

No site da Câmara de Vereadores de Figueirão não consta nenhuma biografia sobre o parlamentar.

Dentre as indicações feitas pelo vereador na Casa Legislativa estão solicitações para realização de obras, limpeza de ruas e compra de equipamentos. Até o ano passado, Denivan era secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos do município.

Histórico de financiamento de campanha

Mas, em 2020, Bill Gates Pantaneiro não doou apenas para Barbosa. Segundo levantamento do site O Jacaré, especializado na cobertura do Mato Grosso do Sul, o empresário doou R$ 615 mil para 16 candidatos do estado. 

Foram quatro candidatos a prefeito de cidades do Norte do Estado (Alcinópolis, Costa Rica, Coxim e sua cidade natal, Figueirão) e 12 candidatos a vereadores — quatro na capital, sete em Coxim e um em Figueirão.

Processos criminais

Para a Polícia Federal, Baird já é um nome conhecido após ser alvo de operações que investigam desvio e lavagem de dinheiro público no MS.

Em 2018, a PF prendeu o empresário durante a 6ª fase da Operação Lama Asfáltica, intitulada “Computadores de Lama”. 

A apuração era sobre desvios de dinheiro público por meio de licitações para serviços de informática. As acusações incluíam aquisição fictícia ou ilícita de produtos, simulação de contratos e uso de “laranjas” para a ocultação de patrimônio.

A empresa chegou a ganhar dezenas de milhões de reais em contratos com o governo do Estado. 

Na época, o ex-governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (MDB), e o filho dele, o advogado André Puccinelli Júnior, foram presos por envolvimento no esquema.

Segundo o processo, um consórcio formado pelas empresas Itel Informática e AAC Serviços venceu uma licitação com o governo do Estado e subcontratou o serviço que seria prestado para o Detran-MS.

O objetivo seria ficar com um lucro de 86% do valor pago pelos cofres públicos.

Em 2024, a 2ª Vara Criminal de Campo Grande absolveu Baird e outros outros quatro envolvidos, incluindo o ex-diretor presidente do Detran Carlos Henrique dos Santos Pereira.

Outro lado de Bill Gates Pantaneiro

A reportagem entrou em contato por ligação para o escritório Ferreira & Alves Advogados, do advogado de defesa de Baird, José Wanderley Alves, e eles informaram que não se posicionam sobre os processos dos clientes.

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  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

  • Camila Rodrigues da Silva

    Jornalista com mestrado em economia e formação em demografia. Editora e repórter, com quase 20 anos de experiência em redações da grande imprensa e de veículos independentes de comunicação. Atuo na cobertura de direitos humanos desde 2012.

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