Estátuas que homenageiam bandeirantes e opressores da população negra e indígena são alvo de críticas
Texto: Guilherme Soares Dias e Douglas da Nóbrega | Edição: Nataly Simões | Ilustração: Alma Preta
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Estátuas e monumentos de figuras ligadas ao tráfico de escravos e opressões têm sido derrubadas em diferentes partes do mundo, como na Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos. O movimento prevê que as homenagens sejam recolhidas em museus onde haja a explicação da história e do processo pelo qual passaram. Integrantes do movimento negro da cidade de São Paulo mobilizam-se para fazer ato em frente à estátua de Borba Gato a fim de conscientizar a população sobre a real história.
O jornalista e escritor Oswaldo Faustino, pesquisador da história negra, defende o fim da homenagem a tais figuras nas ruas da cidade. “A proposta de se recontar a história e de ressignificar tais monumentos precisa ser muito mais ampla do que derrubar estátuas. Precisamos, que esses personagens sejam revistos e nós, do movimento negro, acreditamos que não dá para homenagear aqueles que foram nossos algozes. Porém, é importante que haja em algum lugar uma forma para olharmos esses monumentos e nomes para repensar”, considera.
Faustino defende, dessa forma, que tais monumentos deveriam ser transferidos para museus e campus universitários, ressignificados e tornados alvos de estudos, para que não se apague essa memória histórica. Em postagem no Facebook, o jornalista lembrou que em Salvador, na Bahia, há uma estátua para Joaquim Pereira Marinho, traficante de escravos do século 19.
O advogado Flavio Campos, integrante do Instituto Ação Geral – Quebrada eu te amo, formou um grupo de trabalho com outros integrantes do movimento negro para conscientizar as pessoas sobre o debate. “Estamos planejando um ato para lembrar que tipo de memória os bandeirantes trazem para o Brasil, que é o equivalente ao tráfico de escravos no exterior”, afirma, lembrando que o foco é derrubar a estátua de Borga Gato.
Nos últimos dias, o monumento foi cercado por policiais que tentam impedir movimentos contrários à homenagem, considerada patrimônio público. De acordo com Campos, as histórias dessas pessoas devem estar em museus sobre escravidão e não homenageadas na rua. “Os escravocratas no Brasil ainda estão de pé. É uma crítica com o que está acontecendo”, afirma.
No exterior Robert E. Lee, Colombo, Edward Colston e Pedro de Valdivia foram retirados do cenário urbano. A Prefeitura de Londres anunciou que vai acabar com todos os monumentos que homenageiam escravocratas. Já no Brasil e especificamente em São Paulo, monumentos de opressores e o apagamento histórico das pessoas negras são recorrentes e sistemáticos, podendo ser percebidos pela ausência de ruas, praças e estátuas que homenageiem heróis negros, ao mesmo tempo em que figuras que promoveram massacres e escravização são lembrados de diferentes formas pelas cidades do país.
Presidentes do período da ditadura, por exemplo, perderam homenagens como a de Costa Silva que denominava o elevado que corta o centro e que durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura de São Paulo passou a ser oficialmente chamado por seu apelido: “minhocão”. Integrantes dos movimentos negros apontam o mesmo caminho para as estátuas.
O Alma Preta listou cinco homenagens presentes em São Paulo e que podem ser revistas:
Estátua de Borba Gato
Após seis anos de construção, o monumento foi inaugurado em 1963. Manuel Borba Gato estava presente entre 1674 e 1691 na expedição de seu sogro, o também bandeirante Fernão Dias Paes, caçando esmeraldas e povos originários para escravizar. Em 2016, a estátua foi depredada e circula pela internet um abaixo-assinado que pede sua retirada. A homenagem fica na Praça Augusto Tortorelo de Araujo, 2590, em Santo Amaro, na Zona Sul da cidade.
Pedro Álvares Cabral
Estátua que marcou a celebração dos 500 anos da invasão portuguesa no Brasil. No Brasão de Armas de Portugal tem uma citação de Tancredo Neves: “A Portugal devemos tudo: O nosso sangue, a nossa história, a origem das nossas instituições livres, o espaço amplo que habitamos”. Fica no Parque Ibirapuera, na região Sul da cidade.
Duque de Caxias
A estátua homenageia Duque de Caxias, imperialista e escravocrata responsável pelos 10 mil mortos na Balaiada, o Massacre de Porongos. A estátua está localizada na Praça Princesa Isabel, na esquina das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco, na região central.
Monumento aos heróis da travessia do Atlântico
A homenagem a aviadores italianos dos anos 20 é considerada fascista por ter sido um presente de Mussolini e possuir dois “fascio littorio”, machado usado como símbolo pelo fascismo, na obra. Ela está localizada as margens da barragem da Represa de Guarapiranga no bairro do Socorro, na Zona Sul de São Paulo. Avenida João de Barros, 287-299.
Estátua de Anhanguera (Filho)
Bartolomeu (pai) retornou de uma expedição ao Araguaia, encontrou-se com o povo originário Goyá e observou que as mulheres usavam adornamentos de ouro. Colocou fogo em uma tigela com álcool e caso não apontassem onde estava a fonte do valioso metal atearia fogo nos rios. Recebeu o nome de Añã’gwea, que em tupi significa “espírito antigo”, criação do deus supremo Nhanderuvuçu. Após essa viagem, pai e filho retornaram a Santana de Parnaíba com milhares de escravizados dessa tribo. Tanto pai como filho são chamados de Anhanguera e viajavam juntos, a estátua do Bartolomeu (filho) está em frente ao Parque Trianon, na avenida Paulista.