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Com atendimento humanizado, parteiras e doulas negras combatem racismo obstétrico

O racismo obstétrico pode tornar o parto um trauma para gestantes negras; a atuação de doulas e parteiras vai na contramão da violência, mas o atendimento ainda é restrito às mulheres com maior poder aquisitivo

Texto: Juca Guimarães e Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/Instagram @obspreta

Em trabalho de parto, uma mulher negra está deitada, sorrindo, sendo examinada pela doula

Em trabalho de parto, uma mulher negra está deitada, sorrindo, sendo examinada pela doula

18 de maio de 2021

O racismo obstétrico acompanha a mulher negra desde o início da gravidez. Doulas e parteiras negras, que atuam em coletivos, têm um trabalho fundamental na disseminação de informação e no cuidado das mães desde o período de pré-natal até os cuidados necessários para enfrentar o puerpério. “A gente não oferece parto, a gente oferece informação”, explica a parteira Nabila Fernanda, 30 anos, formada em Obstetrícia pela USP (Universidade de São Paulo).

Segundo dados do Ministério da Saúde, 55% dos partos no Brasil são também procedimentos cirúrgicos, ou seja, não são partos normais, o que coloca o país no segundo lugar entre as nações que mais fazem cesáreas no mundo. A recomendação dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que apenas 15% dos nascimentos sejam feitos como cesarianas. Neste contexto, a violência obstétrica e falta de acesso à informação fomentam o número de óbitos e traumas no momento do parto de mulheres negras. 

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Na contramão dos dados crescentes de violência e experiências traumáticas de violência obstétrica, os partos feitos em casa impactam toda a estrutura familiar. “A preparação se inicia desde a primeira consulta. A família vem em busca de ter uma assistência com parteira preta e isso é muito legal”, explica Nabila, que também integra o coletivo Parteiras Pretas e gerencia a conta Obspreta, no Instagram.

É nesse mesmo sentido que os partos humanizados atuam, relata a doula Chenia Silva, do coletivo Doulas Pretas. “É um parto que é alicerçado no protagonismo feminino, na autonomia dessa mulher e nas práticas dos profissionais da saúde”, conta. 

O acompanhamento humanizado, seja com doula ou parteira, acontece em todos os períodos da gravidez. Ao longo do processo é que se concretiza o enfrentamento ao racismo obstétrico, sobretudo durante o pré-natal e nos partos humanizados feitos em hospitais. “Formar doulas pretas é um propósito de transmutar esse cenário do parto no Brasil. A gente debate racismo e formas de combatê-lo. É preciso saber como instrumentalizar essas doulas para que elas atuem nesses espaços”, detalha Chenia.

“Se você olhar as estatísticas, o número de mulheres pretas que mais morreram no último ano é muito maior”, destaca a doula sobre o período pandêmico vivido no Brasil e os impactos nas gestantes. A doula salienta que houve aumento na busca por partos domiciliares, mas que isso se limita à famílias com maior poder aquisitivo. 

Formação e diálogo sobre o tema 

As duas profissionais, Nabila e Chenia, compreendem a importância da assistência prestada às mães negras e reforçam que a violência obstétrica também ocorre em momentos que antecedem e precedem o parto. “A gente vive muitas práticas que são deletérias e consideradas normais”, ressalta Chenia. Entre elas está a falta de estímulo para a amamentação e falta de suporte no período de pré-natal, com a realização de exames de rotina, por exemplo. 

doulas pretas 02“A gente tem um imaginário de que parto é dor e sofrimento e não é isso. A partir dessa nova história do parto, outras mulheres conseguem abrir seus horizontes sobre boas práticas”, relata Chenia | Foto: Reprodução/Instagram/@coletivodoulaspretas

Ainda segundo a doula, as discussões sobre as formas como o racismo interfere na maternidade ainda se limitam ao ambiente acadêmico e o trabalho de doulas e parteiras nas comunidades é uma forma de levar essas discussões para outros espaços. “O diálogo acontece, mas muitas vezes não é dentro das comunidades e isso dificulta muito o acesso das mulheres pretas, pobres e periféricas”.

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