No território, na academia, na música, na arte, na política e em todos os campos, ao longo da história, mulheres negras nordestinas contrariaram estatísticas e romperam com estruturas racistas e misóginas. Nomes do passado e do presente que protagonizaram ou protagonizam levantes em contraposição à lógica opressora de um sistema que violenta corpos femininos negros e apaga narrativas de lado do país que sofre suscessivos ataques xenofóbicos e tentativas de apagamento. A Alma Preta Jornalismo destaca algumas dessas personalidades que precisam ser mais conhecidas por todo o Brasil e que não se curvaram à dominação do patriarcado colonizador plantando sementes de libertação para gerações futuras. Mesmo as que não estão mais aqui fisicamente, seguem inspirando as lutas de suas descendentes. Com elas ninguém pode!
Mãe Biu do Xambá
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Mãe Biu do Portão do Gelo é sinônimo de preservação de religião de matriz africana em Pernambuco e no Brasil. Uma das mais expressivas ialorixás da Nação Xambá a enfrentar o preconceito contra o culto aos orixás, vivenciando o fechamento do Terreiro de Xambá por parte da polícia e o Estado Novo por 12 anos. Resistiu promovendo os custos em segredo e sofrendo várias formas de expressão. Só em 1950 conseguiu inaugurar a sede oficial, na localidade do Portão do Gelo, terceiro quilombo urbano do país. Filha de Ogum, Severina Paraíso da Silva, seu nome de registro, nasceu em 1914 e faleceu em 1993, aos 74 anos. Mesmo analfabeta, quando assumiu o ilê como Iyalorixá, conseguiu registrar os feitos da casa e passar seus ensinamentos para as gerações descedentes. Atualmente, o Terreiro é tombado e guarda um memorial que reconta a história da Nação, única na América Latina.
Badia
Também conhecida como Iyalorixá Maria de Loudes da Silva, ‘Badia’ foi considerada a dama do carnaval pernambucano. Toda sua história esteve ligada aos arredores do Bairro de São José, na região central do Recife, mais especificamente no Pátio do Terço. Sua história com o Carnaval começou jovem, aos 12 anos, quando passou a costurar adereços e fantasias. Com o passar dos anos, dividiu o amor pela época dos confetes e serpentinas com a responsabilidade religiosa enquanto disseminadora do Xangô Pernambucano, através da Casa de Axé das Tias do Pátio do Terço. Como pioneirismo, fundou a ‘Noite dos Tambores Silenciosos’, evento que acontece até os dias atuais na segunda-feira da folia e reúne vários maracatus da cidade e Região Metropolitana.
Luísa Mahin
Oriunda da nação Nagô, nasceu em África em meados do século 19. Trazida para o Brasil como mulher negra escravizada, entendeu que não conseguiria mudar o cenário de seu povo caso não fosse à luta. Ativista histórica, Luísa Mahin conseguiu estar envolvida em grandes feitos da resistência negra e nordestina, como a Revolta dos Malês (1835) e a Sabinada (1837-1838). Por pouco, não recebeu o título de “Rainha da Bahia”, por estar envolvida na articulação dos motins pró-abolição. Tento ‘quituteira’ com ocupação oficial em sua época, conseguiu passar para frente seus ideais de luta para um dos seus filhos, o jornalista, escritor, orador e Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil, Luís Gama.
Mãe Neide Oyá D’Oxum
Iyalorixá de Umbanda e da nação Nagô em Alagoas, Mãe Neide também é fundadora do Grupo União Espírita Santa Bárbara. Associando sempre a religião ao bem comum, desenvolve há anos projetos sociais através do Centro de Formação e Inclusão Social INAÊ. Como formação, é gastrônoma. Em 2018, foi eleita Embaixadora da Gastronomia Alagoana, por sua relação com a comida de santo e de tradição quilombola, podendo ser degustada no restaurante Baobá, na Serra da Barriga. Mãe Neide ainda ganhou título de mestra Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas, título de cidadã maceioense (2014) e título de cidadã Palmarina (2013). É um nome importante na consolidação e reconhecimento da Serra da Barriga enquanto patrimônio histórico nacional, onde foi erguido o Quilombo dos Palmares.
Bell Puã
Isabella Puente de Andrade ou Bell Puã é poeta e pioneira no slamer pernambucano, vencedora do SLAM BR 2017. Foi a primeira e única, até agora, a vencer a competição nacional e representar o estado na disputa internacional, quando representou o Brasil na Copa Internacional de Slam, sediado em Paris, na França. Também é dançarina e performer no UM Coletivo, além de atuar no Slam das Minas PE. Vencedora do Prêmio Malê de Literatura em 2019, também foi finalista do Prêmio Jabuti em 2020. Mestranda em história, aos 27 anos reúne suas vivências e observações sobre o dia a dia de mulher negra e nordestina e dos seus irmãos de raça.
Mestra Joana Cavalcante
Primeira mulher a assumir o posto de Mestre de Maracatu, Joana D’Arc da Silva Cavalcante, Mestra Joana é quem rege a Nação do Maracatu Encanto do Pina, no Recife. Aos 43 anos, é conhecida como um dos grandes nomes da projeção nacional da cultura popular pernambucana. Também é idealizadora e coordenadora do Movimento Baque Mulher, na Comunidade do Bode. Entre suas pautas junto à cultura e a religiosidade de matriz africana, Mestra Joana luta por mais espaço para as mulheres que desejam entender melhor e praticar os ensinamentos do Maracatu.
Robeyoncé Lima
Nascida e criada no Alta Santa Terezinha, comunidade da capital pernambucana, Robeyoncé Lima, possui o título de primeira advogada trans do Norte e Nordeste a conseguir nome social na carteira da Ordem dos Advogados do Brasil. Em 2019, a advogada passou a integrar o quadro político do estado, se tornando co-deputada da mandata coletiva “Juntas”. Sua luta é pautada pela interseccionalidade, que envolve a luta pelos direitos das mulheres, da população LGBTQIA+ e negra.
Érica Malunguinho
Recifense e filha de enfermeira, Érica Malunguinho conquistou um título importante para a história da diversidade em cargos de gestão pública no país. Em 2018, foi eleita Deputada Estadual em São Paulo torna-se a primeira mulher transexual a ingressar na Assembleia Legislativa. Mestra em Estética e História da Arte pela USP, também trabalha com educação e artes plásticas. Fundou um dos quilombos urbanos mais importantes do país, o Aprelha Luzia, um espaço de fortalecimento, propagação das produções culturais negras e acolhimento.
Maria Firmina dos Reis
Foi por meieo da escrita que Maria Firmina ganhou notoriedade em São Luís do Maranhão, onde nasceu. No site da Biblioteca Nacional, um recorte importante paro o fortalecimento sócio cultural do povo negro nordestino. É reconhecida como a primeira autora brasileira. Pautada pela abolição, conseguiu lançar, em 1860, o romance intitulado Úrsula. Através da educação, conseguiu conquistar outros dois títulos: de primeira mulher aprovada em um concurso público, tornando-se professora e, oito anos antes da Lei Áurea, fundou a primeira escola mista da cidade. Ao contrário do comportamento convencional da época, a escritora sustentava-se sozinha.
Carla Akotirene
Pesquisadora, autora, militante e colunista, Carla Akotirene Santos é soteropolitana e utiliza das redes sociais como plataforma de disseminação de conhecimento, com produção de conteúdo voltada à reflexão sobre a população negra. Mestra e Doutoranda em Estudos Feministas pela UFBA, foi a primeira mulher de sua família a concluir um curso de ensino superior. Em espaço acadêmico, se debruçou sobre pesquisa do sistema prisional feminino de Salvador, gênero e questões voltadas ao conceito de interseccionalidade.