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Comunidade luta contra fechamento de Etec quilombola no interior de São Paulo

Outras escolas técnicas e de ensino superior ficam há cerca de 100 km de distância da comunidade
Imagem mostra dezenas de alunos durante atividade no Quilombo André Lopes em maio de 2011.

Imagem mostra dezenas de alunos durante atividade no Quilombo André Lopes em maio de 2011.

— Governo de São Paulo

8 de fevereiro de 2024

Moradores do Quilombo André Lopes, localizado em Eldorado, região do Vale do Ribeira (SP), fecharam a rodovia Benedito Pascoal de França (SP-165), em protesto pela transferência de alunos da rede estadual para uma unidade da ETEC.

A manifestação é contra a transferência de 180 alunos, de 11 a 17 anos, do Colégio Estadual E.E. Maria Antonia Chules Princesa para as instalações da Etec que possui o mesmo nome do quilombo, André Lopes.

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Segundo os quilombolas, a mudança pode causar a extinção dos cursos técnicos e outras atividades, o que resulta na privação dos jovens e adultos dessa modalidade de ensino no local. Outras escolas técnicas e a Instituição de Ensino Superior mais próximas ficam há cerca de 100 km de distância das comunidade.

A comunidade também reivindica o retorno do prédio ao domínio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e a retomada da oferta de cursos técnicos no local. 

Hoje, a administração da Etec está sob responsabilidade da Secretaria da Educação e, sendo assim, não há em suas prerrogativas a obrigatoriedade de ofertar a modalidade de Ensino Técnico. 

Conforme informações do ofício enviado da comunidade quilombola ao secretário da Educação, Renato Feder, a normativa em questão não determina a transferência das atividades do colégio para o espaço da Etec. “A ação ocasionou o fechamento de cursos técnicos, sem a possibilidade de qualquer retomada”, diz o documento acessado pela Alma Preta. 

Os moradores ressaltam que, apesar da decisão unilateral afetar a comunidade diretamente, não foi realizada qualquer consulta prévia, como determina a legislação brasileira.

“Discordamos tanto do Decreto, quanto da decisão de transferência da unidade de ensino para outro prédio, pois ambos os atos foram realizados de forma individual e violam nosso direito de consulta e consentimento, prévio, livre, informado e de boa fé, enquanto povos e comunidades tradicionais“, pontuam os moradores.

Além disso, ressaltam os moradores, a Etec é fundamental para impulsionar o desenvolvimento local, considerando o potencial econômico da comunidade no turismo e na agricultura de subsistência, cujo Sistema Agrícola Tradicional Quilombola é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio brasileiro a ser mantido pelo poder público.

Outro lado

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc) informou que a transferência da unidade estadual para o imóvel que oferece cursos sob demanda do Centro Paula Souza” ocorre com o objetivo de oferecer aos alunos quilombolas da região o ensino em uma unidade maior, proporcionando também facilidade ao acesso”.

Segundo a pasta, “a equipe do Núcleo de Obras e Manutenção da Diretoria de Ensino de Registro esteve na unidade para avaliar a necessidade de reparos que serão realizados para receber os alunos da rede estadual. Dentre as melhorias planejadas estão a pintura interna, o reparo no telhado, a manutenção da rede elétrica e a adequação da rede hidráulica, entre outras. Até a conclusão desses reparos no novo prédio, os alunos da Escola Estadual Quilombola Princesa Maria Antônia Chules continuarão seus estudos no prédio original, com início marcado para o próximo dia 15”.

Texto atualizado às 13h11 de 9 de fevereiro de 2024 para inclusão da resposta da Seduc.

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  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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