Em um cenário de vulnerabilidade diante da crise climática, as comunidades negras rurais do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, enfrentam uma luta diária pela sobrevivência. A informação consta na cartilha “A água é a terra onde tudo o que se planta nasce”, lançada pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática(CBJC), em parceria com a rede Clímax Now e o Observatório do Jequitinhonha.
A publicação aponta a luta diária das comunidades afetadas pelo racismo ambiental e o efeito desigual da crise climática em populações marginalizadas. O documento também destaca a importância da preservação e do acesso à água potável e segura para garantir a sobrevivência dessas populações.
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De acordo com a cartilha, apenas 32% das residências rurais no Brasil contam com abastecimento seguro de água e 75% das moradias não dispõem de tratamento de esgoto. Os impactos da escassez hídrica atingem de forma desigual as comunidades rurais, que dependem de nascentes e poços para sobreviver em locais onde a infraestrutura de saneamento é praticamente inexistente.
Além dessa escassez, as comunidades rurais sofrem com secas prolongadas e enchentes que comprometem a disponibilidade da água, saúde, a produção de alimentos e principalmente a qualidade de vida. A área do Vale do Jequitinhonha acomoda ao todo 584 comunidades quilombolas.
Preservação e resistência
Para garantir a preservação desses locais e a sua sobrevivência, são utilizados poços de cacimba e cisternas, fundamentais para conservar a água durante os períodos de seca.
Segundo o documento, essas práticas mostram a resiliência das comunidades e evidenciam a ausência de políticas públicas na garantia de recursos básicos. O local possui nascentes e pequenos corpos d’água, considerados símbolos de conexão ancestral e que representam a cultura dessas populações com a terra.
“Essas comunidades não enfrentam apenas a escassez de água, mas uma luta pela sobrevivência em um cenário cada vez mais hostil. A crise climática transforma as secas e enchentes em ameaças constantes, afetando tudo: desde a saúde até a produção de alimentos. É uma situação que exige resposta urgente, pois, para essas populações, cada gota preservada é uma vitória”, explica Joelma Gomes Ferreira, arquiteta e urbanista, pesquisadora sobre justiça climática e uma das autoras da cartilha.
O documento é uma manifestação sobre a urgência de ações para garantir o acesso à água como um direito humano e ambiental para todos. A cartilha ainda propõe soluções para preservação ambiental dos recursos hídricos presentes nos territórios tradicionais, o fortalecimento das práticas de manejo sustentável da água – incluindo o tratamento de esgoto e saneamento básico– e a implementação de políticas públicas inclusivas.