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‘Crime premeditado’: entidades denunciam execuções e tortura de policiais no Pará

No comunicado, movimentos afirmam que o delegado responsável pela operação possui uma relação próxima com os latifundiários da região
Quatro trabalhadores rurais foram presos; eles alegam terem sido torturados pelos policiais.

Foto: Divulgação/Polícia Civil do Pará

17 de outubro de 2024

Movimentos sociais de Marabá (PA) emitiram uma nota para repudiar o assassinato de trabalhadores acampados na fazenda Mutamba, durante a operação Fortis Status, deflagrada pela Polícia Civil na madrugada de sexta-feira (11).

O documento assinado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), pelo Instituto José Cláudio e Maria (IZM) e outras entidades também pontua que outras quatro pessoas foram presas e, segundo os acampados, torturadas por horas.

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Adão Rodrigues de Sousa e Edson Silva e Silva foram alvejados pelos agentes da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá, chefiada pelo delegado titular, Antônio Mororó. Adão Rodrigues de Sousa deixou cinco filhos.

“Segundo as apurações feitas pelas entidades através da coleta de depoimentos de vários sobreviventes, há indícios claros de que se tratou de um crime premeditado”, afirma o documento.

Desde então, as cerca de 200 pessoas que ocupam a área estão agrupadas em um barracão coletivo. As entidades também afirmam que um helicóptero da polícia sobrevoa e dá rasantes, todos os dias, no local.

Os sem-terra denunciam ainda que a operação policial deixou feridos. Há pessoas com tiro na mão, na perna e com a costela quebrada. Além disso, as testemunhas afirmaram que a “alegação do delegado de que os policiais foram recebidos a tiros não tem qualquer fundamento”.

“O delegado com seus comandados chegaram ao local onde ocorreram os crimes, por volta das quatro horas da manhã. Cerca de 18 trabalhadores se encontravam dormindo em redes em um barracão coletivo, dois deles já estavam acordados preparando um café, quando foram surpreendidos com os gritos dos policiais “perdeu, perdeu”, seguido de rajadas de tiros”, relata a nota.

“Surpreendidos com rajadas de tiros naquela hora da madrugada e na escuridão, não houve qualquer chance de se defenderem, mesmo que tivessem um arsenal de armas. Só deu tempo de correr para escapar da morte”, descreve o documento.

No comunicado, as entidades também afirmam que o delegado Mororó, responsável pela operação, possui uma relação próxima com os latifundiários

da região.

“Qualquer chamado desse grupo ele está pronto a atender. […] Por outro lado, quando se trata de apurar assassinatos de trabalhadores o delegado não tem o mesmo interesse. Conforme dados da CPT, nos últimos 10 anos, 15 assassinatos ocorreram na área de atribuição da DECA de Marabá, sendo que a autoria das mortes não foi esclarecida. Na verdade, a Delegacia de Conflitos Agrários se transformou em delegacia de proteção ao latifúndio“, denuncia o texto.

A Polícia Civil do Pará informou que a operação tinha o objetivo de cumprir três mandados de prisão e 18 de busca e apreensão por denúncias de furto, extração de madeira, associação criminosa, tentativa de homicídio, porte ilegal de armas e queimadas irregulares. Nenhum dos presos ou dos mortos, no entanto, era alvo dos mandados. 

O acampamento tem organização independente, mas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Pará é uma das entidades que dá suporte ao coletivo.

Com informações do Brasil de Fato

  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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