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‘Desrespeito total’: PM invade casas e ameaça moradores no Complexo da Maré

De acordo com Liliane Santos, coordenadora da ONG “Redes da Maré”, em entrevista à Alma Preta, quatro pessoas foram mortas durante a ação do BOPE
Policiais militares do Rio de Janeiro durante operação no Complexo da Maré, em 2015.

Foto: Christophe Simona / AFP

13 de junho de 2024

Desde a última terça-feira (11), as comunidades do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, enfrentam o medo e os impactos das recentes operações deflagradas pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) na região. Denúncias recolhidas pela ONG Redes da Maré relatam uma série de violações dos policiais.

De acordo com informações da organização, até o momento cinco pessoas foram mortas, sete foram feridas e oito foram vítimas de violência física. Outras dez pessoas sofreram com invasões policiais em suas casas. Também há relatos de tortura e ameaça.

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“Uma moradora nos contou que além de invadir a casa dela, os policiais comeram alimentos sem autorização. É um desrespeito total”, conta Liliane Santos, coordenadora do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, em entrevista à Alma Preta.

Em outro caso, um homem de 29 anos é agredido por policiais na frente do filho. Segundo a denúncia, depois da agressão, ele teria sido colocado em uma viatura e levado para o 22º Batalhão da Polícia Militar, localizado em uma comunidade vizinha.

Devido aos conflitos, 44 unidades escolares foram fechadas na região. Alguns postos médicos e clínicas de saúde da família também fecharam suas portas. A clínica da família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros, foi alvo de tiros na madrugada da terça-feira (11).

Apesar do fim da operação ter sido divulgado, Victória Guimarães, moradora da Vila do João, informa que nesta quarta-feira (13) houve um tiroteio no Morro do Timbau, área que estava sendo periciada pela PMERJ após a morte de um agente do Batalhão.

“Ontem a gente recebeu informação de que o BOPE já teria saído da comunidade, finalizando a operação. Mas, hoje, perto do meio-dia, nós moradores ouvimos uma sequência de tiros muito forte”, conta Guimarães, em entrevista à Alma Preta.

Os dois projetos de pré-vestibular nos quais é voluntária estão com as aulas suspensas desde o início da semana. “Há três dias que os moradores vivem na incerteza e na insegurança de uma forma muito cruel. A vida dos 140 mil moradores do Complexo da Maré não são levadas com a devida importância”, completa a moradora.

Sobre a perícia, a coordenadora da Redes da Maré Liliane Santos relembra que oito pessoas foram mortas durante uma ação da polícia em 2023, mas nenhuma das mortes foi investigada. “Na mesma operação, além do policial, morreram quatro pessoas. Provavelmente não vai ter perícia para elas. Quem tem direito a processo investigativo nas suas mortes?”, questionou Santos.

Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro informou o reconhecimento de apenas três mortes, sendo um deles o sargento Jorge Henrique Galdino Cruz. Segundo a corporação, a ação foi deflagrada para combater uma quadrilha de roubo de veículos.

Além do BOPE, participaram da operação o Batalhão de Ações com Cães (BAC), o Batalhão de Polícia de Choque (BPCHq), com o apoio do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE), do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (RECOM) e do 22° Batalhão de Polícia.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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