Na quarta-feira (23), Nilceia Alves Rodrigues e Maria Aparecida dos Santos, mães dos dois jovens mortos pela Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP) em Bauru, no interior paulista, reuniram-se com o responsável pela Ouvidoria da corporação, Claudio Silva, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do município. Guilherme Alves e Luis Silveira foram mortos por agentes do 13º Batalhão de Ações Especiais da PM (BAEP) na última quinta-feira (17).
Antes do evento, ambas se encontraram com o ouvidor durante uma escuta com a comunidade, que contou com representantes da Comissão de Igualdade Racial da OAB, entidades e movimentos de defesa dos direitos humanos e a presença da vereadora Estella Almagro (PT-SP).
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As familiares das vítimas não quiseram ser entrevistadas, mas escolheram dar uma declaração após a fala do ouvidor na coletiva de imprensa, na qual a Alma Preta esteve presente. Vestindo camisas estampadas com fotos dos filhos falecidos e amparadas por seus advogados, Nilceia e Maria Aparecida agradeceram o apoio recebido após as perdas.
“A gente começa a sentir um pouco de alívio perante tudo o que vivi de quinta-feira para cá. Temos uma resposta, alguém está nos ouvindo. Eu só espero que a justiça seja feita e que venha ser provada a inocência do Guilherme”, desabafou Nilceia, mãe de Guilherme, aos veículos presentes.
A matriarca da família Alves também é mãe de outros dois filhos, que foram agredidos por policiais durante uma invasão dos PMs ao velório de Guilherme, na semana passada. Um dos irmãos chegou a ser apreendido pelos agentes e foi liberado ao final do dia.
“Eu só espero a resposta da justiça. Temo pela minha integridade, a minha vida e a dos meus filhos, mas estou confiante que vai dar tudo certo. Vamos conseguir chegar onde precisa para que pessoas não venham a passar pelo que passei”, completou.
Maria Aparecida é mãe de Luís Silvestre da Silva Neto, a segunda vítima morta pelos agentes do 13º Batalhão de Ações Especiais da PM (BAEP) no dia 17 de outubro. Na coletiva, ela destacou que esta é a primeira vez em que está sendo ouvida e defendeu a inocência do filho.
“Estou atrás da justiça e da verdade. A verdade tem que aparecer. Essa é a primeira vez que estão nos ouvindo, e não pode continuar isso. Cada vez mais mães chorando, mais mães perdendo os filhos. Tem que ter um basta”, declarou.
Falta de políticas para a juventude periférica
A vereadora reeleita pela cidade de Bauru, Estella Almagro, também esteve presente nos encontros com a Ouvidoria da PMSP na quarta-feira (23). A parlamentar, conhecida por seu mandato popular e alinhado com a comunidade preta e periféricas da cidade, também comentou o caso.
Em entrevista à Alma Preta, Almagro denunciou a falta de políticas públicas municipais para preservar a vida da juventude negra bauruense e indica que seguirá acompanhando o caso. “A gente começa a discutir uma violência que já vem acontecendo há algum tempo”, comentou.
A parlamentar também destacou que o perfil dos óbitos ocasionados pela polícia é majoritariamente preto e periférico. Ela defende que cada instância possui seu papel estabelecido pelo pacto federativo, que devem ser seguidos. “Nós não temos pena de morte no Brasil, tem limites constitucionais. […] É o pacto federativo. Polícia militar prende, civil investiga, promotor denuncia e o juiz julga. O extermínio é crime”, aponta.