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‘É um pedido pelo fim da violência’, dizem advogados condutores do ato no Rio de Janeiro

8 de junho de 2020

Seis profissionais negros do Direito conduziram manifestação para garantir segurança e orientações jurídicas; ao Alma Preta, dois deles falaram sobre o protesto 

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/Twitter

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As cerca de 5 mil pessoas que estiveram no centro do Rio de Janeiro para participar das manifestações antirracistas no domingo (7) contaram com um apoio importante: advogados negros que se dispuseram a conduzir o ato para garantir a segurança e dar orientações jurídicas. O Alma Preta conversou com dois dos profissionais, que falam da importância dos protestos e lembram que a população fez um grito pelo fim da violência do Estado e pela reinvenção da Polícia Militar.

Inicialmente eram dois, Joel Luiz e Djeff Amadeus, ambos de 31 anos, advogados da área criminal. Eles conduziram o ato e ganharam apoio de outros quatro profissionais negros do Direito. “A presença de advogados foi essencial para que não ocorresse problemas”, afirma Amadeus, que integra a Rede de Apoio à População Periférica (RAPP). O auxílio de advogados negros no “levante negro” contrapõe, segundo ele, a ausência de pessoas negras em espaços jurídicos de destaque como o Supremo Tribunal Federal (STF).

Já Ittalo Lima, 34 anos, advogado da área civil, consumidor e família, conta que viu pelo Twitter os atos e resolveu ir para dar apoio. “Tinha uma quantidade enorme de policiais militares. Fomos cercados pelos PMs. O nosso papel foi prezar pelo diálogo e não tivemos problemas”, conta. De acordo com Lima, um apoiador do governo Bolsonaro chegou a tentar provocar os manifestantes, mas foi retirado pela polícia. A maior preocupação dos advogados era na hora da dispersão. “Tentamos garantir que todos voltassem para casa em segurança”.

Em casos de manifestação, a orientação jurídica é de que as pessoas não levem objetos que podem ser considerados como ameaça ao ato. “Pessoas com álcool em gel com mais de 50 ml foram levadas para a delegacia, mas não há nenhuma legislação que proíba. Na delegacia, verificamos se a pessoa está sendo conduzida para testemunho ou porque está sendo acusada de algo”, diz.

 Morador de Curicica, vizinha da Cidade de Deus, Lima acredita que a contribuição é primordial para fazer sua parte na sociedade. “É uma segurança para nosso povo. O serviço pro-bono é uma realidade que nós vivemos”, considera. Ele lembra ainda que para além de esquerda e direita, os protestos tiveram como intenção combater a violência do estado e questões ligadas à segurança pública. “Queremos combater o fato de a polícia estar invadindo as favelas e matando os nossos dentro de casa. Por que não invadem os apartamentos da Zona Sul? Precisa haver uma reinvenção da polícia. A guerra contra drogas não são desculpa para matar o nosso povo”, afirma.

Novas manifestações ainda não têm data definida, no entanto, devem ocorrer e o grupo de advogados as conduzirá para que os protestos ocorram de forma pacífica. No domingo que passou, Djeff Amadeus, que também é escritor, homenageou o menino João Pedro, de 14 anos, morto quando estava dentro da casa de seus tios na comunidade do Salgueiro, em 18 de maio, e que tinha o sonho de ser advogado. Veja os versos citados por ele no ato:

“O meu nome é Djeff Amadeus
E eu vim aqui pra lhes falar
Do jovem João Pedro
Que sonhava advogar

Teve a vida interrompida
Por um estado genocida
Levaram o Joãozinho
Podia ser um Emicida

Ou então um Luiz Gama
Maior advogado do Brasil
Herói da libertação
lutou contra Escravidão

Ou um Amilcar Cabral
Heroi da guiné bissal
Pedagogo da revolução
E pai da libertação
Amilcar e João
Viva a revolução

E pra finalizar
Agora vou falar
Cansei de gritar presente
Eu quero gritar vive
Povo preto vive
E vira professor
Ou desembargador
Mestre e doutor
Viva João Pedro
Advogado e defensor”.

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