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Em ato por direito à moradia, policiais atingem mulher grávida com gás lacrimogênio

Manifestantes protestavam em frente à prefeitura de Teresina (PI) para pedir diálogo com prefeito diante da proximidade do fim da liminar concedida pelo STF que proíbe despejos durante a pandemia

 

 

Manifestantes seguram uma placa no centro de Teresina

Foto: Foto: Reprodução/Vídeo

16 de março de 2022

Integrantes de movimentos sociais e comunidades originárias de Teresina, no Piauí, denunciam truculência policial durante um protesto realizado em frente à sede da prefeitura, na terça-feira (15). No ato, os manifestantes reivindicaram o direito à moradia e a realização de uma audiência com o prefeito da cidade, José Pessoa Leal (MDB), devido à proximidade do fim da liminar concedida pelo STF que proíbe despejos e desocupações, que se encerra no dia 31 de março e coloca em risco mais de 200 ocupações organizadas em Teresina.

No entanto, durante um momento do protesto, policiais militares que estavam em frente à sede dispararam tiros de borracha e gás lacrimogêneo, deixando crianças, idosos e uma grávida feridos.

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Líder da comunidade ribeirinha Boa Esperança, Maria Lúcia diz que os manifestantes estavam nas escadarias para reivindicar um diálogo com o prefeito, porém, foram surpreendidos com a truculência policial.

“A tropa de choque chegou tocando o terror, jogaram gás de pimenta que atingiu uma criança, atingiu uma professora que desmaiou. A gente só estava reivindicando um direito de ser atendido”, diz Maria Lúcia.

A representante da Comunidade Boa Esperança também diz que o pedido de audiência tem sido solicitado desde janeiro de 2021, início da gestão do prefeito José Pessoa. No entanto, dos quatro ofícios já protocolados, nenhum foi atendido até o momento.

Maria Lúcia também nega a justificativa da prefeitura de que houve tentativa de invasão à prefeitura e se diz preocupada com o destino das famílias que correm risco de despejo.

“Isso também é uma questão de racismo. Quando a gente chega nas comunidades, as mulheres negras estão fazendo as casas, estão fazendo cercas. Elas trabalhavam como empregadas domésticas e com a pandemia ficaram sem emprego. Sem dinheiro, elas se viram obrigadas a ocupar as terras que não tem função social para poder garantir o direito à moradia”, pontua Maria Lúcia.

Dentre os manifestantes atingidos está uma mulher grávida de seis meses, que precisou ser internada com risco de perder o bebê após desmaiar e cair no chão por causa de uma bomba de gás disparada pelos policiais.

A mulher foi identificada como Letícia Raquel, de aproximadamente 25 anos, é integrante da ocupação Núcleo Universitário, localizada na zona leste de Teresina. Segundo familiares, Letícia passou por exames e o seu estado de saúde é estável, assim como o do bebê.

“A situação aqui nas comunidades é de bastante violência, são todos os tipos de violações, não tem direito à água, saneamento, energia, e as famílias se entregam ao desespero. A situação é de verdadeira calamidade”, completa a representante da Comunidade Boa Esperança, Maria Lúcia.

Mais de 200 ocupações correm risco de despejo

Com o fim do prazo que proíbe ações de despejos durante a pandemia, mais de 200 ocupações e comunidades em Teresina correm o risco de ficarem desabrigadas.

No dia 8 de março deste ano, movimentos e comunidades por direito à moradia apresentaram um ofício na prefeitura de Teresina para solicitar o diálogo de pautas emergenciais, dentre elas, a assistência social e regularização fundiária para as famílias em situação de vulnerabilidade.

Segundo o assessor técnico do Centro de Defesa Ferreira de Sousa, Luan Rusvel, a prefeitura tem tentado criminalizar as pautas dos movimentos populares com abordagens e estratégias violentas nas comunidades e periferias.

“A gestão que está hoje na prefeitura é bolsonarista. O prefeito e o vice-prefeito são abertamente apoiadores do Bolsonaro. Eles já se referiram aos ocupantes das comunidades como invasores, já fizeram críticas ao MST. A gente teme que eles usem essas estratégias de violências, como foi no ato, nas periferias da cidade e nas ocupações”, diz o integrante da entidade.

Desde o ato, Luan Rusvel afirma que a prefeitura não deu nenhum retorno às comunidades e policiais militares ainda se encontram em frente à sede do Executivo como forma de intimidar manifestantes. Segundo Luan, a cidade tem vivido em estado de “guerra”.

“O povo de Teresina tem chamado o dia de ontem como o ‘Dia de Ucrânia’ porque o centro ficou um verdadeiro caos e a prefeitura continua usando a força armada. A gente não entende o motivo do posicionamento da prefeitura com o movimento popular de Teresina. Não faz o menor sentido”, completa.

A Alma Preta Jornalismo solicitou um posicionamento da prefeitura de Teresina e da Polícia Militar do Piauí sobre o protesto por moradia, porém não obtivemos retorno até o fechamento da matéria.

Leia mais: Mulheres negras chefiam maioria das famílias com risco de despejo em comunidade do Recife

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