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Em protesto, indígenas de Pernambuco derrubam construção de igreja evangélica

Ação do Povo Truká aconteceu em resposta à declaração de pastor da Assembleia de Deus que ironizou costumes da população tradicional; uma nota, Cacique Bertinho detalha outras motivações que levaram ao ato como a invasão do território sagrado da população indígena do município de Cabrobó

Texto: Victor Lacerda / Edição: Lenne Ferreira / Imagem: Reprodução/Povo Truká

No Sertão de PE, indígenas do Povo Truká derrubam construção de templo evangélico

27 de abril de 2021

Em Cabrobó, há 530 quilômetros da capital pernambucana, integrantes do Povo Truká – população tradicional da Ilha de Assunção presente às margens do Rio São Francisco – realizaram um protesto contra a declaração de um líder evangélico da localidade. Identificado como Jabson Avelino, o pastor da Assembleia de Deus, em vídeo que circula nas redes sociais, havia ironizado as tradições religiosas indígenas do município. Como resposta, os Truká derrubaram o início da obra de uma nova igreja na localidade e emitiram nota de esclarecimento. 

O discurso ganhou as mídias sociais por alimentar a violência contra povos tradicionais do Sertão do estado com o viés de intolerância religiosa e tentativa de desvalorização da cultura originária. “Orem pelos nossos irmãos índios. Estamos precisando, novamente, do socorro de Deus. O Pajé e o Cacique, praticamente, proibiram o culto lá. O Pajé disse que o espírito de luz não está descendo lá não. Acho que cortaram a energia de lá”, declarou o líder evangélico em vídeo que circula nas redes.  

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Como registro de articulação da ação em defesa às práticas religiosas tradicionais na Ilha de Assunção, um vídeo do Cacique Bertinho também recebeu notoriedade nas redes. O líder indígena explica o porquê do protesto e defende o respeito ao território dos Encantados, resultado da luta pela terra.

“O que nós queremos com isso é repudiar mais uma vez a questão do Pastor Jabson com as tristes palavras que ofenderam os nossos Encantados, nossa tradição, nossa cultura, nossos mais velhos, que alguns até passaram mal quando viram o triste vídeo. Nós não estamos impedindo que o cara seja de qualquer religião. Da ponte para lá ele pode construir tempo e até catequizar Cabrobó, mas aqui dentro do nosso território tem que manter a tradição, tem que manter o respeito à comunidade indígena, o respeito à liderança e aos Caciques, que aqui estão na luta pelo direito à terra, onde os nossos antepassados sofreram, morreram e derramaram sangue dentro desse território para, hoje, nós estarmos aqui”, declarou o Cacique. 

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A derrubada do início da obra também foi motivo de discussão dentro e fora do município. A questão de posse e respeito às terras e identidade local foi explicada em nota oficial apresentada pelo Povo Truká e encaminhada a um blog local, intitulado ‘Blog do Didi Galvão’. O documento, assinado pelo Cacique Bertinho, cita a Constituição Federal Brasileira, nos Artigos 231 e 232, que reconhecem o respeito às formas de organizações próprias dos povos indígenas, além de suas crenças, costumes, usos e tradições bem como os direitos originários dos povos indígenas sobre suas terras.

“Cansados [Trukás] de tantos descasos dentro do território que há muito tempo vinham vivenciando o desrespeito feito por alguns membros evangélicos, como por exemplo o não cumprimento de acordo feito pelos Caciques e Lideranças Indígenas Trukás (…) para construir ou fazer qualquer obra no território indígena, faz-se necessário à consulta prévia para saber se as lideranças indígenas aceitam ou não determinada ação”, inicia a nota. 

O texto sobre as motivações do protesto também denuncia que, segundo a liderança indígena local, em nenhum momento os representantes oficiais da população Truká foram procurados pelo pastor para dar anuência à referida construção. A nota afirma ainda que, por diversas vezes, os representantes da Assembleia foram procurados para conversar, mas mesmo diante da decisão da organização interna, os mesmos continuaram a insistir na construção de uma igreja. 

“Imaginem se fossemos nós, indígenas, que tivéssemos difamado a religião do pastor e achando pouco, fossemos construir uma aldeia na sua igreja, digo, dos irmãos. Não iremos permitir que um grupo religioso desrespeite, difame ou interfira no modo de vida da nossa comunidade, lutaremos para que nossos costumes, crenças, tradições e espiritualidade sejam preservados. Iremos enfrentar o que for preciso para dar continuidade a história dos nossos GUERREIROS que tombaram na luta. Que Tupã e nossos Encantados de Luz continuem nos dando força para lutar até quando for necessário, sempre dentro da nossa organização”, finaliza a nota.

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