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Falta de acesso à informação e saneamento básico agrava pobreza menstrual

Segundo especialistas, a pobreza menstrual é resultado de uma junção de fatores estruturais; negras são maioria entre as que não tem acesso à água ou absorvente

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução

Mulher segura coletor menstrual

17 de junho de 2021

A pobreza menstrual é descrita pela ginecologista e obstetra Mariana Prado como um conjunto de fatores que impedem que a pessoa que menstrua tenha capacidade de cuidar da sua própria menstruação. No Brasil, 60 milhões de pessoas menstruam e, entre elas, 5% não têm acesso a recursos essenciais, como água encanada ou absorvente. As informações são do relatório do grupo Girl Up, que aponta ainda que as pessoas negras representam 60% do grupo que não tem pia, papel higiênico ou sabonete em casa.

“Quando a gente fala sobre pobreza menstrual, estamos falando sobre omissão do Estado e de informação. É preciso que a gente fale sobre o processo de menstruação. Essa coisa de ligar menstruação a coisas nojentas e sujeira impede a gente de reconhecer que é algo completamente saudável e normal”, argumenta a ginecologista.

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Segundo dados do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 713 mil pessoas que menstruam no Brasil não têm banheiro em casa. A falta de saneamento básico, como aponta o estudo, afeta 6,5 milhões de pessoas, que vivem em casas sem rede de esgoto. O relatório, divulgado em maio de 2021, destaca ainda que a população negra representa 37% do grupo afetado pela pobreza menstrual.

Diálogo como solução

Para Mariana, o diálogo aberto sobre a menstruação desde a menarca (primeiro ciclo) é essencial e pode gerar movimentações significativas quando se trata das estatísticas que atingem pessoas que menstruam em todo o país. Ela destaca o Dia Internacional da Higiene Menstrual, 28 de maio, entre as medidas louváveis tomadas para incentivar discussões a respeito do tema.

“Algumas pessoas acham muito óbvio falar sobre menstruação e não consideram que existe uma população que não tem acesso nenhum a isso”, considera a ginecologista Cecília Pereira. A médica relata que ainda existem muitas barreiras quando o tema é menstruação. “Várias pacientes acham esquisito você ter que se tocar para introduzir o copinho ou o absorvente interno, até porque não aprenderam a lidar com a menstruação dessa forma. Tem muito a ver com o conhecimento do próprio corpo e é um processo fisiológico muito lindo”, acredita. 

Nesta semana, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou que serão fornecidos absorventes íntimos para alunas de baixa renda nas escolas públicas estaduais. Já na capital, tramita na Câmara Municipal o PL 662/2020, do vereador Isac Félix (PL-SP), que determina o fornecimento emergencial de absorventes em locais de grande circulação na cidade.

“A partir do momento em que a gente encara a pobreza menstrual como uma questão multifatorial, é possível reconhecer a carência de atuação do poder público na questão de estrutura do saneamento básico, moradia e preocupações significativas na elaboração de políticas públicas para resolver isso”, conclui a médica.

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