A edição deste ano da Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, reuniu no sábado (7) e no domingo (8) 35 mil visitantes no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP).
Um dos recordes da edição de 2019 foi a movimentação financeira. Mais de R$ 1,5 milhão circulou nos dois dias do evento, que recebeu 170 empreendedores de dez estados e dos países Gana e Senegal. No ano passado, a feira movimentou R$ 700 mil.
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O público também aproveitou mais de 50 atrações, entre shows como o da cantora Elza Soares, debates sobre finanças, estética negra e questões de gênero, lançamentos de livros e oficinas.
“O que me motivou a vir na feira, pela primeira vez, foi a vontade de conhecer um espaço voltado especificamente para a divulgação do trabalho de artistas negros. Eu também estou buscando comprar mais coisas produzidas por profissionais negros e o evento proporciona isso”, conta a universitária Beatriz Meneses.
Afroempreendedores
Uma das dezenas de empreendedoras e empreendedores presentes na Feira Preta deste ano foi Eliane Lira, criadora da marca que carrega seu sobrenome. Natural do Rio de Janeiro (RJ), a “Lira” existe desde 2017 e comercializa roupas e acessórios de moda criados pela própria Eliane e seus familiares.
Parte dos brincos e colares são feitos manualmente com o reaproveitamento do tecido que sobra das peças de roupa. “Nós tentamos aproveitar os materiais e acreditamos que os produtos também se tratam de uma ideologia, pois moda também é arte”, afirma Eliane.
Essa foi a segunda vez que a empreendedora participou do evento e lembrou da importância de ver as pessoas negras trabalhando. Além dos expositores, a edição de 2019 da Feira Preta gerou 300 postos de emprego.
“É muito bom ver as pessoas pretas trabalhando e todos se identificam com a gente. Eu também fico admirada em como as pessoas gostam de se produzir aqui e de se vestir bem. Elas não vêm só para passear e é muito legal ver a galera toda reunida”, acrescenta.
No evento também há espaço para empreendedores da área de saúde e bem estar, como Flávia Barbosa, idealizadora da “Capins da Terra”. A marca criada em 2018 é voltada para o autocuidado da população negra a partir de produtos naturais a base de ervas que eram usadas pelos povos africanos e indígenas.
“Eu aliei o nosso conhecimento ancestral com o meu curso de sommelier de chás. Os produtos são chás fitoterápicos, ervas energéticas para banho, escalda pés e bolinhas de massagem”, explica Flávia.
Segundo a empreendedora, o mercado de saúde e bem estar natural ainda é pouco explorado pela população negra. A Feira Preta proporcionou a identificação dos possíveis consumidores com essa área por meio de profissionais semelhantes a eles.
“Nós negros não temos esse mercado e quando vamos buscá-lo percebemos que tudo é muito embranquecido. A pessoa vê a minha marca e consegue se ver dentro desse meio. É importante que a gente faça esse caminho de reconexão com os costumes do nosso povo, que é o do autocuidado natural e a feira tem essa energia. É uma coisa linda”, complementa.
18 anos
Com o tema “Passado, Presente e Futuro”, a edição de aniversário da Feira Preta se propôs a responder de onde vieram, onde estão e para onde vão a arte, a cultura e o empreendedorismo negros.
Além do evento no Memorial da América Latina no último fim de semana, em novembro foram realizadas diversas atividades como parte da agenda da Feira Preta em diversos pontos da cidade de São Paulo.
O evento foi idealizado por Adriana Barbosa em 2002 como uma feira de produtos de empreendedores afro brasileiros. Ao longo dos anos, cresceu e se tornou uma plataforma de criação de projetos para valorização da cultura negra no país. Hoje, é considerada referência de empreendedorismo social.
A primeira edição da feira reuniu 40 expositores e um público de 5 mil pessoas na Zona Oeste de São Paulo. Na edição de 2017, a feira reuniu um público de 20 mil pessoas. No ano passado, o público superou de 50 mil.