O Fundo Agbara, primeiro fundo de mulheres negras do Brasil, realizou nesta segunda-feira (4), a 2ª edição do “Jantar Agbara: Ampliando Impacto”. O evento reuniu 250 pessoas, entre personalidades e apoiadores, na Kaza Fendi, em São Paulo, com o intuito de democratizar a filantropia, promover a equidade racial e de gênero e captar recursos para a sustentabilidade da iniciativa.
Em entrevista à Alma Preta, que estava presente no evento, a diretora-executiva da organização, Aline Odara, celebrou a trajetória do Fundo e destacou a importância de valorizar o protagonismo das mulheres negras.
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“Esse evento tem muitos significados para nós. É de uma resiliência sem tamanho, porque é mais do que sabido que projetos negros tem mais dificuldade de captar recursos. Então, esse projeto é uma afronta para o setor privado, que ainda não consegue reconhecer a nossa importância, mas a gente teima, a gente faz, a gente foca na venda de convites de um público de pessoas físicas que conhecem a qualidade, a excelência e a importância do nosso trabalho”, ressaltou.
Fundado em setembro de 2020, em resposta à crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19, o Fundo Agbara (palavra yorubá que significa potência), foi criado com a missão de promover a dignidade humana, a equidade racial e de gênero.
A organização é pioneira no Brasil como o primeiro fundo voltado exclusivamente para mulheres negras, e atua para garantir o acesso a direitos socioeconômicos fundamentais a este grupo demográfico, o mais impactado pela pandemia.
“Para a população negra, é um momento de entender, de conseguir imaginar futuros onde seja muito normal espaços como esse. A nossa presença em espaços como esse. Estamos honrando o legado dos clubes sociais e dos bailes blacks, para a gente recriar os nossos próprios espaços de afetividade e para pessoas não negras, é uma super oportunidade, pois, além de conhecer o impacto positivo que o Agbara gera para mulheres negras de todo o Brasil, também podem se sensibilizar com a cultura negra e marginal”, define Odara.
Com a jornalista e apresentadora Cris Guterres no papel de Mestre de Cerimônia, a noite foi marcada por uma experiência gastronômica, com um menu afro-brasileiro criado pelo Chef Marcelo Sampaio. Além disso, diversos artistas se apresentaram a fim de conduzir uma celebração rica em significados e cultura para todos os participantes.
Outro destaque foi a apresentação cultural de Puma Camillê, que uniu capoeira e voguing em uma performance única, carregada de simbolismo e expressão. A exibição despertou no espaço uma atmosfera de resistência e orgulho cultural, que estabeleceu o tom da noite.
Entre os presentes, estavam nomes de peso como o apresentador e comunicador Roger Cipó, o presidente do G10 Favelas, Gilson Rodrigues, a comunicadora Sára Zara e a apresentadora Astrid Fontenelle, acompanhada de seu filho Gabriel Fontenelle, de 16 anos.
“Depois que tive um filho preto, essa foi uma pauta onde eu foquei, aprendi, e hoje acho que todos também deveriam estudar sobre as questões raciais. Como um ser humano em construção, quando esse convite passou por mim, eu não titubeei que deveria apoiar. Eu acredito que só puxando a mão é que a gente vai ter a tal da equidade, da paridade pretendida. Se a gente não investir não vem. Em qualquer pessoa. Mas, quando falamos sobre pauta racial, o Brasil está em dívida”, disse a jornalista à Alma Preta.
Ao longo dos últimos quatro anos de existência, o Fundo Agbara arrecadou mais de 10 milhões de reais, impactou mais de 4 mil mulheres e apoiou 317 mulheres com aportes financeiros diretos. Além disso, a organização desenvolveu mais de 50 projetos focados em mulheres negras, e ofereceu atendimento em 25 estados do país.
“Os projetos sociais, as ações, são instrumentos de transformação da vida do nosso povo”, declarou Roger Cipó sobre o primeiro fundo liderado por mulheres negras.
Em sua visão, também é importante observar como a comunidade negra, desde sempre, cria soluções para resolver os próprios obstáculos. “O primeiro grande investimento que a comunidade negra fez, foi as mulheres e homens negros trabalhando muito para pagar a alforria de pessoas escravizadas, isso aqui é a continuidade disso, é sobre a nossa libertação. Para mim, isso é a síntese deste encontro”, finalizou.