Cerca de 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil até março de 2021, se uma política efetiva de controle baseada em ações não farmacológicas tivesse sido implementada. Essa é uma das conclusões da pesquisa “Mortes Evitáveis por Covid-19 no Brasil”, lançada neste mês de junho, pelo Movimento Alerta – que contou com a participação da Anistia Internacional, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, organizações de direitos humanos, e o apoio da Oxfam Brasil e do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor).
Ainda de acordo com o estudo, a cada dez reais que o governo federal tinha para gastar exclusivamente com medidas de combate à pandemia da Covid-19, em 2020, apenas seis reais foram investidos. Faltou incentivos para a pesquisa, desenvolvimento e produção de testes. Não houve também investimento na aquisição ou produção e distribuição de máscaras de boa qualidade. Sem contar as oportunidades para a compra de vacinas que foram menosprezadas.
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O relatório do Grupo Alerta aponta que as decisões sobre o controle de portos, aeroportos e fronteiras, funcionamento de atividades econômicas e apoio financeiro a indivíduos e empresas foram incorretas e ambíguas. O levantamento também conclui que seria possível uma redução relativa de 40% na transmissão com a implementação de medidas mais restritivas.
Para calcular as “mortes evitáveis”, o estudo leva em conta ações para evitar a contaminação e medidas para minimizar os danos em caso de adoecimento por Covid-19. Com a evolução da pandemia ficaram evidentes as lacunas na oferta de leitos e ventiladores e, ainda que menos divulgada na imprensa, a carência de profissionais de saúde especializados.
Em todos os estados do Brasil, o número de mortes por Covid-19 foi pelo menos 10% acima do esperado. Os estados em pior situação foram: Amazonas (84%), Rondônia (57%), Mato Grosso (42%), Acre e Ceará (40%), Goiás (39%) e Maranhão (38%).
Em estados com grandes populações, as mortes acima do esperado ficaram em torno de 20%: Rio de Janeiro (23%), São Paulo (20%), Pernambuco (26%), Bahia (23%) e Minas Gerais (23%).
Os dados também mostram que a rede pública de saúde foi a mais impactada pela pandemia. Cerca de 50% dos casos de pacientes na UTI ou com uso de ventilação mecânica foram atendidos pelo SUS, os hospitais particulares atenderam em torno de 24%.
Na rede pública, 66% dos pacientes eram negros ou indígenas e 33% eram brancos. Enquanto que nos hospitais privados, 58,8% dos atendidos eram brancos e 41,2% eram não-brancos. A taxa de letalidade pela Covid-19 também foi diferente em relação ao local de atendimento. Na rede privada foi de 28% e na rede pública de 42%.
O estudo recomenda que para evitar mais mortes por conta da Covid-19 deve ser criada uma Frente Nacional de Enfrentamento à Pandemia, um plano de responsabilização e reparação, além de uma reestruturação no SUS para enfrentar as próximas pandemias.
No Senado Federal, foi aberta a CPI da Pandemia para investigar as medidas tomadas pelo governo e a responsabilidade pelas mais de 500 mil mortes até o momento.