Na quinta-feira (14), no auditório Vladimir Herzog, em São Paulo, um evento reuniu jornalistas e escritores para comemorar os 22 anos de existência da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP), fundada em 11 de setembro de 2001.
O evento contou com a participação dos fundadores da Comissão e os jornalistas e escritores Oswaldo de Camargo e Oswaldo Faustino para debater o tema “Jornalismo, Literatura e Negritude”, com mediação de duas jornalistas integrantes da Cojira, Beatriz Sanz e Thais Folego.
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Folego, em entrevista à Alma Preta Jornalismo, fala sobre a celebração: “Esta é uma semana bastante especial. Celebramos 190 anos da imprensa negra no Brasil, pela efeméride do lançamento do jornal ‘O Homem de Côr’, em 14 de setembro de 1833, e os 22 anos da Cojira-SP, fundada em 11 de setembro de 2001.”
O manifesto de lançamento da Cojira-SP apontava a necessidade da produção de informações sobre a desigualdade racial no interior da categoria como condição necessária para a elaboração de políticas voltadas para a promoção da equidade.
Folego também reforça que o combate ao racismo não é recente no jornalismo: “Às vezes o debate público dá a impressão que discutir racismo e políticas de promoção da igualdade racial é algo novo, mas não é. Estamos aí há dois séculos oferecendo alternativas a discursos de exclusão.”
Flávio Carrança, jornalista e membro da Cojira-SP, fez a abertura do evento e abordou a importância de abraçar a causa das ações afirmativas: “Eu sou fruto de ações afirmativas no quesito educacional. Eu só estou aqui, hoje, porque existem cotas nas universidades e acho que a gente deve, sim, abraçar essa causa de ações afirmativas também dentro da nossa profissão.”
Finalizando sua fala, Carrança destacou a importância do pioneirismo do Cojira no Brasil: “Não só a Cojira, mas ela, por ter sido pioneira junto com o núcleo de jornalistas negros do Rio Grande do Sul, impulsionou aqui os jornalistas de outros estados que tomassem iniciativas similares.”
Por sua vez, a jornalista Beatriz Sanz abordou a falta de representatividade nas redações e o impacto desse cenário na formação dos jornalistas. “Ainda hoje, mesmo depois de tanto tempo, boa parte das pessoas que estão nas redações, que estão nesses lugares, continuam sendo pessoas brancas e, de certa forma, é como o nome do livro do Flávio [Carrança] e da Rosane [Borges]”, apontou a jornalista, citando a coletânea de artigos “Espelho Infiel: o negro no jornalismo brasileiro”, de 2004.
“A gente acaba com esse espelho, né? A gente acaba se baseando em pessoas brancas, em experiências de pessoas brancas, para construir a nossa própria experiência profissional, o que não deveria de fato acontecer”, acrescentou Sanz.