O inquieto compositor Itamar Assumpção (1943 – 2003) terá a sua estátua, em tamanho natural, inaugurada nesta terça-feira (15) bem em frente ao Centro Cultural da Penha, na zona Leste de São Paulo, região onde morou por boa parte da sua vida.
O também cantor nasceu na cidade de Tietê, no interior de São Paulo, e foi vanguardista em diversos movimentos musicais, defendendo sempre a liberdade de expressão e a emancipação dos artistas. Foi um dos pioneiros da música independente, ainda no período da ditadura militar, no final dos anos 80, tendo controle total sobre a sua obra, desafiando gravadoras e a indústria fonográfica da época.
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A homenagem a Itamar vem para suprir uma demanda histórica: a representação de figuras públicas nas estátuas da capital paulista é majoritariamente branca, o percentual de pessoas negras que foram celebradas com estátuas não chega a 5% do total.
“Se a gente não contar todas as histórias, a gente não dá a oportunidade para o povo ter pensamento crítico sobre a nossa história, sobre o que é o Brasil. Quando conta-se só um pedaço, tira-se uma parte importante da narrativa de como foi a construção social e civil do país. É uma grande honra ver o meu pai ser homenageado”, afirma a cantora Anelis Assumpção, filha do artista.
Anelis considera que uma estátua do pai representa um movimento de reparação histórica para as pessoas negras e que só foi possível por conta da mobilização social e protestos da sociedade civil organizada. “O desafio agora é apresentar o Itamar para quem não o conheceu e criar uma conexão entre as pessoas”, compartilha Anelis, que é diretora geral do Instituto Museu Itamar Assumpção – MU.ITA.
Durante toda a sua carreira, Itamar Assumpção foi um artista que teve a liberdade como ponto principal da sua obra. Os álbuns ‘Beleléu, Léleu, Eu’ (1980), ‘Às Próprias Custas S.A.’ (1981) e ‘Sampa Midnight, Isso não vai Ficar Assim’ (1983) foram referências estéticas e de modelo de produção para o desenvolvimento de um mercado de música independente no Brasil.
“Meu pai era neto de pessoas escravizadas. Era muito recente para ele o drama da escravidão, os avós dele tinham sido escravizados, então, ele não admitiu perder a sua produção para outra pessoa. Ele era uma pessoa inédita em vários aspectos. Para ele, ser livre era não pertencer a nenhuma gravadora, ser livre era ser dono das suas autorias e qualquer coisa diferente disso era, novamente, uma forma de escravidão. Ele sempre defendeu a liberdade, era contra a ideia de ter um disco em uma gravadora e nunca mais ter os direitos da sua obra”, lembra a cantora.
Segundo ela, Itamar foi perseguido pelo mercado por conta da sua postura libertária naquela época e, hoje, 90% da música brasileira é independente. “Essa história começa lá atrás com meu pai e outros artistas que lutaram pela independência. Itamar Assumpção foi um lutador pela liberdade do povo preto, pela liberdade dos artistas. Ele lutou com o empreendedorismo, com a música e com o seu modo de vida. A história começa lá atrás com meu pai e outros artistas que lutaram pela independência”, diz Anelis.
Em agosto, após a polêmica dos protestos contra a estátua do bandeirante Borba Gato, em Santo Amaro, a prefeitura anunciou o projeto para a criação de cinco estátuas de figuras negras na cidade: a escritora Carolina Maria de Jesus, o cantor Itamar Assumpção, o músico Geraldo Filme, o atleta olímpico Adhemar Ferreira da Silva e a sambista Deolinda Madre.
A inauguração da estátua do Itamar terá apresentações de blocos afros, uma missa afro na igreja do Rosário, cerimônia com a presença da família e do músico Gilberto Gil, a partir do meio dia. Às 17, vai acontecer um show da cantora Anelis Assumpção, no teatro Teatro Martins Penna, no Centro Cultural da Penha, com participação do Rincón Sapiência, os ingressos serão distribuídos gratuitamente uma hora antes do show.