“O menino Jesus, segundo a memória do Evangelho, foi levado em fuga para o Egito pelos seus pais, fugindo da perseguição do rei Herodes, justamente para aumentar as suas chances de não ser percebido”, diz o pastor Henrique Vieira em um vídeo no YouTube.
Segundo o sacerdote, essa é uma das principais evidências de que Jesus Cristo é negro. A historiadora Ynaê Lopes dos Santos avalia, em sua coluna no site alemão da Deutsche Welle, que o fato de Jesus ser negro, contrariando as evidências históricas, incomoda bastante uma sociedade que se estrutura em bases racistas e colonizadoras.
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“Construir e replicar a ideia e a imagem de um Jesus Cristo loiro e de olhos azuis, atrelando a essa imagem a ideia de bondade e também de humanidade, foi um prato cheio para a efetivação da colonização das sociedades americanas, do tráfico de africanos escravizados, da exploração de todos aqueles que não eram a imagem e semelhança do grande salvador”, escreveu a doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal Fluminense.
O pastor Henrique Vieira afirma que se Jesus fosse branco, não seria para o Egito que os seus pais — José e Maria — o levariam, de acordo com as escrituras, para que pudesse ficar a salvo das perseguições de seus oponentes. “Seria como esconder uma criança suíça em uma escola nigeriana”, ressalta Vieira.
O sacerdote declara que a imagem de um Jesus branco, na época da escravidão, se tornou conveniente às civilizações escravocratas cristãs que se utilizavam do poder para subjugar povos indígenas e negros, pois um “Jesus branco não precisava ser explicado ou provado”. Já um Jesus negro era considerado “ideológico, forçação de barra”. “Então causa um desconforto enorme, a simples suposição que Jesus não teria uma imagem considerada padrão”, reitera o pastor.
Essa narrativa que dá estrutura para a maioria das culturas e sociedades contemporâneas, já que, segundo Ynaê Santos, Cristo foi um dos homens mais importantes da história da humanidade, mesmo para quem não é cristão, dá margem para que diversos preconceitos e crimes sejam cometidos contra a população negra.
“Negar a negritude de Jesus Cristo é, nada mais, nada menos, do que reforçar as amarras do racismo que nos constitui, desrespeitando não só a história desse homem, como naturalizando a falaciosa ideia de que o bom, o belo e o civilizado tem cores definidas”, escreveu a especialista.
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