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Julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz é suspenso; desfecho é esperado nesta quinta (31)

Ex-policiais militares enfrentam júri popular no Rio de Janeiro seis anos e sete meses desde o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes; julgamento é acompanhado pela Alma Preta no Rio de Janeiro
Familiares de Marielle Franco falam ao lado de apoiadores no dia do julgamento dos assassinos da ativista, Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2024

Foto: Solon Neto/Alma Preta

31 de outubro de 2024

O histórico julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, mortos em março de 2018, deve ter um desfecho nesta quinta-feira (31).

A suspensão ocorreu apesar da expectativa gerada por um anúncio anterior da juíza Lúcia Glioche, do 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro, que conduz o julgamento, acompanhado pela Alma Preta no auditório do tribunal.

No início da noite, Glioche anunciou que a decisão do júri popular aconteceria ainda na sessão iniciada na manhã da quarta-feira (30). Com o avançar da hora, o julgamento foi suspenso perto da meia-noite e marcado para ser retomado às 8h desta quinta (31).

A sessão de mais de 12 horas, transmitida ao vivo no YouTube, ouviu oito testemunhas, sendo seis chamadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e duas pelas defesas de Lessa e Queiroz. Os acusados participaram da sessão por videoconferência. Ambos falaram de dentro das unidades onde estão presos — Lessa, da Penitenciária de Tremembé (SP), e Queiroz, do Centro de Inclusão e Reabilitação, em Brasília.

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O auditório onde os familiares e convidados acompanharam o julgamento dos acusados pelos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2024
O auditório no qual os familiares e convidados acompanharam o julgamento dos acusados pelos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2024 (Foto: Solon Neto/Alma Preta)

As testemunhas do MPRJ foram, na ordem de apresentação: Fernanda Gonçalves Chaves, ex-assessora de Marielle e sobrevivente do ataque; Marinete da Silva; mãe de Marielle; a vereadora Monica Benício (PSOL): viúva de Marielle; Ágatha Arnaus Reis, viúva de Anderson; Carlos Alberto Paúra Júnior, agente da Polícia Civil do Rio; e Luismar Cortelettili, também agente da Polícia Civil carioca. A perita criminal Carolina Rodrigues Linhares não compareceu, mas a gravação de um depoimento anterior foi exibida aos jurados.

Já as testemunhas de defesa, ambas de Ronnie Lessa, foram Guilhermo Catramby, delegado da Polícia Federal, e Marcelo Pasqualetti, agente federal.

Força e emoção de familiares, frieza e confusão dos assassinos

Ao longo dos depoimentos, os familiares das vítimas ouvidos foram questionados apenas pelos representantes do Ministério Público, que trouxeram questionamentos como o impacto afetivo, político e emocional dos assassinatos, a relação pessoal das testemunhas com as vítimas e a expectativa sobre o júri.

A escuta dessas testemunhas foi repleta de momentos de assertividade e intensa emoção que ecoaram também no auditório — com maioria de mulheres, principalmente negras —, composto por familiares e conhecidos das vítimas, convidados, jornalistas, funcionários e interessados que acompanhavam o julgamento.

Os familiares ouvidos diante do júri relataram a importância de Marielle e Anderson em suas vidas, descrevendo pessoas presentes, responsáveis afetivamente, profissionalmente promissoras e fundamentais em suas famílias. As imagens e mensagens de texto e áudio de ambos geraram momentos de forte emoção entre os presentes.

A escuta dos agentes, do delegado e da perita tiveram um conteúdo técnico de provas e descobertas das investigações sobre as circunstâncias dos crimes. A crueza dos dados apresentados foi ouvida de forma atenta pelos presentes, apesar da tecnicidade dos relatos.

Em frente ao Tribunal de Justiça do RJ, manifestantes formam corredor de flores para receber familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes durante manifestação antes do julgamento de seus assassinos, Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2024
Em frente ao Tribunal de Justiça do RJ, manifestantes formam corredor de flores para receber familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes durante manifestação antes do julgamento de seus assassinos, Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2024 (Foto: Solon Neto/Alma Preta)

Também motivo de muita emoção no auditório, mas principalmente de reações de dor e indignação foram os interrogatórios de Lessa e Queiroz. Lessa se destacou pela frieza e tranquilidade com que descreveu o planejamento minucioso dos brutais assassinatos. O executor dos disparos fez ainda longo desabafo pessoal, usou boa parte da fala descrevendo seus bens e fez um pedido de perdão. Entre os presentes, era palpável a incredulidade, além da dor e revolta.

Sensação semelhante tomou conta do auditório durante as falas de Queiroz, que dirigia o carro na noite dos assassinatos. Confuso e contraditório, o ex-policial-militar deu respostas constrangedoras para os promotores e assistentes de acusação e dolorosas para os familiares. Em vários momentos, Queiroz tentou minimizar sua participação nos crimes, alegou que não sabia o que aconteceria até pouco tempo antes dos disparos e gerou inquietação no auditório. Os representantes do MPRJ encurralaram o réu diante das respostas inconclusas. Antes das perguntas dos jurados, porém, a sessão foi suspensa.

Manifestações marcam início do julgamento

O julgamento foi assistido pelos familiares de Marielle e Anderson, incluindo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ao lado da mãe, Marinete da Silva, do pai, Antônio Francisco da Silva e da sobrinha, Luyara Franco, a ministra concedeu uma coletiva em frente ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro antes de se dirigir ao julgamento, no início da manhã da quarta-feira (30).

Em frente ao Tribunal de Justiça do RJ, familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes chegam a manifestação antes do julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2024
Em frente ao Tribunal de Justiça do RJ, familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes chegam a manifestação antes do julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2024 (Foto: Solon Neto/Alma Preta)

O Instituto Marielle Franco, com o apoio de movimentos sociais, realizou uma manifestação antes do início do júri popular para pressionar a Justiça pela condenação dos acusados. O ato teve início às 7h, seguido de uma caminhada. Com maioria feminina, o ato foi marcado por discursos e cartazes de mães de vítimas da violência do Estado, movimento marcado pela atuação da ex-vereadora no Rio. As vereadoras Monica Cunha (PSOL) e Thais Ferreira (PSOL) estavam no local, assim como o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL) e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.

  • Solon Neto

    Cofundador e diretor de comunicação da agência Alma Preta Jornalismo; mestre e jornalista formado pela UNESP; ex-correspondente da agência internacional Sputnik News.

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