PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Lélia Gonzalez: 90 anos de um legado inapagável na luta antirracista

Criadora do termo “Amefricanidade” e uma das pioneiras nos estudos da interseccionalidade, Lélia Gonzalez foi responsável por pavimentar as discussões sobre raça e gênero no país
A foto mostra a filósofa, ativista e socióloga, Lélia Gonzalez, considerada uma das mais importantes pensadoras do Brasil.

A foto mostra a filósofa, ativista e socióloga, Lélia Gonzalez, considerada uma das mais importantes pensadoras do Brasil.

— Reprodução / Fundação Cultural Palmares

5 de fevereiro de 2025

No dia 1 de fevereiro de 2025, uma das mais brilhantes intelectuais do Brasil completaria 90 anos. Antropóloga, filósofa, professora e política, Lélia Gonzalez é considerada pioneira nos estudos de gênero e raça do país, tendo construído um legado atemporal no debate acadêmico-científico contra o racismo. 

A filósofa nasceu em 1935, na cidade de Belo Horizonte (MG), filha de um homem negro operário e uma empregada indígena. Após se mudar para a capital fluminense ainda criança, formou-se em História e Filosofia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), local onde seguiu a carreira acadêmica com mestrado em Comunicação e doutorado em Antropologia Política.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Considerada visionária para estudiosos e movimentos sociais, a ativista é conhecida pela extensa contribuição no entendimento interseccional das múltiplas expressões do racismo na estrutura social brasileira, utilizada até hoje para pautar os debates sobre o tema.

As produções da filósofa, em especial o conceito de “amefricanidade”, em meados dos anos 1970, são objetos de estudo de diversas pesquisadoras, intelectuais e movimentos sociais. 

O termo se refere às experiências políticas e sociais vividas por comunidades negras e indígenas em oposição ao sistema colonial, além de discorrer sobre as influências dos povos originários na formação político-cultural de toda América. 

A autora ainda se aprofundou no papel exercido pela mulher negra na constituição da sociedade, através dos estereótipos de “mulata”, “doméstica” e “mãe preta”. Com questionamentos à hierarquia social entre mulheres negras e brancas, Lélia se tornou conhecida por “enegrecer” o feminismo.

Além de contribuir academicamente com a produção do pensamento social brasileiro, ela foi uma das fundadoras dos principais movimentos nacionais de resistência negra, o Movimento Negro Unificado (MNU). 

A ativista também participou da criação do Coletivo de Mulheres Neras N’Zinga e do Instituto de Pesquisas da Cultura Negra (IPCN).

Tentativa de Apagamento

Após sua morte, em julho de 1994, a autora passou por um apagamento no meio acadêmico, mesmo tendo desenvolvido teses fundamentais para a emancipação da comunidade negra e para o entendimento das estruturas de opressão na sociedade.

Em um contexto de universidades majoritariamente ocupadas por pessoas brancas, o pensamento de Lélia foi preterido por anos nas discussões relacionadas a gênero e raça. 

Os debates críticos da academia eram, em sua maioria, voltados para conteúdos produzidos por pensadores europeus e norte-americanos. Por anos, a autora foi raramente incluída nas bibliografias obrigatórias dos cursos de ciências humanas e seu reconhecimento permaneceu restrito a círculos militantes e intelectuais negros.

A defesa de seu legado e o resgate da intelectual tem sido reforçado por iniciativas de pesquisadoras negras e movimentos sociais, que revindicam seu espaço nas universidades.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano