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‘Há um projeto de comunicação para atacar as religiões de matriz africana’, afirma Mãe Beth de Oxum

Uma das principais lideranças de religiões afro do país, Mãe Beth de Oxum acredita na importância do jornalismo independente para enfrentar o cenário de violência imposto
Imagem mostra Mãe Beth de Oxum, uma mulher com adereço na cabeça e dreads. Ela usa uma blusa azul e fala no microfone durante o Festival Latinidades de 2023.

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom

2 de novembro de 2023

A ialorixá Mãe Beth de Oxum, artista e ativista política, é filha de Oxum, a dona das águas doces. Respeitada no universo da matriz africana, ela acredita que há um ataque orquestrado contra as religiões construídas pelo povo negro.

“O ataque às religiões de matriz africana é um projeto político pensado e arquitetado. Hoje ele é gestado nos Estados Unidos, com Steve Bannon e o Olavismo. Estava tudo lá pensado para ocupar a América Latina através das casas legislativas e, a partir daí, comprar por domínio econômico as mídias, rádios e TVs para fazer proselitismo”, afirma. 

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A religiosa acredita na existência de “um projeto de comunicação para atacar as religiões de matriz africana”.

A Alma Preta noticiou em 15 de julho de 2022 que o então vereador e agora deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), aliado de Jair Bolsonaro, responde a um processo depois de ter atacado religiões de matriz africana, em particular uma ação de Mãe Kelma de Yemanjá. O político utilizou um vídeo da religiosa durante uma cerimônia e fez chacota em suas redes sociais a respeito da entrega de um pequeno artefato da entidade Zé Pilintra ao ex-presidente Lula. 

Nikolas Ferreira disse que a entrega não deveria ser de “Zé Pilintra” e que o presidente deveria se anunciar como “eu sou pilantra”. Mãe Kelma de Yemanjá pede uma indenização de  R$ 16,5 mil por danos morais.

Para ela, é necessário lutar contra as concessões públicas feitas para as religiões que atacam as crenças do povo negro. “Eu acho que esse enfrentamento à questão da concessão de TV e rádio para a bancada evangélica é algo crucial nessa discussão. A gente vai ter que partir para a luta, porque o que está em jogo são nossas vidas”.  

Em 10 de julho de 2019, a Record exibiu um programa chamado “A Voz das Religiões Afro” depois de ser condenada a um direito de resposta depois de decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região de São Paulo. O processo foi movido depois de programas da Record News divulgarem a “demonização das religiões de matriz africana, valendo-se de diversas agressões a seus símbolos e ritos”.

A emissora recorreu, mas perdeu a ação, levando a firmar um acordo em janeiro com a Record News. A empresa foi liberada de exibir o programa em seu canal principal e a duração dos títulos também foi reduzida de 1 hora para 20 minutos cada.

Papel do jornalismo no combate ao racismo religioso

Mãe Beth de Oxum acredita que o jornalismo tem o potencial de difundir perspectivas e, por isso, acredita na necessidade de se pensar em uma comunicação diversificada, que represente a sociedade civil.

“Cadê a comunicação, rádio, TVs do povo preto, do povo indígena, dos terreiros, da cultura, das mulheres? A comunicação está tolhida, continua na mão de meia dúzia de famílias e a gente precisa garantir que essa comunicação seja democratizada. Esse é um enfrentamento difícil, porém necessário”, avalia.

Para a ialorixá, é fundamental construir uma comunicação diversa e que defenda os territórios de matriz africana. Segundo Mãe Beth, os terreiros são uma peça central para a garantia do povo negro.

“É a partir dos terreiros que a gente tem a luta que a gente tem, a resistência que a gente tem. É essa essência que liga a gente aos mais velhos, que liga a gente aos ancestrais, que liga a gente à terra. Esses valores que nos foram retirados e são criminalizados, é o que deixa a gente em pé, e que não cabe nessa branquitude e não cabe dentro desse projeto eurocêntrico que só valoriza o consumo e o dinheiro”. 

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  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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