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Mães de Maio: “O Estado é genocida e odeia jovens negros e pobres”

Movimento de defesa dos Direitos Humanos surgiu após 505 mortes violentas em maio de 2006 nas periferias de São Paulo  

Foto: Imagem I Arquivo pessoal

12 de maio de 2022

Em maio de 2006, foram várias semanas seguidas de toque de recolher nas periferias do Estado de São Paulo, por conta das execuções atribuídas a agentes das forças de Segurança Pública em resposta a ataques de uma facção criminosa, que atua dentro e fora dos presídios paulistas. O saldo daquele mês foi 505 civis assassinados, além de 59 servidores de órgãos ligados à Segurança Pública.

Os responsáveis pelas mortes de mais de 500 pessoas em maio de 2006 não tiveram julgamento e tão pouco um processo criminal. Segundo um estudo do Condepe (Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana), mais da metade das vítimas dos Crimes de Maio eram jovens negros, 80% delas tinham até 35 anos e apenas 6% possuíam alguma passagem pela polícia.

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“Os nossos mortos precisam de justiça, as mães querem que a honra dos seus filhos sejam reparadas, não eram bandidos, eles foram mortos por bandidos. Não era para serem executados brutalmente. O Estado é genocida, ele odeia os jovens, os negros e os pobres”,  declara Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio, criado após os crimes de Maio de 2006.

Em 2018, o CAAF (Centro de Antropologia e Arqueologia Forense), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) produziu o relatório “Violência de Estado no Brasil: uma análise dos Crimes de Maio de 2006 na perspectiva da antropologia forense e da justiça de transição”. O documento de 224 páginas apresenta evidências que relacionam a ação de agentes do Estado com a autoria dos assassinatos, além de trazer depoimentos de parentes das vítimas.

O Ministério Público de São Paulo, em 2019, entrou com uma ação civil pública contra o Estado pelo massacre de maio de 2006 que pede uma indenização de R$153,5 milhões para as famílias das vítimas e feridos, além de um pedido formal de desculpas. A ação segue em tramitação.

“O modo de atuar da polícia, com desprezo pelos oficiais de baixa patente e tolerando a formação de grupos de extermínio dentro da própria corporação, traços típicos do regime de exceção que vigorou entre 1964 e 1985, possibilitou o clima de revanchismo que resultou no assassinato de 505 civis em 2006”, diz uma trecho da ação do MP.

Entre 12 e 21 de maio de 2006, grupos de extermínio armados mataram 425 pessoas e foram responsáveis por mais quatro desaparecimentos, nas semanas seguintes foram registradas outras 80 execuções com características semelhantes nas periferias da capital, região metropolitana e no litoral, sobretudo na Baixada Santista.

Os ataques às forças de segurança no Estado de São Paulo começaram em 12 de maio, quando também aconteceram rebeliões em mais de 70% dos presídios paulistas.

A luta

A repercussão dos crimes de maio de 2006 e as tentativas de conseguir Justiça para as execuções só foram adiante por conta da dedicação da ativista Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio.

Débora é uma das responsáveis pela criação de uma rede de mães, ativistas, operadores do Direito, jornalistas e pesquisadores que atuam com a temática de segurança pública e direitos humanos. As Mães de Maio produziram livros, documentários, filmes, debates e seminários para denunciar a violência do Estado e o genocídio da população negra, pobre e periférica.

Em abril de 2022, Débora recebeu o prêmio de melhor atriz-coadjuvante no Festival de Málaga, na Espanha, pelo filme “A Mãe”, com direção de Cristiano Burlan, cineasta do Capão Redondo, zona Sul de São Paulo, autor de filmes e documentários sobre feminicídio e violência do Estado. No filme, Débora faz o papel de uma mãe que dá acolhida e apoio a outras que tiveram filhos vítimas de desaparecimento.

O início do ativismo de Débora contra o genocídio dos jovens periféricos parte de uma história de luto. O filho dela, Edson Rogério da Silva, foi assassinado na cidade de Santos, em 15 de maio de 2006, em um dos ataques feitos por grupos de extermínio.

Neste dia 13, o Movimento Mães de Maio realiza um protesto em frente ao Fórum João Mendes, a partir das 15h, na praça da Sé. No dia 14, acontece um ato no Memorial às Vítimas dos Crimes de Maio, na cidade de Santos, também a partir das 15h. Entre os dias 16 e 20 de maio vai acontecer o encontro estadual das Mães de Maio do Nordeste, em Salvador, na Bahia.

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