O avanço em debates sobre a inclusão racial acendeu um alerta no campo empresarial. Como forma de abraçar a representatividade, planos estratégicos são reformulados em prol da adoção de uma imagem acolhedora. Contudo, nem todo redirecionamento de identidade soa genuíno. A mais recente edição do estudo Oldiversity, desenvolvido pelo Grupo Croma, revela que 52% da população negra acredita que as marcas não são autênticas quando falam sobre diversidade.
Como consequência do processo de colonização do Brasil, pessoas pardas e pretas foram marginalizadas pela sociedade. Por décadas, a representação desses grupos na mídia foi restringida à posição de coadjuvante, limitada ao alívio cômico ou à abordagem estereotipada de suas vivências.
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A união entre pessoas negras, fortalecida nos anos 1970, com a criação do Movimento Negro Unificado (MNU) em meio à ditadura militar, fez com que a pauta ganhasse maior visibilidade na esfera sociopolítica. Gradualmente, as demandas do grupo passaram a ser ouvidas e novas perspectivas sobre a inclusão racial entraram em discussão.
Para Edmar Bulla, CEO do grupo Croma e idealizador do estudo, “incluir elementos diversos e representar efetivamente a diversidade nas propagandas estampa a diversidade cotidiana, que é natural e deve ser valorizada. Marcas podem desempenhar um papel importante na desconstrução de estereótipos, preconceitos e discriminações”.
É notório que há uma maior preocupação na forma como as empresas lidam com a diversidade. O discurso progressista, porém, não é colocado em prática em diversas ocasiões. A pesquisa Oldiversity aponta que 44% dos respondentes negros já foram vítimas de intolerância no trabalho; 73% acreditam que as empresas discriminam pessoas pretas no processo de contratação.
A publicidade não passa ilesa das críticas. Entre o mesmo grupo de entrevistados, 59% afirmam que as propagandas mostram algo que não corresponde à realidade; 43% não se identificam com produtos comunicacionais que abordam a diversidade; e 40% acreditam que, no Brasil, a propaganda é racista.
“Empresas e marcas devem adotar uma postura atuante para superar o preconceito em relação às pessoas pretas. A criação de debates, o estímulo ao respeito mútuo e a adoção de políticas de empregabilidade e de impacto social são elementos para a construção de uma sociedade mais inclusiva”, opina Bulla.
Por uma avaliação geral, entre os grupos LGBTQIAPN+, PCDs, pretos e 61+, as marcas mais ligadas à longevidade e à diversidade são a Natura (33%), O Boticário (12%), Avon (6%) e Globo (6%). Neste ano, pela primeira vez, a emissora escalou três protagonistas negras para suas novelas: Gabz, em “Mania de Você”; Jessica Ellen, em “Volta por Cima”, e Duda Santos, em “Garota do Momento”.
A inclusão no ambiente profissional e midiático não é mais uma opção, mas uma demanda popular. Hoje, empresas que não se atentam ao próprio nível de representatividade não são capazes de estabelecer uma comunicação efetiva com o público – afinal, não há como simpatizar com o conteúdo propagado se não há possibilidade de identificação. Portanto, é preciso desconstruir parâmetros arcaicos para progredir enquanto sociedade.
“Observando campanhas assim, vemos uma tendência de abranger cada vez mais públicos, mostrando respeito e valorização por todo tipo de diversidade. Isso está muito relacionado ao que grande parte do público quer ver e consumir. Ainda assim, a mudança de postura tem que ir além de campanhas publicitárias. Mas é importante reconhecer que, talvez, algumas transformações positivas já estejam acontecendo”, finaliza Bulla.