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Melânia Luz: a primeira negra brasileira nas Olimpíadas

A corredora participou dos Jogos Olímpicos de Londres em 1948, aos 20 anos
Mesmo Melânia não conseguindo resultados expressivos em sua participação olímpica, ela é até hoje considerada pioneira no esporte

Foto: Reprodução/SPFC

13 de junho de 2024

Após 12 anos de espera, os Jogos Olímpicos voltaram a acontecer em 1948. O mundo estava se reconstruindo após a Segunda Guerra Mundial e o evento era um símbolo da retomada da normalidade. Para competir em Londres, o Brasil montou uma delegação de 81 atletas, incluindo 11 mulheres, um aumento de cinco em relação à edição anterior, em Berlim 1936.

Além de voltar a competir, os brasileiros estavam emocionados com a primeira viagem de avião da equipe. Até então, os atletas chegavam à Europa de navio. No entanto, em meio a esse frenesi, um feito pioneiro passou despercebido na época e só foi reconhecido e reverenciado décadas mais tarde.

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Entre as esportistas brasileiras que embarcaram no voo da PanAir para o Reino Unido estava a corredora Melânia Luz, uma mulher negra que fez história ao se tornar a primeira a representar o Brasil em Jogos Olímpicos.

Melânia nasceu em São Paulo, no bairro do Bom Retiro, em 17 de maio de 1928. Embora o registro do seu nascimento tenha sido feito apenas em 1º de junho, ela sempre comemorou seu aniversário em ambas as datas. Filha de Maria Aparecida da Luz e João Batista da Luz, uma dona de casa e um policial militar, Melânia cresceu no bairro do Canindé, onde desenvolveu sua paixão pelo esporte.

Um dia, ao assistir a uma competição de atletismo no clube São Paulo, Melânia recebeu o convite para começar a treinar. Ela aceitou e nunca mais parou. Sua jornada como atleta começou aí, e ela se tornou uma pioneira no esporte brasileiro.

Auge

A carreira de Melânia Luz alcançou seu ápice quando ela participou dos Jogos Olímpicos de Londres em 1948, aos 20 anos. Na época, as mulheres da equipe brasileira não eram incentivadas a se misturarem com os homens, mas Melânia, como única atleta negra e sem muita afinidade com as demais atletas, se sentia mais à vontade com seus conhecidos. Por isso, ela desafiava as restrições impostas pela delegação para passar tempo com seus amigos de São Paulo, Adhemar Ferreira da Silva e os pugilistas Ralph Zumbano e Vicente dos Santos, que também competiram em Londres.

Na pista, Melânia não conseguiu resultados expressivos, ficando fora das finais. Nos 200m rasos, ela foi a quarta colocada em sua bateria eliminatória, com um tempo de 26s6. No entanto, no revezamento 4x100m, ela conseguiu superar o recorde sul-americano ao lado de suas companheiras, mesmo sem estar na briga por medalhas.

Melânia participou de vários campeonatos sul-americanos entre 1947 e 1958, conquistando medalhas importantes, como o bronze nos 100m e a prata nos 200m em Santiago em 1947, e a prata nos 200m em Lima em 1949. Como atleta do São Paulo, sua principal conquista foi o título dos 200m rasos e o vice-campeonato dos 100m no Campeonato Brasileiro de 1946.

Além de sua carreira esportiva, Melânia também estudava e trabalhava. Ela recebia uma bolsa de estudos em um colégio particular enquanto treinava no São Paulo. Quando terminou o ensino médio, começou a trabalhar e teve menos tempo para se dedicar aos treinos. Ela atuou durante cerca de três décadas como técnica de laboratório, dividindo seu tempo entre o Instituto de Saúde e a Santa Casa de Misericórdia, e posteriormente também prestou serviços ao Complexo Hospitalar Padre Bento.

A rotina puxada de dois empregos e treinos não permitiram a Melânia se manter em alto nível por muito tempo, e ela não conseguiu chegar aos Jogos Olímpicos de Helsinque em 1952. Na época, o atletismo era praticamente amador e não se ganhava o suficiente para viver do esporte.

Melânia Luz (Reprodução)

Uma vida proporcionada pelo esporte

Melânia só compreendeu o impacto de seu pioneirismo como atleta muitos anos após pendurar as sapatilhas. Embora sua carreira tenha sido curta, ela transformou sua vida de maneira profunda. Graças às suas passadas nas pistas, Melânia conseguiu viajar pelo mundo, conhecer novas pessoas e ser reconhecida.

O esporte também moldou sua vida pessoal de forma significativa. Em uma viagem para competir no Rio de Janeiro, conheceu Waldemir Osório dos Santos, atleta do Vasco, e foi amor à primeira vista. O casal teve uma filha, Marília Emília.

A família morava em São Paulo e, aos fins de semana, ia ao Clube Esperia ou ao Clube Tietê para praticar esportes. 

Os dois ficaram casados por 29 anos, e foi Melânia quem cuidou do então ex-marido no fim da vida. Após a morte de Waldemir, a atleta voltou a competir em torneios da categoria máster, destacando-se no Mundial de 1997, na África do Sul.

A mente de Melânia começou a falhar em 2007, quando ela foi diagnosticada com Mal de Alzheimer. A ex-atleta morreu em 21 de junho de 2016. Em 2022, Melânia foi homenageada com um lugar no Hall da Fama do Comitê Olímpico Brasileiro, reconhecendo sua contribuição para o esporte

  • Caroline Nunes

    Jornalista, pós-graduada em Linguística, com MBA em Comunicação e Marketing. Candomblecista, membro da diretoria de ONG que protege mulheres caiçaras, escreve sobre violência de gênero, religiões de matriz africana e comportamento.

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