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Ministério Público resgata documentos públicos da escravidão vendidos ilegalmente por colecionadores

Os registros do século 19 revelam mortes e castigos de pessoas escravizadas
Documentos da escravidão recuperados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, no Rio Grande do Sul.

Documentos da escravidão recuperados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, no Rio Grande do Sul.

— GAECO/MPRS

25 de abril de 2025

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) resgatou documentos históricos e de origem pública do período da escravidão durante operação realizada em Capão da Canoa e Porto Alegre. 

O material havia sido divulgado nas redes sociais por dois irmãos investigados por vender livros raros. A dupla oferecia os documentos  por até   R$ 10 mil.

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Os registros recuperados foram produzidos por órgãos do governo imperial na antiga província de Rio Grande, com datas entre 1857 e 1859. Um dos documentos detalha óbitos de pessoas escravizadas. Outro relaciona penas e castigos aplicados a essas pessoas por crimes definidos pelo sistema escravocrata da época. Ambos são de origem pública e deveriam estar sob a guarda de instituições arquivísticas oficiais.

Irmãos exibiam os exemplares nas redes sociais. Foto: GAECO/MPRS

De acordo com o GAECO, há indícios de que um dos documentos foi furtado do museu de Arroio Grande, em 2012, e outro do cartório de Rio Grande. Os fatos estão sob investigação. Outros dois documentos vendidos para compradores em Minas Gerais também estão sendo rastreados.

Em um sebo na capital, a operação também recuperou um registro de emancipação de pessoas escravizadas e dois volumes de registros de exportações do porto de Rio Grande, igualmente do século 19.

A operação e os envolvidos

A ação ocorreu em 25 de abril e foi coordenada pelo promotor de Justiça Rogério Meirelles Caldas, do 10° Núcleo do GAECO/Sul. Contou com o apoio de quatro servidores do Arquivo Público do Estado e da Brigada Militar. Os documentos foram apreendidos em um dos endereços dos irmãos investigados, que já divulgavam os itens em redes sociais, sites e um canal no YouTube.

A equipe do Arquivo Público confirmou a veracidade dos materiais e iniciou os procedimentos para análise mais aprofundada e definição de destino arquivístico.

Além da tentativa de venda, os investigados manusearam os documentos sem luvas, o que representa risco de deterioração. As peças podem ter sido armazenadas de forma inadequada, expostas à umidade, luz solar direta e variações de temperatura, agravando os danos.

Os crimes apurados incluem destruição, supressão ou ocultação de documentos públicos (artigo 305 do Código Penal); dano a bem protegido por lei (artigo 62 da Lei de Crimes Ambientais); e violação à Lei Federal 8.159/1991, que trata da política nacional de arquivos públicos e privados.

Medidas tomadas

Após o resgate, os documentos serão encaminhados ao Arquivo Público do Estado para análise de conservação e eventual restauração. Também será verificada a possibilidade de ampliação da divulgação pública do material, para que sirva como fonte de conhecimento histórico.

O GAECO investiga como os documentos chegaram às mãos dos investigados e se há mais itens históricos desviados.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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