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Investigação da Agência Pública revela relação de antepassados de políticos brasileiros com a escravidão

Investigação mapeia árvores genealógicas de autoridades e identifica conexões com escravização e repressão no período colonial e imperial
Imagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), um dos políticos citados pelo Projeto Escravizadores, da Agência Público, que têm antepassados diretos ligados à escravização de pessoas.

Foto: Reprodução

19 de novembro de 2024

Uma investigação inédita da Agência Pública, intitulada Projeto Escravizadores, revelou que um número significativo de políticos brasileiros têm antepassados diretos relacionados à escravização de pessoas, à utilização de mão de obra escravizada ou à repressão de revoltas durante o período colonial e imperial. 

O estudo, com apoio do Pulitzer Center, analisou as genealogias de 116 autoridades, incluindo presidentes pós-ditadura, senadores e governadores, revelando que ao menos 33 deles têm conexões históricas com a escravidão.

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Entre os investigados estão metade dos presidentes brasileiros após o regime militar (José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso), 16 dos atuais 81 senadores (20%) e 13 dos 27 atuais governadores estaduais (48%).

Heranças de um passado escravista

O levantamento identificou uma ampla gama de vínculos com a escravidão. Por exemplo, o tataravô do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, coronel José Manoel da Silva e Oliveira, utilizou mão de obra escravizada em empreitadas de mineração nas capitanias de Minas Gerais e Goiás. Relatos históricos indicam que muitas pessoas escravizadas morreram tragicamente durante essas explorações devido a condições de trabalho desumanas e doenças.

A pesquisa também encontrou registros de antepassados de políticos que empregaram pessoas escravizadas em atividades agrícolas, como cultivo de cana-de-açúcar, algodão e fumo, especialmente em fazendas do Nordeste. Outros registros mencionam pessoas escravizadas desempenhando funções domésticas, como cuidar de idosos ou acompanhar seus senhores em viagens.

Metodologia com base em documentação histórica

Para traçar as conexões genealógicas, o Projeto Escravizadores utilizou mais de 200 vínculos de parentesco, analisando cerca de 500 documentos históricos, incluindo registros paroquiais e cartorários, jornais antigos, arquivos públicos e estudos acadêmicos.

A pesquisa abrangeu todos os presidentes brasileiros desde o fim da ditadura em 1985, assim como todos os senadores e governadores em exercício. Os políticos identificados foram procurados para responder à investigação e avaliar os dados apresentados, mas poucos se manifestaram.

Entre os senadores com antepassados ligados à escravidão estão nomes como Soraya Thronicke (Podemos-MS), Jader Barbalho (MDB-PA) e Marcos Pontes (PL-SP). Entre os governadores, estão Helder Barbalho (MDB-PA), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Raquel Lyra (PSDB-PE). A lista completa pode ser consultada na reportagem da Agência Pública.

Segundo a Agência Pública, o Projeto Escravizadores não busca responsabilizar diretamente os políticos pelos atos de seus antepassados, mas evidenciar como a escravidão, enquanto sistema econômico e social, moldou as estruturas de poder no Brasil e seus reflexos nos dias atuais.


Texto com informações da Agência Pública.

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