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Movimentos garantem inscrição de mais de 500 estudantes negros no Enem

16 de junho de 2020

Movimento Amplia e Pretos no Enem receberam milhares de inscrições de pessoas dispostas a pagar a inscrição dos alunos; Amplia lança agora uma segunda campanha para auxiliar no preparo até o exame

 Texto: Beatriz Mazzei | Edição: Nataly Simões | Imagem: Mariana Leal/MEC

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De forma auto organizada e com apoio de voluntários, as iniciativas Movimento Amplia e Pretos no Enem garantiram o pagamento da inscrição de 506 estudantes negros no maior vestibular do país, o Exame Nacional do Ensino Médio.

O Movimento Amplia, que também destinou a campanha a estudantes indígenas, alcançou 52 mil pessoas dispostas a ajudar financeiramente nas cinco regiões do Brasil. Ao todo, os “padrinhos” e “madrinhas”, como são chamados os apoiadores, pagaram efetivamente R$ 10 mil em boletos, auxiliando todos os 120 alunos que enviaram boletos ao movimento. Entre os estudantes, 93% são negros e 77% são mulheres. A raça foi autodeclarada pelos próprios candidatos via relatório.

Com alcance em todas as regiões do país, 53% dos beneficiados são do Sudeste e 31% do Nordeste. O auxílio chegou em todos os estados brasileiros, tendo maior percentual de alunos no Rio de Janeiro (24%), Bahia (16%) e São Paulo (13%).

Dos estudantes que receberam a ajuda, seis em cada 10 têm entre 15 e 20 anos. É o caso de Trinity, de 17 anos, moradora de Ermelino Matarazzo, na periferia da Zona Leste de São Paulo. “Com a pandemia as coisas apertaram aqui em casa. Minha irmã foi demitida e só minha mãe está sustentando a casa, então pagar a taxa não se tornou viável e nem uma prioridade”, conta a aluna, que pretende cursar Ciências Sociais.

De acordo com o idealizador do Movimento Amplia, o professor Cristiano Ferraz, entrar em contato com os alunos que precisavam da ajuda financeira foi a parte mais complicada do processo. “Essas ações viralizaram na internet dentro de bolhas, então foi muito difícil alcançar o estudante de periferia que tem um acesso precário à internet”, relata. Para isso, o movimento contou com o apoio de organizações e cursinhos populares com acesso direto aos alunos.

Segundo o Anuário Brasileiro de Educação Básica de 2019, 70 milhões de pessoas não possuem internet de qualidade em todo o país e mais de 42 milhões nunca tiveram acesso à rede.

O Pretos no Enem, outra iniciativa com o mesmo propósito, conseguiu ajudar todos os alunos que entraram em contato via formulário, garantindo a inscrição de 386 inscritos. O movimento começou a partir de um tweet da publicitária Lyara Vidal se prontificando a pagar o boleto de estudantes negros no exame. A iniciativa chamou atenção do podcaster Luan Alencar. Juntos, os dois mobilizaram voluntários para coordenar a ação.

Com ações antirracistas, ambos os projetos promoveram a ponte entre alunos negros e indígenas que não puderam pagar os boletos e os interessados em financiar. Sem envolver transferência bancária, toda a comunicação foi feita a partir do preenchimento de formulários com informações de contato e de quantas taxas poderiam pagar. Em um segundo momento, os voluntários dos movimentos enviaram os boletos dos estudantes para os “padrinhos” e “madrinhas”. Após o pagamento, os comprovantes foram encaminhados para os alunos.

As duas iniciativas começaram após adiamento do prazo de inscrição do Enem. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), cerca de 300 mil candidatos inscritos não haviam pago a inscrição até o dia 2 de junho, o que levou a prorrogação da data limite para 10 de junho.

Próximos passos

Empolgados com a base de 52 mil apoiadores dispostos a pagar as inscrições, o Movimento Amplia lançou uma segunda campanha com ação mais prolongada. O “Siga Firme” tem como objetivo ajudar os estudantes que já foram beneficiados a se prepararem para a prova.

“Garantimos a inscrição, mas a gente sabe que infelizmente essa não é a única barreira que o estudante vai enfrentar para conseguir prestar o Enem e ingressar no Ensino Superior”, explica Cristiano.

Com isso, o programa focará nas demandas relacionadas ao acesso à internet, alimentação adequada e transporte para a realização do exame. Os apoiadores poderão contribuir com a adesão de diferentes pacotes que garantem benefícios que vão desde auxílio-alimentação e acesso à internet até mentoria, tutoria e materiais didáticos.

O Enem, que ocorreria em novembro, foi adiado após críticas de diversas entidades estudantis acerca da manutenção da data. De acordo com essas instituições, manter a data nesse contexto de isolamento social dificultaria a preparação dos alunos, que estão sem aulas presenciais.

Outro ponto colocado para defender o adiamento é o aumento das disparidades entre alunos com fácil acesso à internet e boas condições de home scholling e alunos periféricos com dificuldades em relação à qualidade da internet e rotina de estudos em casa.

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