O estudo “Perfil das Mulheres Empreendedoras do Novo Eixo – Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste”, realizado pela aceleradora Be.Labs, especializada em negócios para mulheres, traçou o perfil das mulheres empreendedoras dessas regiões do país. A pesquisa aponta que essa mulher tem em média 42,4 anos, boa parte é negra (56,6%), mãe (75,9%), mais da metade (50,6%) é chefe de família, tem boa escolaridade (30,1% com pós-graduação e mais 21,6% com ensino superior) e, em geral, não tem o negócio como única fonte de renda (71,2%).
Geralmente, as mulheres criam negócios para sustentar suas famílias, movimentar suas comunidades e por autorrealização, desafiando um sistema que ainda impõe barreiras ao seu crescimento. Em meio a esse cenário, mesmo com todos os obstáculos, 87,6% delas não trocariam o seu negócio por um emprego formal com carteira assinada.
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A pesquisa indica que o empreendedorismo feminino tem se consolidado como uma força-motriz para a transformação social e econômica das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Apesar dos desafios estruturais e da sobrecarga imposta pela economia do cuidado, as mulheres empreendedoras dessas regiões têm demonstrado resiliência e inovação na gestão de seus negócios.
“Apesar das particularidades de cada região, há desafios comuns entre as empreendedoras do que eu chamo de Novo Eixo. Os dados trazem a realidade de que empreender não é apenas uma opção para as mulheres, mas um caminho de autonomia e transformação”, destaca Marcela Fujiy, fundadora da Be.Labs.
O levantamento revela que os segmentos mais comuns de atuação dessas empreendedoras incluem alimentação (25,7%), moda e beleza (23,5%), artesanato e personalizados (17,3%) e serviços (15,4%), áreas que geralmente exigem menor capital inicial e que, de alguma forma, as mulheres já têm algum tipo de conhecimento, o que facilita o início do trabalho.
Em termos de formalização dos negócios, cerca de 65% têm CNPJ. A grande maioria (94%) tem seu registro como Microempreendedora Individual (MEI) e remuneração compatível com esse tipo de empresa. O estudo mostra que a alta escolaridade não garante, necessariamente, maior renda ou segurança financeira: 53,9% das entrevistadas recebem mensalmente entre um e três salários mínimos e 21,3% contam com uma renda inferior a um salário mínimo.
A dificuldade de acesso a crédito, a sobrecarga das responsabilidades domésticas e a necessidade de ampliar redes de apoio são desafios comuns entre as empreendedoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Essas barreiras persistentes limitam a escalabilidade dos negócios femininos. Além disso, muitas dessas mulheres enfrentam preconceitos de gênero e estruturais que, além de dificultar o reconhecimento e a valorização de seus empreendimentos, também limitam suas oportunidades de crescimento e visibilidade”, reforça Marcela.
Sororidade
Ao começar a empreender, a mulher influencia e transforma sua própria vida, a da sua família e da sua comunidade, em um efeito cascata. Segundo a pesquisa, 73,8% das entrevistadas acreditam que suas ações geram impacto positivo em aspectos como geração de empregos, promoção de ações sociais e difusão da cultura e arte locais.
Para grande parte dessas empreendedoras, o apoio de outras mulheres é decisivo para enfrentar os desafios do mercado. O levantamento mostra que 41,8% afirmam contar “frequentemente” com esse suporte, reforçando que compartilhar experiências, dicas e aprendizados é fundamental para superar obstáculos diários. Além disso, 54,9% das entrevistadas se inspiraram em outras mulheres para iniciar seus negócios, demonstrando como a visibilidade e a representatividade desempenham um papel importante no empreendedorismo.
Os dados enfatizam que a inspiração coletiva e a troca de experiências são alicerces fundamentais para a consolidação de redes de apoio e que investir em sororidade não só impulsiona o crescimento individual de cada empreendedora, mas desencadeia um movimento transformador que beneficia comunidades inteiras.

Desafios de cada região
Analisando os dados por região, é possível perceber um perfil mais próximo entre as empreendedoras do Norte e do Nordeste. No Nordeste, o perfil é multifacetado, marcado por desafios e conquistas que refletem trajetórias pessoais e profissionais. Os dados revelam que 52% são chefes de família, cerca de 60% são negras, 72,1% não têm o negócio como sua principal fonte de renda, embora 63,6% tenham a formalização com CNPJ. Dentre as nordestinas, aproximadamente 25% atuam com alimentação. O levantamento mostra um cenário consolidado em relação à pesquisa anterior realizada pela Be.Labs no Nordeste, em 2023.
As mulheres que empreendem na região Norte enfrentam uma realidade complexa, marcada pela diversidade, por desafios estruturais e pelo desejo de transformação social e econômica. Segundo a pesquisa, 58,9% se identificam como pardas e 10% como pretas, 65,3% não têm o negócio como sua principal fonte de renda, 76,8% têm CNPJ e 42,5% atuam no ramo da alimentação.
As empreendedoras do Centro-Oeste têm um perfil dinâmico e resiliente, equilibrando tradição e inovação. Mais da metade (51,5%) é chefe de família, 53,3% se identificam como brancas, 74,2% têm um negócio formalizado com CNPJ, 66,7% declaram ter outra fonte de renda e 23,6% atuam no segmento de serviços.
Apesar das particularidades de cada região, há desafios comuns entre as empreendedoras. “Os números desta pesquisa não são apenas estatísticas. São o retrato da luta diária das empreendedoras do Novo Eixo e um chamado à ação. O empreendedorismo feminino não é só sobre negócios – é sobre impacto, autonomia e transformação coletiva”, afirma Marcela.
A pesquisa foi desenvolvida em 2024 por meio de um questionário on-line e recebeu 601 respostas válidas de empreendedoras do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste do Brasil. O “Perfil das Mulheres Empreendedoras do Novo Eixo – Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste” é o terceiro estudo realizado pela Be.Labs. A aceleradora já produziu uma pesquisa sobre o perfil da mulher empreendedora nordestina, o retrato da mulher no agro, além de seus relatórios anuais.