Na madrugada do dia 22 de março, Matheus Souza Santos, de 21 anos, foi morto por policiais com tiros de fuzil e pistola. O fato ocorreu no bairro do Saboó, em Santos (SP), e a polícia alega que o jovem e os demais acusados de envolvimento estavam armados, na posse de drogas e outros itens do tráfico.
A família nega as acusações e conta que Matheus era trabalhador, que atuava em diferentes atividades, como monitor de festas infantis e funcionário esporádico de um lava-jato. “O Matheus era um jovem de 21 anos, uma pessoa boa, de coração assim. Ele fazia bicos de segurança em baladas, fazia bico de monitor de brinquedo em festa infantil, trabalhava em lava rápido”, dizem os familiares ouvidos pela Alma Preta.
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Testemunhas contam que o rapaz primeiro foi baleado no braço, tentou fugir, mas por não resistir aos ferimentos, caiu no chão e foi alcançado pelos agentes de segurança. Os relatos indicam que, ainda no chão, Matheus Souza Santos disse “não me mata, senhor”, o que não impediu os policiais de efetuar mais disparos e o jovem perdeu sangue até falecer.
“O Matheus foi vítima dessa operação horrível. Não era uma Operação Verão, era uma operação chacina, operação vingança”, afirmam os familiares.
De acordo com o Boletim de Ocorrência, os policiais militares Sidnei Marques da Silva e Danilo Rocha Mendes Gonçalves estavam em patrulha na região depois de receberem uma denúncia anônima sobre tráfico de drogas.
Quando chegaram ao local, se depararam com três homens e, ao menos dois, apontaram armas na direção dos agentes de segurança pública. Sidnei fez um disparo de fuzil e Danilo, outro de pistola. Os demais indivíduos fugiram do local e Matheus Souza Santos ficou, pelo fato de ter sido alvejado.
Os policiais contam que o jovem foi socorrido pelo Resgate para a Santa Casa de Santos, mas não resistiu e faleceu. Ao lado dele, os policiais afirmam ter encontrado um revólver, 157 porções de maconha e R$ 939 em espécie. O caso foi registrado pelo escrivão de polícia Evelise Pomo e pelo delegado Luiz Fernando Salvador.
Familiares do jovem morto contestam versão da polícia
A versão da polícia é contestada por familiares. Segundo eles, Matheus estava sentado com os amigos quando foi baleado. Eles ainda contam que o jovem ficou sangrando no chão e os policiais isolaram a área para que ninguém prestasse socorro. O Resgate foi chamado pelos vizinhos e não pelos policiais, de acordo com os familiares. A família também diz que os policiais lavaram a cena com uma vassoura, que ficou no local do crime e foi registrada em vídeo.
Os familiares contam que todos ficaram impactados com a notícia e a maneira como o jovem foi descrito, como alguém que estava armado e no porte de drogas. “Todo mundo conhecia ele. As pessoas me falaram que ele não vendia droga, não portava arma. Digamos, lugar errado e hora errada, porque ele estava de madrugada na rua, com amigos fina, no Saboó, uma comunidade. Se ele estivesse no Gonzaga (bairro de classe média) de madrugada, não teria acontecido”.
Com o outro rapaz alvejado pelos tiros e que sobreviveu à ação, a polícia afirma ter encontrado três rádios transmissores, um coldre, uma mochila, um caderno com anotações do tráfico, sete comprimidos de ecstasy, 40 porções de haxixe, 44 porções de skunk e 363 porções de cocaína.
Ele foi conduzido até a delegacia depois de ter tido alta hospitalar, confirmou a versão dos policiais e foi preso. Os agentes de segurança contaram ser impossível identificar os demais indivíduos por conta da falta de luz do horário e que viram apenas as “labaredas” advindas dos disparos das armas de fogo.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) afirmou que “um homem de 21 anos morreu e outro, de 20, foi preso após um confronto com policiais militares, na manhã de 22 de março, no bairro Saboó, em Santos. Os agentes foram ao local verificar uma denúncia de tráfico de drogas quando viram três indivíduos, dois deles armados.”
De acordo com a pasta, “ao perceber a aproximação dos policiais, um dos suspeitos apontou a arma para os PMs, que intervieram. Um homem foi baleado e seus comparsas conseguiram fugir. O baleado foi levado à Santa Casa de Santos, mas não resistiu. Com ele, foi apreendido um revólver calibre 357, rádios comunicadores, uma quantia em dinheiro e uma mochila com porções de drogas entre ecstasy, haxixe, skunk, cocaína e maconha.”
A SSP disse ainda que todas as circunstâncias relativas ao caso são investigadas pela 3º Delegacia de Homicídios do DEIC de Santos e pela Polícia Militar, com o acompanhamento da Corregedoria, Ministério Público e Poder Judiciário.