Em Mossoró, segunda cidade mais violenta do Rio Grande do Norte, juventude negra é a principal vítima da violência; Alma Preta publica uma série de reportagens sobre a cidade e o estado
Texto: Luane Fernandes da Agência Hiperlab | Edição: Pedro Borges | Imagem: Demis Roussos/Governo do Rio Grande do Norte
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As vítimas da violência potiguar possuem cor, endereço e classe social. A região se mostrou uma cidade violenta e perigosa para se viver, principalmente para os jovens negros e de periferias. Quem afirma isso são os dados divulgados pelo Observatório da Violência (OBVIO), — entidade não governamental que monitora, contabiliza e analisa as mortes violentas intencionais no Estado, ligada à Secretaria Estadual de Segurança Pública (SESED-RN).
A violência em Mossoró atinge mais expressivamente os jovens entre 18 a 28 anos. Eles são maioria entre as vítimas no RN, em 2019. Pessoas entre 25 e 29 anos chegam a representar 15,6 % das mortes violentas. A pesquisa observou os 10 primeiros meses do ano de 2019, entre janeiro e outubro. Ao todo, 396 pessoas desse grupo de idade morreram em decorrência da violência. O levantamento ainda indica que 8,7% dos adolescentes entre 12 e 17 anos também fazem parte desses índices.
Ainda segundo o OBVIO, no Rio Grande do Norte, entre 2011 e 2018, o principal alvo de mortes violentas no Estado são pretos e pardos, grupos de cor que compõem o segmento racial negro. Eles representam 85% das vítimas. Deste total, 49% tinham entre 18 e 29 anos, 31% não tinham sequer completado o ensino fundamental, 54% não exerciam atividade remunerada e 39% ganhavam até dois salários mínimos.
De acordo com estudo produzido pelo Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2007 a 2017, a desigualdade de raça nas mortes violentas intensificou-se no Brasil. A taxa de negros assassinados cresceu 33,1%, enquanto a de não negros apresentou um aumento de 3,3%. Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídio eram pretas ou pardas. Novamente, o Rio Grande do Norte assume o topo da lista, com 87 mortos a cada 100 mil habitantes negros, mais que o dobro da taxa nacional.
Em Mossoró, os bairros afastados do centro da cidade são os mais afetados pela violência, assim como comunidades da zona rural. Ainda de acordo com levantamento do OBVIO, no período dos oito primeiros meses de 2015 a 2019, 573 jovens foram mortos na cidade. A maioria dos crimes aconteceu no bairro Santo Antônio (76), seguido pela zona rural, com 64 casos, e o bairro Belo Horizonte com 62 mortes. Mossoró é apontada como a segunda cidade mais violenta do Estado potiguar, ficando atrás somente da capital. Natal somou 246 homicídios em 2019 e Mossoró 178.
Entre janeiro e outubro do ano de 2019, os assassinatos no Estado somaram 1.206. Mesmo com a onda de violência crescente em 2019, os homicídios ainda apresentam uma redução de 29,3% em comparação ao mesmo período do ano anterior, onde foram registrados 1.708 assassinatos.
Neste cenário onde dar de cara com a violência parece ser rotina, a juventude de áreas periféricas busca caminhos de fuga contra estes problemas. Sem tantos serviços de cidadania, educação, lazer e emprego, a rotina destes jovens torna-se ainda mais desafiadora. Mas eles mostram: há caminhos possíveis.
A reportagem foi produzida originalmente pelo Hiperlab UERN, o Laboratório de Narrativas Multimídia do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). O Alma Preta publicará uma série de reportagens produzida pelo grupo de estudantes da instituição de ensino superior.