“O movimento ‘agora vai ser assim’ é uma continuidade. Ele é parte de todo o processo e reivindicações do movimento negro do Brasil. É a convergência de pessoas negras se organizando para enfrentar as violências raciais neste país”. É dessa forma que o ativista Roger Cipó, fotógrafo, escritor, comunicador, influenciador digital e apresentador, define o protesto “agora vai ser assim”.
Depois do caso de racismo sofrido pelo humorista Eddy Jr, o movimento negro se reuniu na última quinta-feira (20) na portaria do prédio em que ele mora em busca de reparação à violência racista sofrida pelo artista negro por parte da aposentada Elizabeth Morrone e seu filho, no bairro da Barra Funda, zona oeste da cidade de São Paulo.
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“Agora vai ser assim. Toda vez que houver um episódio de racismo, nós vamos para cima”. Com essas palavras o advogado Ewerton Carvalho, que foi candidato a deputado estadual pelo PCdoB nessas eleições, puxou a manifestação em frente ao edifício onde o humorista Eddy Jr foi vítima.
O ato reuniu artistas, ativistas e políticos, que vestidos de preto gritaram palavras de ordem e se posicionaram afirmando que a partir de agora toda agressão racial será respondida com manifestações na rua e não mais apenas com notas através da internet. Para Roger Cipó, no entanto, o manifesto não para por aí: o objetivo é fazer frente incisiva aos casos de racismo no cotidiano nas mais diversas esferas a fim de interromper essa violência.
“Sabemos que o racismo não vai acabar. Temos plena convicção que isso não vai acabar tão cedo porque a sociedade foi construída e estruturada através do racismo. Mas o que a gente tá fazendo mais uma vez é tentar juntar o máximo de pessoas em torno de uma ação que interrompa e seja constrangedora. É legítima defesa”, salienta.
Na tarde desta terça-feira (24), a Justiça de São Paulo determinou que a aposentada Elisabeth Morrone mantenha distância de ao menos 300 metros de Eddy Jr, sob pena de prisão preventiva.
Apoio
Roger Cipó explica ainda que o movimento negro em geral tem se organizado em um tipo de vigilância sobre casos de racismo, para ter – além de enfrentamento – um acolhimento às vítimas de tais violências cotidianas. “Acolher. Se cuidar e se organizar”, diz ele.
O fotógrafo destaca que embora o movimento tenha se organizado em um ato pontual – que envolvia Eddy Jr – a ideia do “agora vai ser assim” é também mobilizar personalidades da mídia, em especial os artistas, para se juntarem à causa antirracista e se colocarem à disposição dessa luta também. “Não existem estrelas na luta antirracista. Existem agentes de enfrentamento a essas violências”, salienta o ativista.
“Isso é importante e é uma forma também de chamar a atenção. Esse país, construído muito em cima de performance midiática, pouco dá atenção quando pessoas negras estão reivindicando seu direito de ser. Chamar pessoas de uma relevância pública é usar o alcance delas para ampliar esse grito”, ressalta. “Só vamos conseguir interromper a violência juntos e organizados”, completa.
Manifesto
Depois do ato em defesa do humorista Eddy Jr, o movimento negro lançou um manifesto. Intitulado “Esse é um comunicado de homens negros organizados no Brasil”, o conteúdo publicado nas redes sociais é também um comunicado sobre o posicionamento que será tomado a partir de agora com relação aos casos de racismo que têm sido denunciados pela imprensa.
“Em resposta contínua a todo caos produzido e mantido por vocês, que atentam contra nossas vidas e o bem estar da nossa comunidade, agora vai ser assim”, diz o texto.
Em outro trecho, o manifesto ressalta que homens negros estão juntos para lutar de forma organizada contra o racismo: “Nós, homens negros organizados, nos organizaremos com nosso povo e estaremos em todo canto, para proteger nossa comunidade da covardia de vocês. Racistas covardes, trataremos vocês assim. Covardes”.
Roger Cipó explica que tanto o ato quanto o manifesto representam um recado do movimento “agora vai ser assim”, não só à vizinha de Eddy Jr, mas aos diversos casos de racismo que ocorrem diariamente.
“Entendendo como o racismo é letal para a nossa gente, é importante também que a gente se coloque à disposição de uma luta, pois estamos em um cenário de guerra em que, até agora, somente nós, os negros, estamos morrendo”, finaliza.
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