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O quanto a vacinação está distante de grande parte dos negros brasileiros?

Apesar de ser maioria entre a população brasileira, dados apontam que os negros são menos imunizados contra a Covid-19 que os brancos

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Quilombo dos Macacos/Reprodução

Vacinação está distante da realidade de grande parte da população negra

31 de março de 2021

 

Fundamental para o combate à pandemia, a vacinação ainda não faz parte da realidade de grande parte dos negros brasileiros. Segundo dados levantados pela Agência Pública, cerca de 28% dos brasileiros vacinados até agora são negros, enquanto brancos representam mais de 52% dos imunizados.

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Em ritmo lento no Brasil, a vacinação enfrenta problemas como a falta de dados sobre a população e o aumento no número de casos e da letalidade da Covid-19. A população mais pobre enfrenta ainda o aumento da insegurança alimentar, maior vulnerabilidade ao contágio da doença e a dificuldade no acesso à informação.

“Nada de novo. O racismo estrutura uma sociedade que exclui um segmento da população de seus direitos fundamentais”, aponta a médica Zezé Menezes, que também é ativista do movimento negro.

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“A vacinação foi organizada sem levar em consideração a organização etnico-racial do país. Ela se preocupa com faixas etárias e categorias de trabalho”, expõe Hilton Silva, membro do Grupo de Trabalho (GT) Racismo e Saúde da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e pós-graduado em Saúde, Ambiente e Sociedade.

Silva reforça que o Plano Nacional de Imunização, do governo federal, desconsidera a população que vive nas periferias e que tem mais dificuldade para acessar serviços públicos em geral. “Além de estabelecer critérios etários, deveriam estabelecer critérios socioeconômicos. Quem tem a maior taxa de mortalidade?”, indaga.

Segundo o estudo Raça e Saúde, homens pretos são maioria no índice de mortalidade por conta da Covid-19 no país, sendo que este grupo representa o dobro do que é formado por mulheres brancas. Na região Sul, negros são os que mais morrem, mesmo sendo minoria entre a população.

O índice  é sustentado por desigualdades que vão desde a renda per capita inferior a um terço do salário mínimo, até a falta de suporte financeiro para cumprir o isolamento social, como é recomendado.

Alterações no Plano Nacional de Imunização

O PNI da Covid-19 está em sua quinta versão, desde o anúncio realizado no início do ano. Somente nas últimas semanas a população quilombola foi colocada como uma das prioridades na vacinação e os territórios começaram a receber as primeiras doses. Há, no entanto, informações de que as doses enviadas pelo Ministério da Saúde são suficientes para imunizar menos de 10% dos quilombolas.

“A população quilombola é a mais desassistida de todas, muitos gestores municipais nem reconhecem a existência dessas pessoas. À medida que essa situação vai se tornando mais evidente, as autoridades precisam fazer as adaptações necessárias. É um processo de luta”, explica Hilton.

Leia também: Governo federal envia menos doses que o necessário para vacinação dos quilombolas

Para a médica Rita Borret, o Brasil falha ao não olhar para a questão racial e social para propor programas de vacinação universais, o que ontribui com as iniquidades raciais.Ela destaca a exposição de uma parcela da população, que não é reconhecida no plano de vacinação e se torna ainda mais vulnerável ao coronavírus.

“Os trabalhadores informais, os trabalhadores essenciais, as pessoas privadas de liberdade e em situação de rua estão mais sujeitos à contaminação e têm menos acesso à saúde”, exemplifica. 

Segundo Hilton. o governo deveria ainda se preparar para os efeitos pós-pandemia. “O que vai acontecer depois da pandemia? Quantas crianças ficarão sem comida por terem perdido os pais para a Covid-19? É preciso que o estado se prepare para lidar com isso e atenda as populações mais carentes e mais necessitadas desde já”, considera.

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