A diretora executiva do UNAIDS, Winnie Byanyima, alertou nesta segunda-feira (24) que o mundo corre o risco de retroceder aos piores momentos da pandemia de AIDS caso o financiamento internacional dos Estados Unidos não seja retomado. O corte repentino pode resultar em 6,3 milhões de mortes relacionadas ao HIV nos próximos quatro anos, um aumento de dez vezes em relação às projeções anteriores.
Os Estados Unidos são historicamente os maiores doadores de assistência humanitária global, mas o presidente Donald Trump, em seu segundo mandato, reduziu drasticamente o financiamento internacional, impactando diversos programas de saúde.
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“O corte abrupto de um apoio vital está causando um impacto devastador”, afirmou Byanyima durante uma coletiva de imprensa em Genebra. “É razoável que os EUA queiram reduzir o financiamento ao longo do tempo, mas a retirada repentina coloca milhões de vidas em risco.”
Segundo a diretora do UNAIDS, 27 países da África e da Ásia já enfrentam falta de profissionais de saúde, interrupções no fornecimento de diagnósticos e colapso de sistemas de vigilância.
Risco de aumento global de casos de AIDS
Byanyima destacou que, sem a reposição dos recursos, o avanço no combate ao HIV pode ser perdido. “Se o financiamento não for restabelecido, veremos a pandemia de AIDS ressurgindo globalmente, com crescimento na Europa Oriental e na América Latina”, afirmou.
Ela comparou a situação atual aos anos 1990 e 2000, quando a AIDS atingiu índices alarmantes de mortalidade.
PEPFAR e novas tecnologias de prevenção
A diretora do UNAIDS ressaltou que a liderança dos EUA no combate à AIDS foi uma das maiores iniciativas humanitárias em saúde global. O Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da AIDS (PEPFAR), criado há mais de 20 anos, salvou cerca de 26 milhões de vidas.
Byanyima também destacou os avanços na prevenção do HIV, mencionando um novo medicamento desenvolvido pela farmacêutica Gilead, chamado lenacapavir, que apresentou 100% de eficácia em testes clínicos.
Se aprovado para distribuição global, o lenacapavir pode ser administrado como uma injeção anual, tornando-se uma alternativa acessível para países de baixa renda. “Isso seria quase como uma vacina contra a gripe. Se distribuído de forma ampla, poderíamos reduzir novas infecções a quase zero e vislumbrar o fim da AIDS”, afirmou.
Apelo ao governo dos EUA
Byanyima fez um apelo direto ao presidente Donald Trump, argumentando que a retomada do financiamento não apenas salvaria vidas, mas também beneficiaria a economia norte-americana. Segundo ela, o investimento na produção do lenacapavir pode gerar empregos nos EUA e ao mesmo tempo fortalecer o combate ao HIV globalmente.
Ela sugeriu que, caso o PEPFAR seja reativado, o UNAIDS poderia trabalhar em parceria com os EUA e outros doadores para ajudar países de baixa renda a se tornarem autossuficientes na luta contra o HIV.