Durante o mês de agosto de 2024, a Operação Resgate IV, uma ação conjunta envolvendo seis instituições federais, libertou 593 pessoas submetidas a trabalho escravo em 15 estados e no Distrito Federal. Este número representa um aumento de 11,65% em relação ao ano anterior, quando 532 pessoas foram resgatadas. A operação contou com a participação de mais de 23 equipes de fiscalização que realizaram 130 inspeções.
Minas Gerais liderou o número de resgates, com 291 trabalhadores retirados de condições precárias, seguido por São Paulo (143), Distrito Federal (29), Pernambuco (91) e Mato Grosso do Sul (13). A maioria dos trabalhadores resgatados (72%) atuava na agropecuária, enquanto 17% estavam na indústria e 11% no comércio e serviços.
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Entre as atividades rurais com maior número de vítimas de trabalho escravo, destaca-se o cultivo de cebola, horticultura, café e alho. No ambiente urbano, o setor de fabricação de álcool, administração de obras e até atividades relacionadas à psicologia e psicanálise foram alvo de inspeções. Em um dos casos, dois trabalhadores domésticos foram resgatados de condições análogas à escravidão.
As equipes de fiscalização também encontraram 18 crianças e adolescentes submetidos a trabalho infantil, sendo que 16 estavam em condições semelhantes à escravidão. Essas inspeções ocorreram no Amapá, Distrito Federal, Mato Grosso e Minas Gerais.
De acordo com o coordenador geral de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Análogo ao de Escravo e Tráfico de Pessoas, André Roston, os trabalhadores resgatados já receberam aproximadamente R$ 1,91 milhão em verbas rescisórias, com o valor total estimado em R$ 3,46 milhões, uma vez que muitos pagamentos ainda estão em negociação.
Casos emblemáticos chamaram atenção, como o resgate de 13 paraguaios submetidos a servidão por dívida no Mato Grosso do Sul e de 18 trabalhadores em uma clínica para dependentes químicos em Pernambuco, onde os internos realizavam trabalho forçado. Em Minas Gerais, 59 trabalhadores, incluindo menores de idade, foram resgatados de propriedades rurais onde colhiam alho em condições degradantes.
A operação também registrou o resgate de uma idosa de 94 anos em Mato Grosso, a pessoa mais idosa já resgatada no Brasil. Ela trabalhou por 64 anos sem receber salário e sem oportunidades de educação ou constituição de família. A idosa agora vive na casa onde morava, com despesas pagas pela família da empregadora, além de receber um salário mínimo por mês.
Em São Paulo, uma empregada doméstica de 52 anos foi retirada de condições análogas à escravidão após trabalhar compulsoriamente desde os 11 anos. Ela vivia sem férias e recebia apenas R$ 500 por mês, além de ter sua jornada de trabalho exaustiva relatada como “de segunda a sábado, das 7h às 21h”. Como parte do acordo, a família se comprometeu a comprar uma casa para a trabalhadora e pagar uma indenização de R$ 50 mil.
Embora os dados finais da Operação Resgate IV ainda estejam sendo consolidados, o Ministério do Trabalho afirma que há uma preocupação com o aumento das denúncias e casos de trabalho escravo doméstico identificados.