O domingo de 8 de agosto será o segundo Dia dos Pais durante a pandemia da Covid-19, decretada pela Organização Mundial da Saúde em março de 2020. Serão 515 dias desde que o anúncio feito em Genebra, na Suiça, por Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, mudou diversos hábitos da população em todo o planeta.
No Brasil, muitos homens negros também viveram pela primeira vez a experiência da paternidade em meio às incertezas decorrentes da pandemia.
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O barbeiro Marcos Vinicius de Souza Andrade da Silva, 31 anos, relembra quais foram as primeiras preocupações por conta do nascimento do filho Rakin. “O primeiro choque foi em relação à questão financeira, para tentar entender se daria conta de sustentar uma nova vida, se teria emprego, de como vão ficariam as coisas. Depois, começaram as preocupações mais gerais, como violência na hora do parto e outras violências que muitas mulheres negras passam. Eu queria que fosse uma experiência bacana para ela”, conta, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
O parto, por conta da pandemia, não foi exatamente como ele sempre desejou. “O acesso foi bastante restrito. Foi eu, minha esposa e os médicos. Não teve avós visitando, não deu para tirar fotos, filmar. Foi traumático”, lembra o pai de primeira viagem, que mora na Zona Leste de São Paulo.
Nos primeiros meses, após o parto, Marcos Vinicius procurou ajuda psicológica para controlar as preocupações. “Uma criança preta chegando no mundo me fez repensar muitas coisas. Por exemplo, mostrar coisas educativas que afirmam a nossa condição de homens pretos no mundo, tirar dele essa pressão de ser o provedor único da casa, centralizando os problemas. Foi preciso muitas sessões de terapia para acertar tudo isso”, comenta.
No caso do Allan do Prado, de 28 anos, morador de Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, o risco de contágio foi um fantasma que o acompanhou durante a gestação da esposa. “Foi um período muito difícil para todos nós, eu tinha que sair para o trabalho e o medo de trazer o vírus para casa era constante”, relata.
A filha Manoela Vitória nasceu prematura, no oitavo mês de gestação, no dia 2 de setembro de 2020. Durante a gravidez, a esposa Luciana ficou 25 dias internada na casa da gestante no Hospital e Maternidade Cachoeirinha, na Zona Norte da capital. “As visitas eram muito curtas. Só 20 minutos. A gente mal tinha tempo de conversar. Foi bastante difícil”, comenta Prado.
União para superar as dificuldades
A família da pequena Manoela se manteve unida para conseguir superar as dificuldades. “As expectativas são as melhores, que ela cresça sabendo da luta que passamos e que daqui para frente possamos aproveitar melhor cada momento que deixamos para trás”, prospera o pai.
O professor de história, Paulo Henrique Borges, 30 anos, teve durante a pandemia a filha Ayomide Loango, há exatamente um mês. “Teve toda a insegurança do começo, mas foi um convívio muito bom e com bastante entendimento. Só temos que agradecer aos ancestrais por ter corrido tudo bem no parto, apesar de ter sido às pressas”, avalia.
Durante os meses de gestação da mulher Rosana Mendes, Borges se preocupou com a preservação da história das duas famílias. O nome Ayomide significa “a felicidade chegou”. “Muitos de nós, homens pretos, passamos pela experiência da ausência da paternidade. Me preocupei muito em ser um pai presente, acompanhar as consultas e compartilhar todos os momentos”, disse o professor que mora em Araraquara, no interior do estado paulista.
O nascimento da filha foi o marcador de diversas mudanças de hábitos do professor. “Comecei a cuidar mais da minha saúde, um cuidado maior com a minha vida. Parei de fumar e estou feliz por isso. Eu vou para o trabalho de moto e tomo muito mais cuidado porque sei que tem a minha esposa e a minha filha me esperando”, conclui.
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