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Pandemia contribui para aumento de busca por assistência psicológica

Entre pessoas negras o aumento da procura por auxílio esbarra em problemas estruturais
Imagem mostra homem negro em consulta psicológica. Pandemia tem aumento de busca por assistência psicológica.

Imagem mostra homem negro em consulta psicológica. Pandemia tem aumento de busca por assistência psicológica.

— Alex Green/Pexels

23 de setembro de 2022

Pesquisa realizada pela FSB, encomendada pelo SulAmérica, mostra que a saúde emocional da população brasileira está “na UTI” e deve ser tornar uma preocupação cada vez maior. A pandemia contribui para aumento de busca por assistência psicológica. Entre as pessoas negras, a preocupação é ainda maior, uma vez que de acordo com levantamento do Ministério da Saúde, a probalidade de suicídios entre jovens negros foi maior do que de brancos, entre 2012 e 2016. Apesar da necessidade, a procura entre pessoas negras é tímida, devido a fatores econômicos e sociais.

De acordo com o estudo da FSB, 60% dos entrevistados que se consultam começaram a fazer terapia depois do início da pandemia. Por outro lado, a perspectiva desse dado em relação à população negra é mínima. É o que explica a psicóloga Daiana Nascimento ao apontar que 75% da população brasileira mais pobre é negra, o que dificulta o acesso ao tratamento.

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A Alma Preta Jornalismo conversou com a estudante de enfermagem Luy Anaya, que começou a fazer a terapia durante a pandemia. Ela relata que foi um processo bem difícil aceitar a sua necessidade por ajuda psicológica.

“Na pandemia foi perceptível que eu não estava sozinha. Logo busquei tratamento após entender um pouco sobre esse medo que permeia muitos na sociedade e por entender que sem me cuidar eu não conseguiria alcançar metade das minhas metas, tanto na vida profissional, como na pessoal”, conta.

O estigma a respeito do tratamento terapêutico ainda está presente na sociedade e reflete na ausência de priorização da população. De acordo com o levantamento, a saúde financeira é a que mais preocupa os brasileiros. A pesquisa revela que 4 em cada 10 brasileiros estão mais preocupados com a saúde financeira do que com as saúdes física e emocional.

Para a psicóloga Daiana, entre as pessoas negras, o descrédito na busca por saúde mental está relacionado com diversos fatores. Dentre eles existe a crença que se perpetua culturalmente, de que “só quem precisa passar por atendimento psicológico são pessoas loucas”. Além disso, ela ressalta que o valor médio de uma única consulta particular para atendimento psicológico e a dificuldade de encontrar profissionais negros, em que a pessoa se sinta representada no campo da saúde mental, inviabilizam o acesso à população negra.

Para Luy Anaya, há muita influência histórica na busca das pessoas negras por terapia, uma vez que só tinha acesso a esse recurso pessoas com certo padrão social. “Devido a isso, criamos outros métodos de lidar com as questões psicológicas sem necessitar de um profissional e isso perpetua até hoje.”

A estudante ainda comenta que dentro de seu círculo de convivência algumas pessoas também buscaram auxílio durante o período da pandemia e que outras só tomaram consciência da necessidade, mas não buscaram se consultar ou retornar. “Outras usaram e usam o esporte como forma de terapia”, pontua.

Daiana, quando perguntada sobre o papel que a sociedade ou o poder público podem assumir nesse distanciamento, comenta que a disponibilidade de atendimento em saúde mental ainda é muito escassa no serviço público, e quando existe, a divulgação e acesso são restritos. Para ela, “uma ampla campanha, assim como são feitas com as vacinas, possibilitaria a disseminação da conscientização da importância sobre a saúde mental.”

Essa reportagem faz parte da campanha #BemAmarelo:

O Instituto SulAmérica promove o movimento #BemAmarelo, uma mobilização social pelo cuidado da saúde emocional como forma de prevenção ao suicídio – não apenas no Setembro Amarelo, mas em todos os meses do ano. Reforçando a mensagem de que saúde emocional importa e é um direito de todas as pessoas, a campanha oferecerá para quem mais precisa o acesso gratuito por 6 meses a tele consultas psicológicas e conteúdos educativos.

Para saber mais, ouça os dois episódios especiais do Papo Preto sobre saúde mental, em parceria com a SulAmérica:

Papo Preto #102

Neste episódio, a jornalista Stela Diogo recebe Monica Santana, psicóloga clínica e mestre em Psicologia Social que atua no desenvolvimento socioemocional, principalmente da população negra e periférica. Elas discutem a importância do cuidado com a saúde emocional como forma de prevenção ao suicídio e como entender o cuidado da mente como aliado aos cuidados do corpo em nossa existência.

Papo Preto #114

A jornalista Stela Diogo conversa com Nilson Lucas Gabriel, psicólogo, professor e pesquisador do psiquiatra e filósofo Franz Fanon, que discute em sua obra as consequências do racismo e do colonialismo no âmbito psicológico.

Leia também: Setembro Amarelo e a saúde mental das mulheres negras

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  • A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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