Pesquisa realizada pela FSB, encomendada pelo SulAmérica, mostra que a saúde emocional da população brasileira está “na UTI” e deve ser tornar uma preocupação cada vez maior. A pandemia contribui para aumento de busca por assistência psicológica. Entre as pessoas negras, a preocupação é ainda maior, uma vez que de acordo com levantamento do Ministério da Saúde, a probalidade de suicídios entre jovens negros foi maior do que de brancos, entre 2012 e 2016. Apesar da necessidade, a procura entre pessoas negras é tímida, devido a fatores econômicos e sociais.
De acordo com o estudo da FSB, 60% dos entrevistados que se consultam começaram a fazer terapia depois do início da pandemia. Por outro lado, a perspectiva desse dado em relação à população negra é mínima. É o que explica a psicóloga Daiana Nascimento ao apontar que 75% da população brasileira mais pobre é negra, o que dificulta o acesso ao tratamento.
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A Alma Preta Jornalismo conversou com a estudante de enfermagem Luy Anaya, que começou a fazer a terapia durante a pandemia. Ela relata que foi um processo bem difícil aceitar a sua necessidade por ajuda psicológica.
“Na pandemia foi perceptível que eu não estava sozinha. Logo busquei tratamento após entender um pouco sobre esse medo que permeia muitos na sociedade e por entender que sem me cuidar eu não conseguiria alcançar metade das minhas metas, tanto na vida profissional, como na pessoal”, conta.
O estigma a respeito do tratamento terapêutico ainda está presente na sociedade e reflete na ausência de priorização da população. De acordo com o levantamento, a saúde financeira é a que mais preocupa os brasileiros. A pesquisa revela que 4 em cada 10 brasileiros estão mais preocupados com a saúde financeira do que com as saúdes física e emocional.
Para a psicóloga Daiana, entre as pessoas negras, o descrédito na busca por saúde mental está relacionado com diversos fatores. Dentre eles existe a crença que se perpetua culturalmente, de que “só quem precisa passar por atendimento psicológico são pessoas loucas”. Além disso, ela ressalta que o valor médio de uma única consulta particular para atendimento psicológico e a dificuldade de encontrar profissionais negros, em que a pessoa se sinta representada no campo da saúde mental, inviabilizam o acesso à população negra.
Para Luy Anaya, há muita influência histórica na busca das pessoas negras por terapia, uma vez que só tinha acesso a esse recurso pessoas com certo padrão social. “Devido a isso, criamos outros métodos de lidar com as questões psicológicas sem necessitar de um profissional e isso perpetua até hoje.”
A estudante ainda comenta que dentro de seu círculo de convivência algumas pessoas também buscaram auxílio durante o período da pandemia e que outras só tomaram consciência da necessidade, mas não buscaram se consultar ou retornar. “Outras usaram e usam o esporte como forma de terapia”, pontua.
Daiana, quando perguntada sobre o papel que a sociedade ou o poder público podem assumir nesse distanciamento, comenta que a disponibilidade de atendimento em saúde mental ainda é muito escassa no serviço público, e quando existe, a divulgação e acesso são restritos. Para ela, “uma ampla campanha, assim como são feitas com as vacinas, possibilitaria a disseminação da conscientização da importância sobre a saúde mental.”
Essa reportagem faz parte da campanha #BemAmarelo:
O Instituto SulAmérica promove o movimento #BemAmarelo, uma mobilização social pelo cuidado da saúde emocional como forma de prevenção ao suicídio – não apenas no Setembro Amarelo, mas em todos os meses do ano. Reforçando a mensagem de que saúde emocional importa e é um direito de todas as pessoas, a campanha oferecerá para quem mais precisa o acesso gratuito por 6 meses a tele consultas psicológicas e conteúdos educativos.
Para saber mais, ouça os dois episódios especiais do Papo Preto sobre saúde mental, em parceria com a SulAmérica:
Papo Preto #102
Neste episódio, a jornalista Stela Diogo recebe Monica Santana, psicóloga clínica e mestre em Psicologia Social que atua no desenvolvimento socioemocional, principalmente da população negra e periférica. Elas discutem a importância do cuidado com a saúde emocional como forma de prevenção ao suicídio e como entender o cuidado da mente como aliado aos cuidados do corpo em nossa existência.
Papo Preto #114
A jornalista Stela Diogo conversa com Nilson Lucas Gabriel, psicólogo, professor e pesquisador do psiquiatra e filósofo Franz Fanon, que discute em sua obra as consequências do racismo e do colonialismo no âmbito psicológico.
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